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Magistério6971

Os autores deste jornal virtual apresentam a todos os visitantes os seus mais cordiais cumprimentos. Será bem-vindo quem vier por bem.

Magistério6971

Os autores deste jornal virtual apresentam a todos os visitantes os seus mais cordiais cumprimentos. Será bem-vindo quem vier por bem.

Olhar o Porto - CCX(Passeio natalício)

Desta vez a visita teve o patrocínio da Santa Casa da Misericórdia do Porto e foi orientada por dois conhecedores da urbe, Germano Silva e Joel Cleto, que sabem tudo sobre a cidade. São dois comunicadores de excelência que arrastam multidões de interessados em conhecer mais o Porto. Logo ali na praça Carlos Alberto que também já foi conhecida por praça dos ferradores e das caixas. Ferradores, como o nome indica era local a partir da porta do Olival (uma das portas mais importantes da muralha Fernandina) de saída para Guimarães, Vila do Conde, Barcelos etc. Praça das Caixas, pois no séc. XIX os emigrantes que iam para o Brasil, e eram muitos, mandavam ali fazer as caixas onde levavam os pertences.

A seguir o numeroso grupo passou pela Cordoaria e à frente a Igreja das Taipas, onde pela primeira vez entrei, pois está quase sempre fechada. Tem um lindo presépio para ser observado com mais tempo. Igreja dos Clérigos e depois praça Guilherme Gomes Fernandes que já foi de santa Teresa onde por ali existiu o mercado do pão. O mercado do Anjo também existiu nas imediações da Igreja dos Clérigos.

Praça da Liberdade que também já se chamou praça nova e de D. Pedro, antes da abertura da Avenida dos Aliados. Ali a estátua do guerreiro romano a que se designou chamar – o Porto – foi também dissertado pelos historiadores, símbolo da força que a cidade sempre demonstrou. Uma curiosidade, há cem anos foi aberta a avenida dos Aliados e a capela dos três reis magos, foi apeada, comprada e levada de comboio para Trás-os-montes onde foi erguida na Pocariça.

Como a hora já ia adiantada, desenfiei-me, utilizando um termo militar, pois o terminus da visita era na igreja da Misericórdia, rua das Flores, que tem a bela fachada de Nicolau Nazonni.

(A imagem é da igreja dos Clérigos)

 

Ant. Gonç. (antonio)

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Olhar o Porto - CCVIII(150 anos do Palácio de Cristal)

Estava inscrito na CMP sobre as comemorações dos 150 anos do Palácio de Cristal. Recebi há dias um mail a anunciar uma destas visitas sobre orientação de Joel Cleto. Quando respondi a confirmar a minha adesão já era tarde,estavam esgotadas as inscrições. Perdemos esta oportunidade de saber mais umas dicas sobre o autêntico palácio. Se os jardins ficaram mais ou menos intocaveis, já o edifício foi totalmente arrasado e substituído por uma calote esférica, sem jeito, a que agora e dá o nome de pavilhão Rosa Mota.

Nunca ao vivo tive ocasião de ouvir Joel Cleto, historiador da cidade entre outras valencias, acompanho-o, melhor, acompanhava-o no Porto Canal que agora foi de vela. Guerrinhas entre operadoras levaram à interrupção desta estação televisiva.

Sobre a visita anunciada que partia do Largo da Maternidade e depois pelos interiores do palácio, tinha como novidade uma visita ao interior da capela Carlos Alberto.

 

PS: - Hoje no JN Joel Cleto escreve sobre os 100 anos do rasgo da Avenida dos Aliados e Praça da Liberdade. Com punhos de renda, diga-se, pois os responsáveis ainda estão vivos, fala das memórias que foram mandadas para o maneta na emblemática,que já foi mais, sala de visitas da cidade do Porto.

        - Esta era uma visita que gostaria de realizar, bem como outra que se vai realizar no próximo domingo com Germano Silva a que não posso comparecer.

 

      Ant.Gonç. (antonio)

Olhar o Porto - CCV(As carquejeiras)

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O caro Branco, sempre atento à cultura, alertou-me por msg para um sarau na quinta de Bonjoia, com o tema, as carquejeiras.

Se bem que era um assunto que me é familiar mas lá fui até porque um dos intervenientes era Helder Pacheco, um sabedor das coisas do Porto, nascido na freguesia da Vitória como gosta de referir, amante desta cidade até mais não.

