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Magistério6971

Os autores deste jornal virtual apresentam a todos os visitantes os seus mais cordiais cumprimentos. Será bem-vindo quem vier por bem.

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Pela ruralidade - CXXI("A instrucção primária em Sinfães")

Em 1898, no semanário Educação Nacional, o professor Carlos Soares escrevia sobre “a instrucção primaria em Sinfães”

 

"Sinfães, é sem duvida, um dos melhores concelhos do districto de Vizeu e, não só por isso, mas também porque está desprovido dos mais rudimentares benefícios públicos, esquecido quasi, devia, comtudo, possuir o melhor de todos os até hoje imaginados e conhecidos – a instrucção primaria, pelo menos, organizada regularmente.

A exemplo doutros concelhos tem algumas escolas, não as suficientes para o numero de analfabetos diminuir, e essas não obstante estarem legalmente providas, não possuem, com excepção de duas, Moimenta e Tarouquella, casas d´aula; têm, com pesar o manifestamos, verdadeiros focos de infecção, sem capacidade, sem luz, sem ar, e completamente desprovidas de mobiliario.

A própria casa d´aula do sexo feminino de Sinfães (sede do concelho) é de taes dimensões, (cerca de 18 metros quadrados) e tanta luz possue que a professora, se o ceu estiver nublado, tem de acender candieiros para ella e suas alumnas verem, ou hade, então, para se não incomodar muito, mandar as creanças embora e isto, numa cabeça de comarca, que já teve escola complementar!

Se o inspector vier visitar as escolas, e isto acontece em todas as do concelho, e o professor queira usar da delicadeza de lhe oferecer a sua cadeira tem de ficar de pé ou sentar-se no soalho!

Sabemos de fonte limpa que a professora da sede do concelho, como os demais colegas do concelho, innumeras vezes tem officiado, suplicando mesmo providências para o estado lastimoso em que se encontram as suas escolas, mas isso, apesar de ser tudo tomado em consideração pelas respectivas auctoridades, nunca, até hoje, serviu para se providenciar, e crêmos, infelizmente, que emquanto assim correrem os negócios da instrucção há-de suceder sempre o mesmo!

Em casas assim, desprovidas do mais essencial, pode-se exigir do professor bons serviços?

Nunca. Embora elle se sacrifique, como o faz todos os dias, não póde colher da sua santa missão os fructos desejados.

Póde martyrisar-se mesmo, mas enquanto não tiver quem promova a frequência escolar e lhe proporcione os confortos necessários – bons edifícios escolares e respectivas mobílias, elle esmorecerá, com o decorrer dos tempos, sem vêr das suas aptidões os resultados preconizados!

Este concelho ainda não está, felizmente, com a nota de ter sido inspeccionado de correria , como temos notado em outros, e por isso antes que aqui venha o encarregado de tal serviço, pede-nos a consciência que tornemos bem conhecido o estado degradante em que se encontram quasi todas as suas escolas, afim de que esse magistrado saiba a tempo o meio por que pode ser honrado, digno e justiceiro na sua missão.

Para isso, se as columnas da Educação Nacional nos derem a honra de publicidade d´estas despretensiosas linhas, em uma serie de artigos, procuraremos, quanto possível com os melhores dados, fornecer notas exactas do estado da instrucção neste concelho e as causas por que ella não tem progredido."

 

 

  PS: O professor Carlos Soares foi presidente da C.M.Cinfães nos anos trinta do século passado. Já por aqui falei nele na abordagem que fez sobre as escolas das freguesias de Cinfães. O povo de Fornelos não o esqueceu pela chegada da estrada em macadame, na altura uma abertura civilizacional.

 

 

 

     Ant. Gonç. (antonio)