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Magistério6971

Os autores deste jornal virtual apresentam a todos os visitantes os seus mais cordiais cumprimentos. Será bem-vindo quem vier por bem.

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Os de prima tonsura maselados

Os célebres escritores portugueses dos séc. XIX e XX sempre gostaram nas suas obras de brincar com as fraquezas dos eclesiásticos.

Tinha eu lido aqui há uns anos o “Crime do Padre Amaro” de Eça de Queirós, que além do sumo ser de caracter amavioso, começa logo na primeira página com o pecado da gula do falecido padre Migueis, sendo conhecido pelo clero diocesano pelo “comilão dos comilões”.

“O Carlos da Botica – que o detestava – costumava dizer, sempre que o via sair depois da sesta, com a face afogueada de sangue, muito enfartado: - Lá vai a jibóia esmoer. Um dia estoura!”

 

Além deste deslize dos clericais há ainda a castidade desses humanos, abençoada pela Igreja, que saiu furada a mais das vezes .

Em todas as obras de Aquilino que já li, não direi que ridicularize, mas preto no branco, os eclesiásticos mandavam às malvas o que tinham jurado a pés juntos, a abstinência aos prazeres carnais. Vejamos um excerto da “Casa Grande de Romarigães”.

“Luís da Cunha Antas era neto do licenciado Gonçalo da Cunha, abade de S. Tiago de Romarigães e de S. Paio de Agualonga, clérigo de teres e haveres que trouxe para as suas abadias uma moça de Rubiães chamada Maria Roriga (depois conhecida pelo nome de Maria da Cunha) e fez em ela um filho que reconheceu de resto e veio a chamar-se Domingos da Cunha, e era nem mais nem menos o pai do impetrante, Luís da Cunha Antas. Mais era notório e voz corrente que o dito licenciado, porque se fartasse da manceba ou quisesse coonestar o seu acto, a casou com um apaniguado, natural da Freita, da mesma freguesia de Romarigães, continuando ambos a manter trato carnal, porquanto viram-na entrar muitas vezes para a mata da Casa Grande, onde ele a esperava, alegando ela, que fora às pinhas, ora aos míscaros, a pessoas que lhe verberaram o procedimento. Cinco filhos tinham nascido no cortelho, sem se saber qual dos dois era o pai carnal deste ou daquele, dada a participação amistosa e alvar que tinham da referida fulana.”

 

Os clérigos também tinham o prazer cinegético, mas este à luz do senso comum não será pecado, digo eu. Vejamos na obra citada:

“Padre Tirteu fora caçador nos bons tempos e, quando um láparo lhe dava o traseiro a ler, estramontado com o barulho, seguia-o de olho matreiro, observando-lhe os pulins, rabo branco a borboletar e orelhas derrubadas. À devida altura disparava: bum! Via-o alçar as patas, e mentalmente encomendava-lhe o bem da alma: Estavas à cinta, ladrão, estavas, nem o Padre Sº António te valia!”

Padre Tirteu, também tinha as suas mazelas de modo que D. Telmo, senhor da Casa Grande de Romarigães e vastas propriedades, ao referir-se indirectamente ao capelão dizia:

“Ou é só para beber o vinho das galhetas, para viático às canadas de verdasco que entorna pelo dia fora e o conservam são como um pêro?!”

 

  (antonio)