O familiar do Sr. Major Santos Junior
Antes do 25 de Abril de 1974 o 1º de Maio era sempre aproveitado pelos oposicionistas para darem largas à sua contestação ao regime vigente. O regime anterior não servia os reais interesses dos portugueses, é verdade, mas o actual com a saúde, educação e justiça à cabeça deixa muito a desejar, mas teremos que nos agachar por ser um regime democrático?!...Aqui no Porto o palco da contestação por gente do reviralho era sempre a Baixa – Praça da Liberdade e Avenida dos Aliados. Na altura as hostes estudantis eram lideradas na contestação por Pina Moura e Horácio Guimarães. O primeiro viu-se em apuros com os maoistas do MRPP que não toleravam o seu revisionismo ligado ao PCP, isto antes do 25 de Abril de 1974. Passou pelos governos democráticos, é um dos convertidos ao capitalismo.
O Major Santos Júnior era o odioso comandante da Polícia bem conhecido dos portuenses e então dos oposicionistas era conhecido de ginjeira! Era um mãos de ferro que mandava carregar sobre os manifestantes sem dó nem piedade. Nos 1ºs. de Maio percorria a Baixa de megafone em cima do carro da polícia, enquanto carrinhas com polícias de choque se posicionavam no Largo dos Lóios, Praça Filipa de Lencastre e Praça D. João I preparados para cascar:
- Dou 5 (ou seriam só 2) minutos para as pessoas dispersarem, findo esse prazo vamos agir e não nos responsabilizamos pelo que possa acontecer!
Aqui um parênteses para dizer que havia PIDE´S´ (Polícia de Investigação e Defesa do Estado) camuflados no meio da massa estudantil e operária em redor da estátua equestre
de D. Pedro IV e que, quando a polícia de choque aparecia para vias de facto eles colocavam uma braçadeira com as insígnias de DGV (Direcção Geral de Segurança) e ajudavam na trolhada e então era de escacha pessegueiro. Esta polícia política, apesar do nome ter mudado no governo de Marcelo Caetano, ficou sempre conhecida pela primeira sigla. Sem me estar aqui a armar aos cágados quero dizer que não fui um antifascista radical, no entanto apoiava em segunda fila as contestações ao regime então vigente. Constatei as cenas atrás descritas e algumas vezes tive de dar às de Vila Diogo, para não ficar encurralado na confusão, quando a coisa dava para o torto e dava sempre.
Para aquilatarmos do poder do detestado comandante da polícia salta-nos de memória uma peripécia protagonizada pelo nosso colega José António Ferreira, um cinfanense de pura gema com costado bairrista ( um abraço para ti Zé! ). Tinha ele tentado entrar numa casa de diversão, talvez um dancing, lá para os lados da Boavista quando o porteiro por motivos que não me recordo lhe barrou a entrada. Pois o nosso colega não se deu por derrotado e numa atitude audaciosa argumentou, vejam lá o que engendrou, que era familiar (não interessa o grau de parentesco) do sr. Major Santos Júnior. Foi o suficiente para ter livre trânsito, entrando descontraidamente.
Saber viver não custa mesmo com malabarismos amigo Zé, é assim mesmo, dos derrotados não reza a história e já agora para ti as melhores saudações, antonio!