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Magistério6971

Os autores deste jornal virtual apresentam a todos os visitantes os seus mais cordiais cumprimentos. Será bem-vindo quem vier por bem.

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Pela ruralidade - LIX (As minhas telhas)

Estávamos no ano de 1908 que ficou célebre pelo regicídio no Terreiro do Paço, em Lisboa. O rei pintor e caçador D. Carlos, mais o seu filho Luís Filipe não resistiram aos fogachos de dois atiradores, um deles professor Buiça. Enquanto o estertor da monarquia caminhava a passos largos para o fim com a ajuda também do escritor Aquilino Ribeiro, lá na minha terra o meu avô chegado do Brasil para onde tinha ido abanar a árvore das patacas, foi cocheiro com carta da polícia federal para conduzir carro de quatro rodas, que religiosamente guardo. Com um alforge cheio de cacau chegou lá à terra, fazia figura com correntes de oiro, seguravam o relógio que encaixava no bolso do colete. Comprou terras, tinha muito gado a penso em cabaneiros e nos dias de festa lá da terra pegava ao pálio. Emprestava dinheiro e tinha muitos compadres cujos filhos tinham o nome do padrinho. Como tinha mijado no mar se outros predicados não houvesse, só por si era já uma mais valia de pessoa importante, estatuto que lhe era dado de senhor fulano de tal…

Naquela data estava a construir casa com alguma imponência para a época. Pedra, de boa cantaria, vinda de longe e cobertura de telha “Marselha” da fábrica das Devesas de V. N. de Gaia. Passados 102 anos foi agora substituída a telha, estava gasta pelo tempo, a idade não perdoa. E aqui o cerne desta minha crónica, como tinha lá chegado a telha da fábrica das Devesas a uma terra onde nem estrada havia? A segarrega desta aventura certamente deixará incrédulos os mais novatos nestas coisas do antanho. Com a ajuda de conterrâneos veteranos consegui seguir o fio à meada. Então é assim: Da fábrica as telhas eram transportadas em carros de bois que seguiam até ao cais de Gaia. Aí eram embarcadas nos barcos Rabelos que subiam o Douro acima indo de “carrinho” aproveitando a subida da maré até perto de Entre-os-rios. Com a força braçal nos remos, vela, e até por vezes puxados à sirga, seguiam até ao cais do Castelo junto à confluência do rio Paiva no concelho de Castelo de Paiva. Eram aí carregadas em carros de vacas (ou seriam bois?) e seguiam num longo trajecto de mais de vinte quilómetros em estrada de macadame, já no concelho de Cinfães, e depois por caminho estreito onde o gado, chamadores e tangedores suavam as estopinhas nas subidas íngremes, até ao destino final.

Como eu gosto de reviver a força indomável dos nossos antepassados!...

 

  Fiquem bem, antonio

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