Plural dos sentidos
Um dia, numa aula, a nossa professora
ensinou-nos que o vento é uma simples massa de ar
e eu acreditei, se a professora o diz...
Mas não compreeendi e pus-me a cogitar
De volta para a aldeia, onde ninguém estudou,
resolvi perguntar.
E diz o Zé Moleiro:- O vento é pó de trigo.
São velas a rodar. O vento é um amigo.
O Luís Pescador gritou sem se conter:
- O vento faz as ondas e fez meu pai morrer!
O vento é assassino. O vento faz doer.
- Nem sempre - lembrei eu. Levanta os papagaios
e fá-los ser estrelas num céu azul de sol.
E gemeu a velhinha, num canto do portal:
- O vento é dor nos ossos...
- É roupa no varal sequinha num instante
- afirmou a minha mãe
correndo atarefada, entre a casa e o quintal.
Mas logo replicou o velho jardineiro:
- O vento meus amigos, destruiu-me as roseiras
e fez cair as flores das minhas trepadeiras.
O vento é muito mau.
E o poeta sorriu.
- o vento é beleza. As searas são o mar,
só o vento as faz mover no campo a ondular.
Então sentei-me à mesa e estudei a lição.
Já sei o que é o vento:
É dor, é medo, é pão.
É beleza e canção.
É a morte no mar.
E, por trás disso tudo,
é uma massa de ar.
E eu disse cá para mim que a minha professora
com tudo o que estudou
não me soube ensinar porque nunca escutou.
(Autor desconhecido)
Com as saudações poéticas, Benilde.