Pela ruralidade, na urbe - CLXV(Taramela na China)
Ia eu marginal fora: Freixo – Ribeira a penantes, faço isso a miúde. Agora até dá para fazer umas gincanas labirínticas por entre as obras que estão a fazer entre a ponte Maria Pia e ponte Luís I. Com o trânsito meio cortado, máquinas aos molhos, e os varandins já quase prontos.
Mas eu quero referir-me à vinda da ruralidade à cidade. Como assim perguntará quem se der ao trabalho de perder tempo a ler estas trivialidades. Como quem não quer a coisa lá ia eu divagando o meu olhar por um ou outro pescador numa seca; no rio barcos rafeiros sofrem umas sapatadas pela ondulação dum barco a sério, certamente cheio de americanos de terceira idade cheios de pastel, que irão até ao Alto Douro; nas sapatas dos pilares da ponte do Freixo já não se vêm chusmas de corvos marinhos, pisgaram-se, virão no próximo Outono.
Bem, nesta observação da natureza, eis senão quando me apercebo, tal como na terra dos meus amores, oiço uma taramela. Fui apurando o ouvido e logo ali a dois passos da marginal, na quinta da China lá estava ela em cima duma cerejeira maior, outras havia mais pequenas. E aqui regressei ao meu tempo de rapazinho, lá na aldeia a fazer e montar a taramela com a ajuda de algum compincha da minha igualha. Naquela altura a sonoridade da engenhoca era tirada de um penico de esmalte, já fora de circulação. Ter a taramela mais cantadeira que se ouvisse noite e dia, à distância, era a vaidade da rapaziada. E a passarada já não surripiava as cerejas? Pois sim… Os melros até cantavam de galo com os seus chilreios de papo cheio!
Agora à distância interrogo-me se a taramela era mesmo para espantar a passarada. Penso que era antes um hobby ancestral da rapaziada que gostava de ouvir o matraquear dos badalos no penico, eufemisticamente referido nos dias da modernidade de bacio, pote ou ainda mais snob, vaso de noite: tran, tran, tran…
Ant.Gonç.(antonio)