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Magistério6971

Os autores deste jornal virtual apresentam a todos os visitantes os seus mais cordiais cumprimentos. Será bem-vindo quem vier por bem.

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Viajando no tempo

Há muito tempo que pretendia pôr em prática um desejo que, por este ou aquele motivo, sistematicamente ia protelando. Peremptoriamente prometi a mim mesma que chegara a hora. A minha ideia nada tinha a ver com uma viagem paradisíaca, pretendia somente deslocar-me à Invicta de autocarro, percurso que já não fazia há uma data de anos. Assim, ontem, adominguei-me e, eis-me sentada no banco da frente, para ter uma visão mais alargada de todo o panorama e,lá fui eu. Já estou a sentir os vossos sorrisos sarcásticos "Que ingénua serrana! É feliz com tão pouco!". Reviver o passado é muito comum quando se chega a sexagenária. 

 

Era eu menina e moça, com apenas 11 anos, quando me abalei para o Porto estudar. Aí permaneci até me formar, salvo férias grandes, Natal e Páscoa. Nas constantes idas e vindas apanhava a camioneta da Feirense, com o seguinte itinerário : Mansores, Cabeçais, Fermedo, Lourosa, Carvalhos, Porto. Lembro-me ainda muito pequena, que na paragem de Cabeçais ficava boquiaberta com um gigante relógio que permaneceu décadas numa montra de um prédio, exibindo as horas, a custo zero . Mais tarde vim a saber que era uma ourivesaria de familiares do nosso colega Francisco.


O trajecto ao longo de toda a viagem era pouco agradável, com curvas, contracurvas, em vias extremamente estreitas e em péssimo estado. O possante, já muito velhinho, ia emitindo roncos dolorosos, dava o que tinha e o que não tinha para levar a cabo a sua missão.
Um dos grandes degredos eram as paragens infindáveis. As pessoas quando iam à cidade, levavam gentilezas aos seus familiares, entre elas galináceos, coelhos, batatas, hortaliças, vinho... O cobrador, além de administrar a parte financeira, cobrando os bilhetes, era-lhe exigido alombar para o tejadilho tudo isto. A certa altura da viagem, a cantoria não se fazia esperar: galos cantavam, patos grasnavam e até os perus glugluavam felizes, mesmo sem a prova da "branquinha".


Esta harmoniosa sinfonia tinha como música de fundo o ronco do possante com intensidade variável, aquando a entrada das mudanças. Uma orquestra que nada ficava a dever à Metropolitana do Porto.
Em consequência dos inúmeros abanos ao longo da viagem, os passageiros mais sensíveis, de cabeça à roda, periodicamente abriam as janelas, que naquela altura eram privativas, e de cabeça ao vento, expeliam os seus incómodos.
Vagarosamente, o possante lá ia cumprindo o seu trajeto. Por tal motivo, a certa altura do percurso, a Ti Maria exigia urgentemente a paragem da carreira a fim de satisfazer uma das suas necessidades fisiológicas. Atarantado, o Ti Manel corria atrás dela com objectivo de lhe fazer uma barreira, não fosse a mulher às escâncaras, ser cobiçada por olhares indiscretos, dando motivos a aceleramento de estímulos eróticos por parte dos mais maliciosos. O Ti Manel tinha o dever moral de preservar o que mais apreciava na sua patroa. Alguns passageiros aproveitando-se da ocasião, também se abalavam da camioneta para cumprirem o mesmo ritmo, confirmando-se o velho ditado "Quando mija um português, mija logo dois ou três.

 

Presentemente, as viagens à Invicta não têm comparação alguma com as de outrora: mais rápidas, mais seguras e muito mais cómodas. Saí perto da Batalha e, de imediato, veio-me à memória os mesmos cheiros, a sonoridade tripeira e até as características do povo portuense. Mal pus o pé em terra firme assisti gratuitamente a um conflito protagonizado por duas mulheres já idóneas ,portanto, com idade para terem juízo, ambas usando uma linguagem pouco recomendável. Não dei importância ao caso, nem tão pouco era meu dever interpicar.

Segui em direcção a Santa Catarina onde indaguei minuciosamente a moda usada neste inverno, com vista a aprimorar as minhas indumentárias que já estão desenxabidas.


Regressei sã e salva com a promessa de repetir a dose com mais frequência.

 

Benilde

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