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Magistério6971

Os autores deste jornal virtual apresentam a todos os visitantes os seus mais cordiais cumprimentos. Será bem-vindo quem vier por bem.

Magistério6971

Os autores deste jornal virtual apresentam a todos os visitantes os seus mais cordiais cumprimentos. Será bem-vindo quem vier por bem.

Olhar o Porto - CLI(loja das cordas)

Há uma minúscula casa comercial tradicional de venda de cordoaria que fica na Rua Mouzinho da Silveira debaixo da entrada em rampa da rua do Souto, mal se dá por ela.

Precisava de um cordão, levei o velho de amostra, para um estendal tipo ramada. Fui lá por ser do meu conhecimento, mas desta vez estava  só a esposa do patrão. A troco de conversa sobre um Santo António, já bastante desfigurado, que está num nicho no interior da loja, um pouco escondido pelos rolos das cordas, disse-me a senhora que o santo era muito antigo, tão antigo como a casa comercial com cerca de 100 anos.

Era este comércio do sogro do patrão do meu marido que já aqui está há cinquenta anos, disse-me a lojista. Em pé de conversa atalhei, apetece-me dizer que esta casa comercial é das  mais antigas da rua!... Sim, é  das mais antigas, disse-me a interlocutora.

E depois fiquei a matutar na resistência desta casa, quando se assiste aqui e por todo o lado ao abre e fecha que se faz tarde. Mesmo ao lado loja de chinocas e rua abaixo, rua acima, mais do mesmo e do outro lado da rua idem aspas,  aspas, mas isto já não é notícia, comércio chinês, paquitanês, indiano, na baixa assentou arraiais.

 

  (antonio)

Por uma nota de vinte

No meu primeiro ano de trabalho da vida activa fui colocado numa escola à beira do jardim do Passeio Alegre, na Foz do Douro, na confluência do Douro com o mar, mesmo à ilharga da praia das Pastoras. O edifício ainda lá está mas com outras funções, está bem tratado exteriormente, diria um brinquinho, mas no miolo nem por isso segundo me informaram.

Quando lá cheguei foi-me entregue uma 4ª classe, como na altura se dizia, só rapazes, a coeducação veio depois. Era uma turma heterogénea, usando uma terminologia do senso comum, diria agora à distância liberto das funções docentes, uns eram duros como calhaus, outros espertos que nem águias. Como ainda vinha com ideias frescas do curso acabado de tirar lá fui dando o meu melhor para no fim do ano propor a exame os capazes. Quando essa altura estava a chegar, certo dia no fim de Maio senti algum desconforto com uma avozinha que zelava pela educação do netinho. A senhora dirigiu-se-me com a melhor das intenções suplicando-me que propusesse o netinho a exame, e enquanto expunha as suas razões falando-me ao coração tentou meter-me na mão uma nota de vinte paus, que não aceitei, dizendo à senhora que o seu netinho ainda não tinha atingido os saberes para ir a exame da 4ª classe, na altura os exames eram feitos com toda a pompa e circunstância na escola do bairro da Fonte da Moura. (Só para termo de comparação em relação aos 20#00, na altura um JN custava 1#50, agora é só fazer as contas, como dizia Guterres).

Este caso tocou-me de certa maneira, não pela alegada oferta monetária, mas sim pelo gesto da avozinha que queria o melhor, na óptica dela, para o rapazinho que ajudava a criar.

A vida também é feita de pequenas estórias, esta é mais uma.

 

 

  Fiquem bem, Ant. Gonç. (antonio)

Pela ruralidade - CXV(No fim da romaria)

Último domingo do mês. Tinha dois programas e com pena minha tive de abdicar de um. A visita à cidade do Porto, mais propriamente na freguesia de Lordelo ciceronizada pelo historiador Germano Silva, um comunicador que sabe da cidade que até chateia, foi preterida pela ida à festa anual na terra das minhas raízes - romaria do Sr. dos Enfermos que se realiza sempre no dia de Pentecostes, em Macieira, freguesia de Fornelos, Cinfães.

Não vou aqui falar da romaria que tem um figurino idêntico a outras que se realizam em todas as terras. Ornamentações, foguetório, carroceis, cavacas e cavaquinhos, roscas e rosquilhos etc. e claro a santa missa campal com um sermão em bom vozeirão, a ouvir em todo o arraial e arredores, para pôr em ordem a fé do povinho.

Então do que vou falar?!...

