Memórias da guerra
Tinha eu acordado às quatro da madrugada, não sei que raio de rotina me está a acontecer, Morfeu anda a tramar-me, pois ando há uns tempos a ficar a contar carneirinhos por tempo indeterminado. Então às seis e trinta fora da cama, fiz nas calmas a higiene matinal e pernas para que vos quero até à estação de Campanhã, moro em Valbom (GDM), onde apanhei o Intercidades até Pombal, com um desconto de 50%, e viva o velho.
Ah! Era aí o encontro anual do maralhal do meu Batalhão que gramou o roçar dos ossos por terras de Angola, estou a falar da chamada guerra colonial. Quarenta e oito anos, é muita carga, após o embarque em Lisboa no paquete Vera Cruz expressamente adaptado para o transporte de tropas.
Todos barrigudos ou tábuas rasas, mais aqueles que estes, carecas ou cabeças brancas, todos na portela fatídica dos setenta e alguns já mais além, caçarretas uns, outros com artroses bem evidenciadas, mas também outros em bom estado de conservação, todos afinados no mesmo diapasão, reviver um tempo que apesar de ter sido difícil, cimentou amizades.
Esposas, filhos e netos deram também um colorido no fervilhar da cavaqueira. Embora estes não tivessem vivido as “cenas” de guerra, “elas” foram sempre uma retaguarda de apoio psicológico estimulador nas eventuais agruras.
Conversas cruzadas do teatro das situações operacionais iam sendo desbobinadas passados tantos anos, pormenorizadas como se tivessem acontecido há um ano, mês ou na última semana.
São também estas as memórias dum povo que se devem manter. Para o ano há a continuação de lembrarmos a guerra em palavras.
Ant.Gonç. (antonio)