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Magistério6971

Os autores deste jornal virtual apresentam a todos os visitantes os seus mais cordiais cumprimentos. Será bem-vindo quem vier por bem.

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Lufa-lufa ao poder

É interessante verem-se candidatos a candidatos chegarem-se à frente para as presidenciais. É caso para dizer que o carro vai à frente dos bois, pois antes, ainda haverá as legislativas.

Eu não irei votar naqueles que deixaram descambar Portugal para um país de coitadinhos. Posso votar ou não no candidato Paulo Morais, mas ele já tem o meu voto afectivo. A sua frontalidade contra os corruptos e mentirosos está bem patente. Diz “as eleições transformaram-se em concurso para escolha do maior mentiroso”. Também o economista Daniel Bessa numa interessante e demolidora entrevista a um canal televisivo dizia que todo o poder corrompe, mas que o poder absoluto corrompe mais, referindo-se aos governos do passado e do presente.

 

(antonio)

Ruralidades em "Geografia Sentimental"

Ler as obras de Aquilino Ribeiro é um aprofundar dos usos e costumes das Beiras, durante a primeira metade do século XX. Em “Geografia sentimental” o autor volta mais uma vez ao local do crime, passe a figura de linguagem, às suas sentidas ruralidades.

No trecho que a seguir transcrevo fala de Ariz, povoação de Moimenta da Beira.

“… Mas chegou o nordeste com os primeiros borrifos de Inverno, quando o serrano aparece às esquinas das ruas engoiado na capucha só com os olhos a luzir, os castanheiros começam a botar, e os serões abrem as portas. Em Ariz como em todos os lugares da comarca serrana os serões são nos estábulos. A um canto, se a loja é vasta, ruminam as vacas, a outro, acocoradas no palhuço, seroam as mulheres. Fiam, fazem meia, dobam, e em geral amanham o linho de seus linhares. Uma candeia, presa da trave, para cujo combustível todas concorrem semanalmente com um vintém, ilumina o recinto. Cheira à pedra lascada? Qual, multipliquem-se no sentido da qualidade estas coisas por dez e ter-se-ão os serões do Paço da Ribeira com os açafates de D. Catarina acocoradas nas esteiras a espiolharem-se umas às outras e os D. Manuéis de Portugal a botar a sua chalaça ou a glosar o seu mote. Tudo é relativo no tempo. Ariz do século XX está para a Lisboa antiga, como os seus serões estão para os serões realengos de antanho.

Ora sempre um dos serões, aquele que era mais concorrido dos rapazes e mais próprio ao baile, se fazia em casa do Roque, infalivelmente lastrado de palha limpa e com um franco e largo acesso.

Vai o César Valadas, a título de que semelhantes hábitos representavam uma costumeira bárbara, atentatória da moral e dos bons costumes, mandou ao regedor que intimasse os antigos donos das lojas a não dar serão em casa sua. Os Roques não se conformaram e deitaram-se à vila, acompanhados dos primeiros cabritos que haviam aparecido na manada para o senhor administrador. Argumentos deste foram sempre de peso. O Elias foi avisado de que não devia proceder assim de salto à extirpação de costumes que estavam enraizados no ânimo das gentes e antes procedesse com brandura e tolerância. Iam ser instaladas Casas do Povo em todas as aldeias de Portugal e então, sim, seria azado proibir semelhantes serões, que tinha a incomodá-los certa ausência de higiene, quanto aos locais, e o perigo que podia correr, não a virtude, que estava à prova de aço da moral, mas a ordem pública.

O Valadas é que se não deu de todo por convicto e refilou. Nos serões cometia-se toda a casta de poucas-vergonhas, desenterravam-se os mortos e enterravam-se os vivos, não falando nos amorios e indecorosa promiscuidade. Eram uma sobrevivência aviltante do tempo do rei que rabiou, imprópria de terra civilizada.

- E Jesus não veio ao mundo num estábulo? – observou-lhe o senhor administrador, que era da Católica.”

 

  (antonio)

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