Quando cheguei à santa terrinha, cerca das 10 horas, já estava o cavalo no quinteiro do vizinho com os arreios no lombo e preso pela corda a um canto. Quem era o cavaleiro não me interessou, palpitou-me que era alguém da serra que veio à festa, mas ao fim da tarde, cerca das 19 horas, chega junto do animal uma senhora idosa que vinha dos lados da romaria. Eu como estava por ali não resisti a ver a cena e meti conversa, (no meio rural meter conversa com um desconhecido é natural).

- Então a senhora deixa aqui o animal todo o dia sem uma faixa de palha?!...

- Ele já está habituado. Quando chegar a casa vai comer, respondeu-me a idosa.

Entretanto a senhora traz o cavalo pela rédea para junto de uma escaleira e monta com uma leveza que a mim e a outros que por ali estavam nos deixou boquiabertos. Aqui não resisti e perguntei-lhe:

- A senhora que idade tem? (Se  estivesse em presença de uma dondocas não colocaria a questão, as pessoas na aldeia são mais naturais).

- 75 anos, vou embora para Cristelo que fica acima de Vilar de Arca, pertence à freguesia de Piães, concelho de Cinfães. E acrescenta, não posso andar de carro, enjoo, então venho no cavalo.

-  Até ao ano senhores, despediu-se a madura fresca cavaleira, picando o cavalo que a trote desapareceu na primeira encruzilhada do caminho!

 

E agora os eventuais leitores deste arrazoado acreditem se quiserem. Do citado lugar de Cristelo à romaria da minha terra é seguramente mais de uma hora em cima da montada e no regresso igual tempo, por estrada e caminhos rurais. Fantástico!...

 

  Ant. Gonç. (antonio)

Olhar o Porto - CXIII (O dia das festas)

15 de Agosto. Vamos esquecer o adágio popular que o primeiro dia de Agosto é o primeiro dia de Inverno. É um dia pivot, há festas a dar com um pau por todo o lado. É também um marco, para uns do regresso de férias e para outros o começo das mesmas. E hoje quando se fala em férias tem-se em mente pôr o rabo ao laréu lá pelo Algarve, para quem pode. Os menos afortunados com as eventuais sobras do subsídio de férias vão ali para a praia das Pastoras, do Homem do Leme ou do Molhe na Foz, a levar com as nortadas nas trombas.

Hoje meti pés a caminho, ao p´ra lá e ao p´ra cá e fui à Serra, recordar memórias do meu subconsciente. Andava já com uma fisgada há uns anos, mas não tinha tido oportunidade de pôr a escrita em dia. Todos os anos se vem realizando uma festa que era eminentemente rural embora plantada em meio citadino – Serra do Pilar. Testar como estavam as coisas, foi o meu lema, a transformação dos costumes são inevitáveis bem como os protagonistas desses locais de romaria.

Já não fui encontrar lá as alfaias agrícolas que tinha memorizado há algumas décadas. Que diabo, agricultura vai no Batalha, ainda estavas à espera, antonio, de ver lá escadas de vários passais, algumas de abrir, ancinhos, manguais, rasas, rasoiras, quartas, pipos e pipinhas, enxadas e sachos?!...  Claro que não. Mas não desperdicei o tempo pois aquela vista soberba lá de cima a "olhar o Porto", encheu-me as medidas. 

 

   (antonio)

Pela ruralidade - XCVI ( O saca-rabos)

Ginetas, gatos bravos, linces, toirões, esquilos e de porte mais avantajado os javalis, já eram do meu conhecimento. Têm geralmente hábitos nocturnos, os esquilos não, para fazerem das suas durante a calma noctívaga. São principalmente estes últimos, os javardos, que no meu tempo de escola ninguém conhecia pois não existiam no território das minhas raízes, os maiores devastadores das culturas, mas isso pouco interessa aos superiores interesses defensores da fauna selvagem. Ai de quem lhes faça mal!... Andam de noite muitos quilómetros sempre a foçar na terra e então se derem em campos de cultivo é uma razia quando vão acompanhados da prole.

Os sagazes esquilos de pequeno porte também são agora por lá vistos. Olhar vivo e cauda arqueada sobre o dorso com a ponta virada para o céu. Alimentam-se sobretudo de sementes e são vistos empoleirados nos pinheiros à cata dos pinhões. Há dias lá na terra tive conhecimentos que também deitam a mão aos pintos acabados de nascer.