Rio Douro, barcos rabelos, carqueja, carquejeiras, calçada da Corticeira agora das Carquejeiras e com a cereja em cima do bolo, a colocação de um monumento às carquejeiras no cimo da calçada,

que está na forja, tudo isto foi falado. Quarenta mil euros para concretizar este sonho, não é uma verba por aí além, não cheguei a perceber se as dificuldades da implantação desse monumento é do cú ou das calças. Mas que há vontades lá isso há.

Com o salão lotado, toda a saga das carquejeiras, carregadas que nem bestas a subir a íngreme calçada até às Fontainhas, foi desenvolvida pelos vários intervenientes da mesa, esse modo de vida duro e pobre que se estendeu até aos anos sessenta do século passado. Helder Pacheco com a sua crítica construtiva sobre aspectos da cidade no passado, sobre o presente foi mais suave, até porque, digo eu, na assistência estava um adjunto dum vereador da CMP, que por acaso estava a meu lado e que também apoiava a oratória do historiador. (Só me apercebi deste elemento da câmara quando o psiquiatra Mota Cardoso, um dos da mesa, se lhe referiu ao encerrar os trabalhos, cumprimentando-o e sensibilizando-o para ser portador para a edilidade do âmago daquele sarau – homenagem às carquejeiras e levar p´ra frente o tal monumento).

O rancho folclórico do Porto, sempre embrulhado nas actividades culturais da cidade, também marcou presença com uma canção musicada às carquejeiras.

 

  Ant. Gonç. (antonio)

 

Pela ruralidade - CLXXII(de Macieira, Cinfães à Espiunca, Arouca)

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Falar de memórias do povo do meio rural é registar acontecimentos que se vão esfumando no tempo. Estávamos no início dos anos sessenta do século passado, saco então agora do meu baú memorial o que a seguir passo a avivar.

O meu pai negociou com um vendeiro da terra, agora muito falada, devido ao passadiço do rio  Paiva – Espiunca, uma pipa de vinho com a condição de a transportar até à citada terra, 12 quilómetros por estrada em macadame à época. Foi então o caseiro que deu o corpo ao manifesto de tal tarefa (este eufemismo não passa disso mesmo, pois naquela altura o gosto pelo trabalho estava sempre presente). Como o trajecto era longo, às vacas tinham sido dadas, ainda a alva não despontava mas já a mejengra dava sinais de vida, um gigo bem cochado de ferrã do melhor almargeal que havia na terra, para estarem ao carro às sete horas. No dia anterior, com a ajuda de vizinhos, a pipa de 500 litros tinha sido encarrada com umas pranchas em cima do chadeiro, devidamente estabilizada nos malhais, corda do carro em volta e contra volta a apertar nos tornos.

Vacas fora da corte, como eram bandeiras a “ramalha” à direita e a “cabana” à esquerda, molhelhas entre a galhadura, canga em cima e tudo bem apertado com as apeaças. Apeiradas, chavelha a prender a cabeçalha ao tamoeiro, o caseiro baixote mas de braços de aço, à frente, uma mão na soga e outra na aguilhada, atrás a mulher, folgazona entre os trinta e os quarenta, mulheraça de olhos bugalhudos dava no olho, punha a cabeça à roda a libidinosos fandangueiros, e até os campónios mais sedentos ficavam a mastigar em seco, com uma racha e uma taleiga com alguma boroa e umas lascas de bacalhau foleiro. Era usual que o vendeiro ao receber a pipa , a coisa tinha sido falada de modo que não faltavam os habituais amigos de Baco ajudando também a encanteirar, provasse pelo espiche o verdasco e enchesse um canjirão para os transportadores que numa de boa convivência passavam em rodada, onde se chegava à frente o abade da terra, era ali um ferrinho, com as faces rosadas indicativas da sua propensão para entornar. Dizia-se que p´ra pinga era um pimpão, gostava de açapar no tintol trepador, apanhava às vezes uma rosca mas aguentava firme. P´ró mulherio era um melrinho de bico amarelo, não era nada ascético mas isso era contrabalançado pelo seu ar de bom-serás, convivente, desprendido dos bens terrenos, mãos largas, o que fazia ir aos arames a somítica governanta. No altar tinha uma pose clerical, dava os bons conselhos aos paroquianos mas interiormente dividia-se entre fazei o que eu digo e o que eu faço. Enquanto os homens metiam a pipa no canteiro, a mulher ficava à frente das vacas que recebiam duas faixas de palha de centeio que o vendeiro sacou da moreia que tinha ali no campo parede meia com a venda.

 Já o sol estava a pino, indicando o sul, quando começaram o regresso depois da missão cumprida.

O carro das vacas, é assim que se diz na região Douro sul e Paiva, que refiro atrás, é o da imagem; está aqui carreado com um casco, meia pipa de 250l, para memória futura; a que refiro no post era como atrás disse de 500l.

