Setembro, o mês das colheitas. Portugal tinha as fronteiras cerradas, como tal tudo o que cá se produzisse era consumido no país. Estamos a falar dos tempos antes da entrada na Comunidade Europeia. No meu lar paterno era a azáfama de colher a fruta, nomeadamente a maçã. Uma macieira aqui outra ali, sempre nas bordaduras dos campos. Escadas de madeira de vários passais, cestos com gancho, e uma ladra também dava jeito. Enchiam-se os gigos transportados à cabeça para uma dependência agrícola onde eram amontoadas. Do monte apartavam-se as tocadas que eram abertas, a parte boa aproveitava-se para consumo caseiro, a outra parte, podre ou com bicho ia para os porcos. Aparecia o comprador, sr. Bernardo Insosso do Castelo (localidade ribeirinha da confluência do Douro e Paiva), dizia-se, era o que se chegava mais à frente, pagava por um gigo bem cochado 20#00 nos inícios dos anos sessenta do século passado. Era tudo ao molho, camoesas, gronhos, marmelas, espriegas, pardo lindo, bravo-de-esmolfe, repinaldo etc. As maçãs do S. João, coradinhas, enchiam um salão com o seu aroma, eram as mais temporãos. Selecção e calibragem era assunto desconhecido na época.
Ainda estou a inalar o cheirinho da fruta quando se entrava na abegoaria!… E então o sabor!…
Na imagem, da minha agricultura fruta com bicho é uma mais valia, biológica como se diz, um avivar das minhas memórias.
Era este o Palácio de Cristal que o historiador Germano Silva gostava de mostrar ontem ao numeroso grupo sempre ávido das suas explicações. Salvaram-se os jardins onde na imagem se podem ver as jovens araucáreas, agora adultas. Quanto a este belo edifício o camartelo entrou em acção nos anos cinquenta do século passado.
Mas estes assassinatos são transversais no tempo, só para lembrar o que ainda há bem pouco tempo fizeram na Baixa da cidade.
Falar de memórias do povo do meio rural é registar acontecimentos que se vão esfumando no tempo. Estávamos no início dos anos sessenta do século passado, saco então agora do meu baú memorial o que a seguir passo a avivar.
O meu pai negociou com um vendeiro da terra, agora muito falada, devido ao passadiço do rio Paiva – Espiunca, uma pipa de vinho com a condição de a transportar até à citada terra, 12 quilómetros por estrada em macadame à época. Foi então o caseiro que deu o corpo ao manifesto de tal tarefa (este eufemismo não passa disso mesmo, pois naquela altura o gosto pelo trabalho estava sempre presente). Como o trajecto era longo, às vacas tinham sido dadas, ainda a alva não despontava mas já a mejengra dava sinais de vida, um gigo bem cochado de ferrã do melhor almargeal que havia na terra, para estarem ao carro às sete horas. No dia anterior, com a ajuda de vizinhos, a pipa de 500 litros tinha sido encarrada com umas pranchas em cima do chadeiro, devidamente estabilizada nos malhais, corda do carro em volta e contra volta a apertar nos tornos.
Vacas fora da corte, como eram bandeiras a “ramalha” à direita e a “cabana” à esquerda, molhelhas entre a galhadura, canga em cima e tudo bem apertado com as apeaças. Apeiradas, chavelha a prender a cabeçalha ao tamoeiro, o caseiro baixote mas de braços de aço, à frente, uma mão na soga e outra na aguilhada, atrás a mulher, folgazona entre os trinta e os quarenta, mulheraça de olhos bugalhudos dava no olho, punha a cabeça à roda a libidinosos fandangueiros, e até os campónios mais sedentos ficavam a mastigar em seco, com uma racha e uma taleiga com alguma boroa e umas lascas de bacalhau foleiro. Era usual que o vendeiro ao receber a pipa , a coisa tinha sido falada de modo que não faltavam os habituais amigos de Baco ajudando também a encanteirar, provasse pelo espiche o verdasco e enchesse um canjirão para os transportadores que numa de boa convivência passavam em rodada, onde se chegava à frente o abade da terra, era ali um ferrinho, com as faces rosadas indicativas da sua propensão para entornar. Dizia-se que p´ra pinga era um pimpão, gostava de açapar no tintol trepador, apanhava às vezes uma rosca mas aguentava firme. P´ró mulherio era um melrinho de bico amarelo, não era nada ascético mas isso era contrabalançado pelo seu ar de bom-serás, convivente, desprendido dos bens terrenos, mãos largas, o que fazia ir aos arames a somítica governanta. No altar tinha uma pose clerical, dava os bons conselhos aos paroquianos mas interiormente dividia-se entre fazei o que eu digo e o que eu faço. Enquanto os homens metiam a pipa no canteiro, a mulher ficava à frente das vacas que recebiam duas faixas de palha de centeio que o vendeiro sacou da moreia que tinha ali no campo parede meia com a venda.