E os saca-rabos? Estes não conhecia, não. Dia 30 de Julho fui com a família pôr os pés debaixo da mesa num restaurante que ganhou nome no Marco de Canavezes, junto ao Rio Tâmega, a dois passos das inoperacionais termas de Canavezes. Anho assado à maneira, pois claro e um tinto da parreira. No canto da sala um animal embalsamado despertou-me a atenção e não descansei enquanto a minha curiosidade não ficou satisfeita. Será um furão, dizia um da roda familiar, outro alvitrava um texugo. Mas eu estava de pé atrás, aqueles dentes pontiagudos tal como uma serra, cheirava-me que fosse outro animal que à partida não estava a apanhar. Um saca-rabos disse-me a pessoa que nos atendeu, existe mais lá para o Alentejo e é um grande predador de coelhos. Os caçadores devem-lhe ter  cá um azedume, fiquei eu  a matutar com os meus botões!... Afinal todos têm direito à vida, uns mais que outros!...

 

 

  (antonio)

Olhar o Porto - CIII (Um Porto triste)

De quando em vez gosto de dar uma saltada até ao coração da cidade. Digo lá em casa que vou tomar ar o que parece uma atitude perversa! Faço-o normalmente a penantes, sem pressas para sentir o pulso à cidade.

Subo a tristíssima rua do Freixo, que é mesmo uma dor de alma, o casario a cair aos bocados, um esqueleto duma fábrica à espera de se espatifar em cima da rua a provocar uma desgraça e como se isto não bastasse o piso está cheio de buracos e irregularidades. E não há quem olhe por estas situações, agora até colocaram um vidrão no passeio de tal modo que os peões têm de descer à faixa de rodagem. Esta rua é-me familiar, por ela passei centenas de vezes durante a minha actividade profissional.

Mais adiante os castanheiros da Índia no Largo Soares dos Reis e as tílias da Av. Rodrigues de Freitas já estão com as copas verdejantes, a Primavera aí está em força com estes dias solarengos. Aqui e ali uma ou outra magnólia mas já perderam as flores.

Cheguei aos Aliados e à Praça da Liberdade e aqui constatei o título que encimei neste post “um Porto triste”. As várias esplanadas às moscas, nem o belo sol convida o pessoal abancar e beber umas cervejolas, estará numa de retranca a ver o que isto vai dar com o FMI à perna!... Só a Rua de Santa Catarina mantém algum frenesim de gente que anda p´ra  cá e p´ra  lá onde também fiz monte. Fui à Papélia comprar uma folha de papiro para fazer umas engenhocas e a seguir regressei a casa e fui anotando o pitoresco e os podres da cidade.

 

 

  (antonio)

Olhar o Porto - C (Esplanadas?)

E agora Rui Rio?

Aqui há uns tempos tinha passado pela Praça Parada Leitão, aos Leões, e observei que estavam a montar estruturas pesadas em frente ao carismático Piolho. Na altura fiquei na minha, o que é que ali irá sair?... Obra acabada, segundo a Câmara do Porto são várias esplanadas em frente ao citado café e a outros estabelecimentos do género que ali proliferam. Agora segundo o que tem vindo na imprensa, para o  IPPAR aquilo não são esplanadas porque têm um cariz construtivo e por conseguinte não aceita o que foi feito.

O imbróglio está lançado, já com a história do túnel de Ceuta aconteceu a mesma brincadeira. Parece que o IPPAR não vai muito na conversa do Presidente da Câmara do Porto e então há que chatear. Claro que aquelas sólidas estruturas não irão abaixo como não foi o túnel, o mesmo não aconteceria se o cidadão anónimo construísse uma marquise em casas da CMP.

E agora a minha opinião sobre as citadas “esplanadas”. Concordo com o parecer do IPPAR e  não gosto da ideia da CMP. Para mim esplanadas são amovíveis quando as condições atmosféricas são adversas, ali não é o caso. Acho muito bem que se queira implementar as esplanadas pelas praças da cidade, é uma maneira de atrair o turismo também, mas não daquela maneira, em que o espaço público foi usurpado em definitivo (aqui estou a lembrar-me de aberrações que se vêm pela cidade, como construir edifícios sobre ruas).

Vamos ver em que param as modas, mas neste caso penso que não vão trabalhar as bulldozers!...

 

(Ao titular este post apercebo-me que já lá vão cem sobre o Porto. Têm sido pontos de vista sobre a cidade, ora com aspectos informativos ora com críticas, como acontece com o post de hoje, sobre coisas de que não gostamos. Têm sido para mim uma mais valia de conhecimentos sobre a cidade do Porto.)

 

  Fiquem bem, (antonio)

Olhar o Porto - XCVI (Que linda era a Praça!...)

Aos domingos fico sempre à cuca para ver o que nos traz no JN Germano Silva sobre o Porto.

Hoje fala-nos do coração da urbe com a fisionomia dos princípios do século XX. O desenvolvimento histórico que faz da Praça Nova precursora da actual Praça da Liberdade é emoldurado com uma imagem soberba legendada "a antiga Câmara com o Porto lá no alto. Que linda era a Praça!..."

