Olhar o Porto/ruralidade - CXLVI(Vida dura)
Ontem ao passar os olhos pelo JN encontro uma reportagem que me prendeu a atenção. Era sobre a última carquejeira, senhora com um século de vida e com um milénio de duros trabalhos. Subia aos SS carregada com molhos de carqueja a íngreme calçada que já se chamou da Corticeira e agora em homenagem a essas poderosas mulheres – Calçada das Carquejeiras. Chegava esse combustível nos barcos rabelos vindo das terras do interior douro abaixo e que depois era levado pelas carrejonas carquejeiras a galeto para as diversas padarias da cidade vencendo a inclinação da citada calçada. Quem conhece o local pode afirmar sem hipérbole que um asno sem albarda se a calcorrear chegará ao cimo (Passeio das Fontainhas) com a língua bem de fora.
Ao ler esta reportagem vem-me à memória, era eu um puto que andava ainda na escola também a aprender que na província ultramarina de Angola havia um rio Zaire ou Congo, uma senhora que passava carregada com um enorme molho de urzes e chamiças. Vinha de uma terra vizinha e que levava para um vendeiro que não sendo padeiro, fazia no forno a broa que vendia na sua venda, passe a redundância.
Aqui na cidade a história das carquejeiras está documentada, mas por este país fora o rigor duro da vida na sobrevivência humana é de facto digno da nossa curvatura.
(antonio)