Pela ruralidade - CLIV(Os caminhos rurais)
É ponto assente que os meios rurais estão aceleradamente a ficar desertificados, menos gente, menos animais pesados, menos agricultura. Para agravar a situação o envelhecimento dos residentes é notório não havendo reposição social com nascimentos. Aquilino Ribeiro escreveu em 1953 sobre as Beiras “toda a vasta região está a despovoar-se… É o êxodo caudaloso, porventura inelutável, mas com os seus riscos”. Referia-se Aquilino à emigração para o Brasil, mas a natalidade ainda ia equilibrando a balança demográfica, mas agora!...Depois há ainda vox populi dizendo que o rendimento social de inserção, que nalguns casos é justificável, noutros veio contribuir na moleza de alguns ainda capazes de vergar o fio. O JN dizia que se não fossem os emigrantes dos países do leste muitas uvas ficariam por colher na região do Douro. Assim se vê a que estado chegou o nosso país.
Os caminhos rurais da terra das minhas raízes, na freguesia de Fornelos (Cinfães), refiro-me aos virgens, não àqueles que já levaram calçada à portuguesa ou paralelos junto ao casario, são memórias históricas que me são caras e que estão muito desprezados. Novas acessibilidades deixaram-nos esquecidos onde todo o tipo de vegetação cresce, inviabilizando-os. Tenho uma pequena belga de monte no sítio denominado Chão de Lamas, cerca de 700 m de altitude, longe das tais novas acessibilidades, onde já não ia há vários anos. Meti pés ao caminho que conhecia bem do passado, mas foram tantas as barreiras de vegetação selvagem que só com a minha perseverança a corta mato por fora do tal caminho, totalmente intransitável com carvalheiras, zangarinheiros, estevas, codessos, urzes, giestas, mato arnal, silvados e que mais direi eu, cheguei ao destino que me propunha. É uma zona de forte matagal, sem árvores de porte, cujo fruto material dessa belga de monte é zero, ou antes, é negativo pois há o encargo da contribuição IMI.
As fundas regueiras nalguns troços desse caminho, cavadas em afloramentos rochosos pelos rodados de carros de mato, lenha ou pedra, no passado, fazem-me parar e ir ao encontro duma infinidade de gerações que por ali calcorrearam!... São memórias silenciosas de vida dos nossos antepassados. Quando vamos ao palácio ducal de Vila Viçosa e nos dizem que aquele grande tapete persa tem cerca de 500 anos ficamos de boca aberta. E sobre os caminhos rurais qual é o nosso sentimento? É enorme.
Ant.Gonç. (antonio)