Já o sol estava a pino, indicando o sul, quando começaram o regresso depois da missão cumprida.
O carro das vacas, é assim que se diz na região Douro sul e Paiva, que refiro atrás, é o da imagem; está aqui carreado com um casco, meia pipa de 250l, para memória futura; a que refiro no post era como atrás disse de 500l.
Desta estória verdadeira há ainda entre nós um dos intervenientes, já de provecta idade.
Era eu espigadote na altura dos factos pelo que retive toda esta odisseia que acabo de narrar.
A nossa colega Zélia Carminda Neves Sousa sensibilizou-nos, durante o almoço-convívio de 23 de Maio de 2015, para uma iniciativa muito interessante: um almoço de Natal. A recetividade foi boa e somos capazes de ter já este ano de 2015, o primeiro almoço de Natal de colegas do nosso curso. Basta sonharmos, tal como disse Fernando Pessoa: Deus quer, o Homem sonha, a Obra nasce. Assim sendo, eu, Francisco Rodrigues, e as colegas Odete Amorim e Zélia Sousa encontrámos na cidade do Porto o local ideal para a realização do evento: o CCDTCMP - Centro Cultural e Desportivo dos Trabalhadores da Câmara Municipal do Porto, na Rua Alves Redol, 292, 4050-042 Porto, 228 318 210 e 969 774 983.
Ainda por cima, a responsável é colega nossa, do curso da EMPP de 68/70, embora nunca tenha exercido. Assim sendo, apresentemos o menu com que concordámos para um preço de 20 euros por pessoa: - Salgadinhos variados - Creme de legumes - Perú à chipolata - Salada rica - Rabanadas - Bolo - rei - Água e refrigerantes - Vinhos: verde branco e maduro branco e tinto - Café Posto isto, o que vos pedimos: 1 - Que divulguem o mais possível o evento. 2 - Que digam se preferem o dia 5 ou 12 de Dezembro, sendo que ganhará a maioria. 3 - Que se inscrevam no espaço de COMENTÁRIOS, explicitando bem quantas inscrições fazem, contando que levem acompanhantes. 4 - Que venham aqui com regularidade para saber o dia ao certo. Muito obrigado a todos e até breve.
Imagens nas redes sociais do passadiço são mais que a nuvem de pombas, intermeadas por algumas déspotas gaivotas, que rodeiam a Miquinhas com avantajada saca de milho traçado, que todas as manhãs espalha na centralidade do jardim da rotunda da Boavista.
Fotografei a maior escadaria do passadiço, aproveitando uma pausa na caminhada de 6 Km que até aí já tinha feito a partir da Espiunca para limpar o suor da testa, não pela andadura já feita, mas sim por ver o que me esperava nas escarpas humanizadas da Cascata das Aguieiras (ver imagem). Mas foi mais a sugestão, embora os bofes tivessem um trabalho acrescido para galgar aqueles 450 degraus!... Os exercícios de yoga a nível da respiração senti que tiveram aqui um efeito produtivo.
No JN de ontem, pesos pesados da governação central e da CMArouca e da CMPorto, também foram numa de dar uma esticadela às canetas pelo passadiço.
Eh, e em Alvarenga, capital do bife da carne arouquesa, os restaurantes não têm mãos a medir, depois de fazerem o passadiço muitos satisfazem os gostos.