Pela ruralidade - CLXXXVIII(O compasso da m/infância)
Tenho da minha etapa de vida recordações de três pilares a saber: do Natal, da Páscoa e da festa anual do Senhor dos Enfermos que se realiza lá na terra no dia de Pentecostes, diga-se que é, ainda hoje, a maior romaria do concelho de Cinfães.
Como estamos em época de Páscoa, é desta que quero falar do tempo da minha meninice. O “compasso” era, pois, o cume da pirâmide dos festejos. Eram todos meus conhecidos, o senhor padre de sobrepeliz branca e estola, acompanhado por mais quatro, de opas vermelhas, o que levava a cruz, o da caldeirinha de água benta, mais o da saca para o money e ainda outro que carregava uma condessa para receber oferta de ovos, na altura o dinheiro escasseava. Havia ainda um rapaz espigadote que ia mais à frente com a sineta a anunciar que o compasso estava a chegar e a criançada jubilava!... Entretanto uns fogachos estoiravam à chegava a casa de um ou outro torna viagem, e não só. Depois dos desejos de boa páscoa, aleluia, aleluia que o senhor padre transmitia, beijava-se a cruz, não havia como agora um simples lencinho para limpar a saliva que ia ficando de outros. Nas casas mais remediadas oferecia-se pão de ló e vinho (aqui um parêntesis para dizer baixinho que alguns do compasso entornavam a valer, sobretudo quando a canícula apertava). Desses elementos que atrás falei já todos partiram. Recordo-me que o meu pai contribuía com 5 escudos (na altura um jornal diário custava menos de 1 escudo).
A partir dos tempos dos meus pais, lá na terra sempre abri a porta ao compasso, mais por tradição do que por qualquer outro motivo. Este ano como tinha marcado uma saída para o sul, excecionalmente não pude festejar a Páscoa na aldeia.
Agora sobre o compasso da atualidade, li no JN de hoje, com imagem, “padre cumpriu o compasso de mota”, acompanhado por muitos motards. Não alinho muito neste folclore, mas isto sou eu que já estou numa fase à beira de ficar descartado.
Ant.Gonç. (antonio)