Pela ruralidade - CXL(Deitar os carrapatos)
Há usos e costumes que se vão esfumando na voracidade do tempo. Quando olhamos para trás e no mesmo instante nos situamos no presente ficamos abismados com o antes e o depois.
Estive a dar uma vista de olhos num livro de 1933 sobre o concelho de Gondomar e a páginas tantas aparece-me uma descrição que me despertou a atenção e de que mais adiante vou referir.
Era eu um petiz, tenho de memória ouvir dizer aos meus progenitores sobre umas brincadeiras, hoje dir-se-iam de mau gosto, que a rapaziada gostava de fomentar. Então era assim, quando determinada moçoila da terra saía fora dos eixos ou quando determinado entradote tinha uma amiga (ter uma amiga é a designação que ainda hoje se usa no meio rural, no meio citadino diz-se, ter uma amante), os rapazes posicionavam-se em colinas sobranceiras à povoação e, de noite entretinham-se em altas denunciações, geralmente com funis ou cornos de boi, especulando sobre o comportamento dos visados. Às vezes dava para o torto quando eram descobertos os maldosos.
No livro que atrás me referi diz-se que esse costume antigo dava-se por altura do Carnaval e então diz que os rapazes deitavam os “carrapatos” às moçoilas do lugar. E passo a citar. Depois de estarem juntos, um toma um chifre furado e começa a dizer (por exemplo): carrapatos de pato, carrapatos de burro, piolhos de pardal, tudo a ferrar no umbigo… (Pergunta outro rapaz): - De quem companheiro? (Responde o primeiro): - Da Maria do Cabral. (Responde o coro): Apoiado companheiro. E continuam assim até terem deitado os “carrapatos” a todas as raparigas do lugar, exceptuando as que estão de luto.
Eram estas as brincadeiras de antanho que se vão indo de vela como referi no início.
Ant. Gonç. (antonio)