Desta estória verdadeira há ainda entre nós um dos intervenientes, já de provecta idade.

Era eu espigadote na altura dos factos pelo que retive toda esta odisseia que acabo de narrar.

 

Ant. Gonç.(antonio)

Pela ruralidade - CLXX(passadiço do rio Paiva II)

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Tinha já experimentado parcialmente o passadiço do Paiva (ou da Paiva, como na região se diz, ver meu post de 26/072015), andava ainda a meio gás, um joanete tinha chegado para mim que não sou de me deixar ir abaixo.

Com o canastro agora já mais em forma cheguei-me à frente, no grupo que englobava três gerações. Desta vez era para ir de fio a pavio, o mesmo é dizer cavalgar todo o passadiço como de facto aconteceu. Eramos dez adultos e três pequenotes de 7 e 8 anos que se portaram lindamente. A meio da jornada uma pequena pausa na praia fluvial do “Vau”, não direi para recuperar energias, antes para pôr o pé nas águas transparentes (é da praxe) onde o rio forma uma piscina, ali num silêncio provocador. Logo a seguir quisemos apolegar a passagem na ponte de arame, prefiro dizer de cabos de aço para acalmar os acrofóbicos, até à outra margem, foi ir e voltar, o seu balançar pode provocar receios a algumas pessoas. Só dez passantes de cada vez em cima da girândola (a alegoria é minha), dizem os placards informativos. Mais à frente onde o rio faz uma volta de ferradura acentuada já se avistavam em zigue zague as escadarias, foi a altura para interiorizarmos da penosa agradável subida da Garganta do Paiva. Lá no alto a vista majestática do encaixamento do rio deixa-nos sem respiração.

Estava-se a meio da semana e passantes naquela emblemática obra eram mais que muitos, desde gente muito jovem, uns de idade madura outros adiantados nos anos e gente assim assim, que têm marcado presença para ver ao vivo a genuidade da nudez do Paiva e da sua envolvência, ora com penhas hirsutas, ora com encaixes de variada flora. Por aqui a mão do homem ainda não toldou a mãe natureza que nos oferece de bandeja todo o seu arrebatador esplendor.

As redes sociais têm dado uma boa ajuda para pôr na ribalta o passadiço, fazendo-o estar na moda, digo eu. Espiunca aldeia encravada no vale do Paiva, início ou fim do passadiço conforme a opção que se tome, onde a desertificação, como em todo o interior assentou arraiais, saltou do anonimato, e por ali até os carros de praça não têm mãos a medir, não para aqueles que têm estaleca para fazer os oito Km do passadiço mais oito do regresso.

A CMArouca merece ser saudada pela iniciativa. Agora seria ouro sobre azul se para jusante da Espiunca se continuasse esta obra, em parte ainda em margens do concelho de Arouca mas depois em terras de Castelo de Paiva até à foz no Douro, onde aí há na confluência dos dois rios a Ilha dos Amores. Podemos dizer no entanto que este vale do rio também com arribas genuínas está mais humanizado. São obras subsidiadas pela comunidade europeia a 85%, é uma questão dos autarcas arregaçarem as mangas e saírem do ram ram da gestão camarária. CMArouca assim fez.

PS: Ontem seduzido pelo Luís voltei ao passadiço e à emblemática escadaria da Garganta do Paiva, que é um exercício aos bofes que só vos digo!...

 

  Ant. Gonç.(antonio)

 

Olhar o Porto - CCIV(Turismo em maré cheia)

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O que me apetece dizer está mais que dito nos meios de comunicação social, que o Porto está prenhe de estranjas. Então o que me leva a dizer mais do mesmo?

Como o tempo passa veloz não sei precisar em que ano eu aqui num post dizia mais ou menos isto: na Baixa do Porto, sobretudo na Ribeira os turistas parece que são mais que os nacionais. Estava-se, digo agora, no nascimento de uma mina de ouro – turistas que vieram mexer com a pacatez da urbanidade portuense.

Pois agora quem anda pela Baixa e sobretudo na envolvência ribeirinha, também em Gaia, é um fervilhar de gente lá de fora que vem descobrir as belezas da cidade. Passagens aéreas low-cost vomitam no aeroporto Sá Carneiro batalhões de gente que trazem como arma a máquina fotográfica para observar e registar o que para nós os nacionais muitas vezes passa despercebido. Em face desta mais valia, os poderes autárquicos estão a ser pressionados para colocar passeios de dois metros nas laterais da ponte de baixo (Luís I). Também agora se fala em tirar os barcos de grande calado dos ancoradouros do Porto e Gaia para deixar as frentes ribeirinhas com vistas amplas, construindo para isso cais na Lixa, Gondomar. Tudo isto e muito mais já devia estar feito, mas bem à moda portuguesa só se empurra com a barriga. A avalanche turística até levou a Livraria Lello a cobrar entradas pois eram mais que muitos, a atafulhar aquela emblemática casa.

