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Magistério6971

Os autores deste jornal virtual apresentam a todos os visitantes os seus mais cordiais cumprimentos. Será bem-vindo quem vier por bem.

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Era uma vez

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E, assim, nasciam muitos dos contos tradicionais infantis, criados não se sabe por quem, transmitidos oralmente de geração em geração, durante décadas.

O  que me fez refletir  e analisar mais atentamente alguns deles foi o seguinte diálogo:

“Vovó vem aí o lobo mau - informou  Ana Isa, com inquietação, bem abraçadinha à avó.

“Não tenhas medo, a avó está aqui para te proteger”

“Não podes, vovó, o lobo vai-te engolir.

Esta conversa não vem narrada em qualquer conto tradicional infantil, perpetrado por mentes tão criativas, com muita ficção à mistura. Foi mesmo real.

A minha netinha, com pouco mais de 2 anos de idade, concluiu que, se o lobo mau aparecesse,  de nada serviria a valentia da avó, até porque presa no bandulho do bicho, não teria hipótese de a socorrer.

A meu ver, os contos tradicionais infantis descrevem demasiadas cenas de maldade,   injustiça, violação física e psicológica, que  nos deixam perplexos.

Na história do Capuchinho Vermelho a desobediência da protagonista desencadeou uma série de episódios extremamente violentos e macabros. O sôfrego lobo, não se contentando em refestelar-se com os ossos já sem sabugo da pobre e enferma velhinha, engoliu também a indefesa e ingénua menina.

O castigo aplicado pela sua malvadez  foi de uma crueldade... O bicho, nem sequer constou na longa lista de espera de cirurgia, para pensar numa possível fuga.  Após o delito cometido, de imediato, foi submetido  a uma cesariana, a sangue frio,  num bloco operatório a céu aberto, realizada por uma equipa de caçadores, sem qualquer conhecimentos na área da medicina, dando à luz, com muito sofrimento, o produto devorado. Mas a carnificina não se quedou, as cenas macabras só terminaram  quando a equipa de pedreiros preencheu a barriga do animal, com pesadas pedras e a das costureiras cozeram a rasgadela.

A  Carochinha que  dias infindáveis apregoava à janela, accionando todos os sentidos para a escolha certa do marido exemplar, acabou por lhe cair bem o ditado, “Quem muito escolhe pouco acerta.”É que mal o padre terminou a cerimónia do enlace, João Ratão  pretendeu de imediato verificar  se  os petiscos estavam em consonância com as suas papilas gustativas. Atraído pelo cheirinho convidativo que exalava do panelão, acabou  dentro dele, sofrendo uma terrível  morte, cozido na  água em ebulição, contudo bem condimentada de acordo com a sua gula.

Pois, o dia do casório que, por norma, é sempre feliz  e memorável, neste caso, foi  trágico e aterrador. É que a  noiva nesse mesmo dia, teve de mudar o seu estado civil para viúva. (Naquele tempo já se faziam as previsões da durabilidade dos casamentos).

Mas a sua desgraça  não ficou só por este acontecimento desastroso.

A Carochinha traumatizada com todo o desenrolar da sua funesta vida, prometeu nunca mais ter a ousadia de procurar pretendentes à sua pessoa.

Depois de bem fazer  as contas relativas às despesas do casório, incluindo o funeral do defunto marido, ainda lhe sobejou algum dinheirito.

Para garantir o seu futuro, ouvindo de um espírito santo de orelha as melhores referências  sobre aplicação de poupanças investiu no lixo toda a quantia angariada e, apesar de não cruzar as mãos, passando os seus dias a varrer até à exaustão, jamais encontrou forma de a encontrar. Só a esperança a faz viver.

Outra história trágica é a do Patinho Feio que, sem qualquer culpa no cartório, tão injustiçado foi devido à presumível infidelidade da progenitora a quem  nem  sequer lhe  foi dada o benefício da dúvida. Por ser tão diferente dos elementos que constituiam a família, sofreu horrores, assistiu a cenas de violência doméstica, foi destratado, rejeitado e, por fim, abandonado.

A malfadada vida deste patinho  poderia ser evitada com um simples teste de paternidade.

Pela sensação de medo que a maioria destes episódios provoca nas já tão imaginativas cabecitas de algumas crianças, costumo fazer as adaptações, de forma a torná-las menos cruéis. O grave problema é a falha de memória da minha versão e o(a) ouvinte protesta, atestando a falta de veracidade da narração. Contudo, com alguma ajuda do atento(a) ouvinte, lá me vou desenrascando.

Estas cenas contextualizadas no tempo, sec.XV,  não causam grande admiração.(Hoje é de admirar.) Eram tempos difíceis! Daí a descrição de episódios tão aterradores. As suas inseguraças, medos,  injustiças, o poder exercido dos mais fortes sobre os indefesos e fracos são notórios em quase todos os contos. Penso eu que o objetivo da criação dessas fantasiosas histórias seria não só exteriorizarem as suas angústias, mas também uma advertência e ensinamentos de estratégias aos mais desacautelados e ingénuos para se desenvencilharem das mais variadas situações.

E como sonhar é sempre possível, para suavizar as agruras das suas vidas, a maioria dos contos terminava com o castigo dos endiabrados e a salvação e reposição da justiça aos considerados bons, um final feliz, como é desejável e salutar.

Atualmente, a criançada tem ao seu dispor todas essas histórias em livros com belas e coloridas ilustrações, consideradas património mundial da humanidade.

 

Com toda a imaginação, Benilde

 

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