Pela ruralidade - CLXXIII(O cheirinho da fruta)
Setembro, o mês das colheitas. Portugal tinha as fronteiras cerradas, como tal tudo o que cá se produzisse era consumido no país. Estamos a falar dos tempos antes da entrada na Comunidade Europeia. No meu lar paterno era a azáfama de colher a fruta, nomeadamente a maçã. Uma macieira aqui outra ali, sempre nas bordaduras dos campos. Escadas de madeira de vários passais, cestos com gancho, e uma ladra também dava jeito. Enchiam-se os gigos transportados à cabeça para uma dependência agrícola onde eram amontoadas. Do monte apartavam-se as tocadas que eram abertas, a parte boa aproveitava-se para consumo caseiro, a outra parte, podre ou com bicho ia para os porcos. Aparecia o comprador, sr. Bernardo Insosso do Castelo (localidade ribeirinha da confluência do Douro e Paiva), dizia-se, era o que se chegava mais à frente, pagava por um gigo bem cochado 20#00 nos inícios dos anos sessenta do século passado. Era tudo ao molho, camoesas, gronhos, marmelas, espriegas, pardo lindo, bravo-de-esmolfe, repinaldo etc. As maçãs do S. João, coradinhas, enchiam um salão com o seu aroma, eram as mais temporãos. Selecção e calibragem era assunto desconhecido na época.
Ainda estou a inalar o cheirinho da fruta quando se entrava na abegoaria!… E então o sabor!…
Na imagem, da minha agricultura fruta com bicho é uma mais valia, biológica como se diz, um avivar das minhas memórias.
Ant.Gonç. (antonio)