O rei das desfolhadas
Ele aqui está. O rei das desfolhadas. Tão pretendido, tão desejado!
Entre tantas fulvas espigas o aparecimento de uma encarnada era uma exultação, isso… se a pessoa não sofresse de protanopia.
A tradição ditava que, quem achasse um milho-rei, tinha o direito de distribuir umas beijocas e uns abraços a todos os participantes das desfolhadas. Era o pretexto tão esperado para os rapazes roubarem um beijinho mais repenicado à sua conversada, mesmo nas ventas dos pais mais conservadores. Era uma forma de os enliçar.
Os mais manhosos já as traziam de casa enlocadas e, no momento oportuno, faziam-nas ressuscitar, exigindo os mesmos direitos. Quando descobertos dava para o torto.
Ontem, numa pequena desfolhada em casa de uma prima, fui bafejada pela sorte com este belo exemplar. Claro, que era meu dever cumprir com a tradição, o que não foi nada complicado, pois neste evento só estavam presentes a minha pequena pessoa e ela. Após o ritual pusemos uma canta a duas vozes.
Terminado o trabalho, mançupimos uns figuitos e, como nenhuma de nós padecia de enofobia, acompanhamos os sicónios com um Porto bem encorpado e muita atitude.
São servidos?
Aquele abraço, Benilde