Na verdade comungamos em absoluto deste aforismo da beleza daquele espaço que nos contagia, e curvamo-nos perante os arquitectos, mestres escultores e calceteiros daquela época.

A estátua do "Porto" que estava no alto da frontaria da antiga Câmara é longamente dissecada nesta crónica.

Germano Silva que é sempre cauteloso nas críticas vivas lá vai dizendo que não acha nenhuma piada à posição da estátua do "Porto", colocada há alguns anos de costas para a cidade, junto à Casa dos 24 "moderníssima caixa de granito" como irónicamente refere. Mas isto é a tal história, como foi riscada por um batente de arquitectura, Fernando Távora!...

Mas o melhor mesmo para quem gostar destas coisas é cuscar no JN de hoje. Bem tentei trazer para aqui um link da crónica do JN mas não consegui possívelmente por aselhice minha.

 

  Fiquem bem, antonio

Pela ruralidade - LVII (A velha cozinha)

 

Ir ao baú das memórias e puxar cá p´ra fora pedaços da nossa história é sempre um exercício salutar.

Há dias numa entrevista ao mais rico de Portugal era dito que o Sr. Américo Amorim que pelos vistos veio do nada, andou de tamancos. Isto dito assim como uma mais valia de quem subiu na vida a pulso deixa muita gente de boca aberta.  Outros trabalham que se fartam e não sobem na vida assim, vá-se lá saber porquê!...

A imagem é da cozinha velha, agora deserta, onde nos primórdios de criançada ajudei a defumar as chouriças e os salpicões, as primeiras penduradas nas varas e os outros no sarilho, o contrário também é válido. Foi também nesta vetusta cozinha que à luz da candeia aprendi as primeiras letras bem como a História de Portugal de fio a pavio e então de geografia era um fartote desde linhas e ramais, estações e apeadeiros bem como  serras e serrinhas de Portugal e de Além-mar!... O forno lá está a um canto onde muitas fornadas de lá saíram sempre com a bênção de Deus. Ai as célebres batatas a murro que eram ali assadas antes de tapar a porta do forno. E a tapagem, não se escandalizem, era mesmo com bosta de vaca que se ia buscar à corte. Junto à lareira, o trefogueiro, as tenazes e as panelas de ferro algumas pernetas ou com próteses devido à idade, havia um ou outro púcaro de barro onde se coziam as castanhas.  Ao lado o preguiceiro cuja mesa descia mesmo nas barbas da lareira para os da casa saborearem o conduto. E lá  no alto a trapeira por onde se esgueirava o fumo depois de envernizar o fumeiro, era cá um respiradouro que nas noites de Inverno era contrariado pela fogueirada. A um canto  a masseira que também servia de mesa ou louceiro à mão de semear.

Memórias do tempo que passa!...

 

  Fiquem bem, antonio

Olhar o Porto - XCV (A Rua Chã)

Germano Silva na sua crónica dominical no JN fala-nos da história da Viela da Cadeia, actual Travessa da Rua Chã. Leva-nos até ao século XV onde vasculha documentos da existência da cadeia nesse local passando depois para a Rua de S. Sebastião e finalmente até à Relação no Campo do Olival, actual Campo dos Mártires da Pátria que chegou até aos nossos dias. Esta caminhada histórica de vários séculos fez-me recordar as vicissitudes que na Rua Chã se passaram nos nossos dias, sempre em transformações constantes. Quem não se lembra do corrupio feminino nessa rua da profissão mais antiga do mundo (onde é que eu já ouvi isto) que tinham como “posturas” os cafés Royal e Derby, já desaparecidos!… E as casas de porta sim, porta não nessa rua com extensão à rua de Cimo de Vila até à Praça da Batalha! Bem, tudo isto se esfumou e agora o bulício desta rua é provocado pela porta sim, porta sim de artigos de chineses, paquistaneses, marroquinos, moldavos e outros daquelas bandas. Algumas casas tradicionais de botões e fivelas ainda resistem ao comércio agressivo dos baixinhos da China ou dos da pele morena. Na nossa geração as mudanças aconteceram com um frenesim impressionante em oposição ao passado em que durante vários séculos as coisas eram mais ou menos imutáveis. A Rua Chã penso que nesse aspecto é paradigmática.

PS: Germano Silva já mais de uma vez referiu nas suas crónicas que leitores lhe têm sugerido, por correio electrónico, a abordagem de este ou aquele assunto. Devem ser certamente amigos das suas relações, pois não assina as crónicas com endereço electrónico, que desconheço.

 

   (antonio)