Olhar o Porto - CLXXXVI(Os fidalgos e os palácios)
O encontro tinha sido anunciado no JN junto à meia laranja na porta principal do palácio de cristal. Ora para bom entendedor meia palavra basta, mas há que chamar os bois pelos nomes. Pois o palácio de cristal (ver imagem) foi destruído nos anos cinquenta do século passado, agora temos no mesmo local uma calote esférica que baptizaram com o nome de pavilhão Rosa Mota. Apenas os jardins resistiram à febre diabólica destrutiva. Dizia o interventivo António Fernandes director do rancho folclórico do Porto, que acompanha sempre com o rancho estas visitas à cidade, que o povo do Porto como que numa de afirmação vingativa continua a apelidar o actual pavilhão por palácio de cristal. Aqui eu direi que poderá ser assim ou nem por isso, na cidade há lugares que apesar de terem mudado de nome oficialmente, o povo continua a dar-lhes o nome com que ficaram conhecidos como Cordoaria, Cancela Velha, Leões, Arca d´água etc.
O grupo numeroso aguardava no local o jovem octogenário, não licenciado, que sabe coisas do Porto até mais não. Logo ali Germano Silva disse que os nobres não estavam autorizados a viver na cidade e assim sendo poucos palácios existem. Entenda-se que a cidade estava confinada à muralha Fernandina. Alguns palácios no entanto existem que pertenceram a mercadores burgueses endinheirados, que apesar da sua pujança não ostentam pedra de armas que eram só apanágio de fidalgos nobres.
Rua de D. Manuel II, Torre da Marca onde se falou do Pedro Sem. Palacete das Carrancas, actual museu nacional Soares dos Reis. Rua de S. Bento da Vitória, palacete onde funcionou até à pouco tempo a Judiciária. Rua de S. Miguel, Rua das Taipas e Largo de S. João Novo aqui o palácio, obra de Nasoni, onde funcionou o museu etnográfico. Rua de Belmonte, belo edifício dos Pachecos Pereira onde actualmente funciona uma cooperativa de ensino artístico e chegamos à Rua das Flores, a rua da burguesia mercantil, foi uma das mais importantes da cidade. Agora sofreu uma grande intervenção urbanística, pode ser que volte a levantar-se da letargia que ultimamente a estava a definhar.
E assim se passou uma manhã de domingo, fresca, com uns pingos a virem lá de cima mas nada que fizesse perigar mais esta aula descontraída ao ar livre.
Ant. Gonç. (antonio)