Eu era hospedeira de bordo
É sabido que as vivências dos meios rurais geram melhor a sociabilidade do que as do meio urbano. O meu progenitor quando vinha à cidade ficava perplexo pelo anonimato dos transeuntes, nem um bom dia ou boa tarde, dizia, passavam como cães por vinha vindimada, quando na aldeia onde vivia, mesmo a um desconhecido havia um cumprimento. Já não me refiro a quando da passagem por umas alminhas em que o levantar do chapéu era um gesto de respeito, ou ao cruzar-se com o senhor fulano de tal.
Quando fui englobado num grupo ao planalto mirandês, em Sendim, estava eu ainda a entrar numa pequena casa comercial com artigos regionais, quando observo o início de uma conversa extrospectiva da parte do comerciante com uma senhora do grupo que tinha entrado à minha frente:
- Então a senhora donde vem?
Do Porto.
- Em que trabalha?
Compro tudo feito
Estou reformada, era hospedeira de bordo.
- Ah!
Ant.Gonç.(antonio)