Mas há sempre pequenos nadas que fazem a diferença para pior. Então hoje eu, e centenas de domingueiros fomos aos jardins do palácio que foi de cristal, avenida das tílias, onde havia um encontro, Sunday Session, de gente de cultura e não só, com actuação duma banda musical na acústica. Então não é que os sanitários dos H tinham a porta fechada com a indicação de avariado!... Alguém com galões que tem a cargo estes serviços deve ser muito marreta para não saber que hoje andaria por ali muita gente com necessidades. Claro que da minha parte vou fazer um gesto de cidadania, enviar para a CMP uma msg manifestando o meu desconforto.

 

 (antonio)

 

Pela ruralidade - CLXIX(passadiço do rio Paiva)

Andava cá com uma fezada, já há uns tempos, de saborear o passadiço da Paiva. Antes de mais não se estranhe esta designação feminina deste rio, é que nas regiões que conheço, Arouca, Cinfães e Castelo de Paiva sempre se disse “ir à Paiva”, “ a Paiva vai cheia” “ir pescar à Paiva”,etc. Veja-se “ O Paiva ou a Paiva como também lhe chamam” de Inácio Nuno Pignatelli. Posto isto vamos ao que mais interessa.

Uma incomodação num joanete obrigou-me a encostar às boxes, fez-me ir adiando a visita ao passadiço, quase na totalidade em madeira de pinho tratada, margem esquerda da Paiva entre Espiunca e Areinho a montante, 8 Km, que a CMArouca com visão rasgada concretizou.

A minha curiosidade foi sempre aumentando ao ler vários sites de gente habituada a andar lá por fora em escaladas e que davam as melhores referências de obra tão emblemática.

Resolvi então na quarta-feira, ao fim de semana são mais que muitos os andantes, dar corpo ao que me estava na alma. Fomos almoçar a Nespereira, prato do dia pois claro, e depois demos uma saltada, pois não fica longe, até à Espiunca para iniciar não direi uma caminhada, antes um andar contemplativo das belezas que a cada passo nos mimavam.

A Paiva, e lá volto a falar de acordo com a região em que estou enraizado, com as suas águas cristalinas, ora a deslizar em remanso ora em cachoeiras, nesta altura do ano a deixar ver o leito e margens rochosas, deixa-nos embelezados ao percorrermos o passadiço nas suas curvas e contracurvas.

Não me vou alargar, as redes sociais têm vasta informação sobre esta obra, relatam ao pormenor o entrosamento do passadiço e a Paiva.

 

  Ant.Gonç.(antonio)

Pela ruralidade - CLXIII(Memórias dum passado)

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A azáfama vinícola da segunda metade do século XX nos moldes tradicionais foi chão que deu uvas. A terra era toda trabalhada, milho e mais milho nos campos ou leiras, algum centeio, e nas bordaduras, ramadas, bardos ou parreiras que davam o precioso tintol que fazia a alegria dos rurais e lhes dava fortaleza nas lides campestres, quando amalgavam umas sopas de cavalo cansado. Com a entrada na Comunidade europeia, abertura escancarada de fronteiras, com subsídios e mais subsídios para novos moldes de agricultura e, pasme-se, subsídios para acabar com a agricultura tradicional. (Mas o que aconteceu com a agricultura, também com as pescas foi um desbaratar de subsídios para acabar com artefactos dessa arte, as traineiras e não só. Eh, sr. dr. Cavaco, essa foi de mestre e anda agora o senhor a dizer que nos devemos voltar para o mar!...)

Se nas terras propícias à boa agricultura alguns apanharam mão cheia de graveto para modernizar ou fazer de conta, já as terras pobres de mini, minifúndio, perderam o comboio pois não tinham características para a agricultura à moda europeia.

A imagem que acompanha este post é bem elucidativa do que atrás disse – as pipas sem pingo de recheio. Têm uma ligação umbilical com as escadas que as emolduram, quer nas podas e nas vindimas, descansam em sono prolongado, também elas cumpriram a sua missão. Merecem esta preservação para memória futura, como agora se diz.

 

   Ant.Gonç.(antonio)

Pela ruralidade - CLXVII(A nassa)

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Aquilino Ribeiro e Bento da Cruz autores que já fui lendo, a cada passo nas suas obras, falam dos putos que iam aos ninhos, obras do século XX. Todos nós sabemos que a miudagem quando saía da escola a meio da tarde, não tinha como agora entreténs: televisão, computadores, telemóveis não havia, muito menos levar e ir buscar os meninos à escola nos popós ou nas carrinhas.

Então ir aos ninhos era uma aventura que também aguçava as capacidades de descoberta da rapaziada. Se ninhos de pegas ou gaios, nem pensar, pois normalmente eram feitos no cimo de grandes árvores. Mas já os ninhos de carriças, abobadados com uma pequena entrada circular; verdilhões; papa-figos; picapau, como o nome indica feitos nos troncos das árvores com um buraco circular martelado pelo forte bico, como se fosse um trado; cerejinas; poupas, pássaro lindo mas faz o ninho de trampa; pintarroxos; chascos; piscos; lavandiscas; mejengras; pintassilgos com a sua plumagem domingueira e o seu cantar que era um mimo; havia também os ninhos de andorinha, mas esses eram respeitados, eram consideradas aves do céu, Aquilino Ribeiro no seu livro “Arcas encoiradas” designava-as de pitas de Nossa Senhora ; Já os de rola eram mal amanhados, mesmo muito pobretanas, o que é incompreensível, pois a rola tem uma certa finesse; mas os mais apetecidos eram os de melro, bem estruturados tipo covilhete avantajado; eram seguidos desde o “choco” até aos filhotes já prontos a voar, era então a altura de lhes deitar a unha com toda a perícia para não darem às de vila diogo. E ninhos de pardais? Ah! Das minhas memórias tenho uma que me ia saindo cara; numa fenda dum choupo velho, vi que havia um ninho de pardal com filhotes; meti a mão mas depois tive fortes dificuldades em tirá-la. Safa! Desta safei-me, mas apanhei cá um cagaço!...

Mas e então no Outono e Inverno quando não há ninhos? Aqui entra a nassa, também se chama caniça. Armadilha piramidal feita pela rapaziada, era colocada em locais estratégicos com iscos (milho, centeio ou bocadinhos de pão). Os pássaros, na busca do granjeio, pisavam um cai cai que fechava a nassa. Depois era a captura, os entalados mais apetecíveis eram os gaios, pegas e sobretudo os melros que tinham como destino a sertã. Mas isto não tem nada de espanto, pois não há muitos anos, como por aqui já falei, na Rua do Bonjardim, à Cancela Velha, numa casa de pasto ainda hoje aberta se bem que noutros moldes, passarinhos fritos eram a coqueluche dos engravatados citadinos que aí iam petiscar, emborcando umas cervejas intervaladas com um verde amarantino, que punha o pessoal corado e a sair porta fora a arrastar e a trocar as gambias balbuciando bocas empalhadas, sem nexo. Estas cenas eram mais visíveis quando o FCP jogava com os rivais de Lisboa, e se ganhava os doentes da bola apanhavam cá uma carraspana, uma “nassa” de todo o tamanho.

 

  Ant.Gonç.(antonio)

 

Pela ruralidade - CLXVI(Numa terra pluriracial)

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Portugal quando ainda tinha as chamadas oficialmente províncias ultramarinas, sempre fez bandeira de ser um país pluriracial. Na verdade não havia separação entre brancos e pretos como acontecia noutros países de África. Podemos no entanto dizer que a igualdade entre raças não era em plenitude, mas isso não é digno de nota, pois entre indivíduos da mesma raça há diferenças sociais mais que muitas. Digo isto com algum conhecimento, pois quando cheguei a Angola em comissão de serviço militar, verifiquei que os trabalhos menores eram destinados aos pretos.

Posto isto quero também referir a pluriracial ovina que me apercebi na terra das minhas raízes, como gosto de dizer. Uma sã convivência de samarras brancas com anhos filhotes pretos que pastam diariamente no campo do Sorrêgo, limites de Macieira de Fornelos. Noutros tempos, com uma pontinha de racismo assolapado poder-se-ia ouvir: Eh lá, descendência preta e mães brancas!... Hoje está tudo mais democratizado a este nível, já não há espantos de gente inculta. A curiosidade aguça o engenho e então fui puxar o fio à meada para me informar da ascendência genética dos borregos pretos. Pronto, lá está, pai preto e mãe branca poderia dar filhote mulato, mas saíram mesmo pretinhos que fazem a alegria do meu neto quando o levei a ver os ditos, satisfeitos com a vida que têm, aos pinotes.

 

     (a imagem será aqui estampada quando o computador deixar)

 

  (antonio)