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Magistério6971

Os autores deste jornal virtual apresentam a todos os visitantes os seus mais cordiais cumprimentos. Será bem-vindo quem vier por bem.

Magistério6971

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Ano Velho

Neste último dia do ano pequena caixa no JN despertou-me a atenção. Sinais que a cultura neste país é secundarizada.

Ora vejamos, casas que foram berço dos nossos melhores escritores estão em degradação, ou sem utilidade condizente:

- Eça de Queiróz na Póvoa de Varzim;

- No Porto, António Nobre, Eugénio de Andrade, Almeida Garrett e Arnaldo Gama.

 

   Ant.Gonç. (antonio)

Olhar o Porto - CCII(Sonho cor de rosa)

Normalmente passo as noites com algum sossego nos braços de Morfeu. De manhã quando acordo não tenho motivos para dizer que tive sonhos dourados ou não. Imaginações de mafarricos a quererem fustigar e a empurrar com forcados para uma fogueira em altas labaredas, sinónimo de inferno, contam-me alguns amigos que são molestados com tão bera sonhado.

Mas uma noite passada, excepcionalmente um sonho que me fez vaguear pela cidade do Porto. Andei pela baixa, sem sair da cama, eram três da manhã, e o que vi deixou-me nas nuvens. Na placa central da Avenida dos Aliados tinham sido repostos os emblemáticos jardins que tinham sido, há pouco mais de uma década, mandados às malvas por arquitecto de nomeada. Mesmo àquela hora da noite o perfume das flores fascinava magotes de turistas que de máquina em punho fartavam-se de registar esta beleza para levarem de recuerdo para as suas terras. Andei por ali, não cabia em mim, desço depois até à Ribeira, apinhada também de estranjas e fico-me junto à ponte Luís I. O trânsito era mais que muito e fico ali a olhar para o polícia sinaleiro que em cima da peanha domesticava a circulação. E aqui também os flaches das máquinas fotográficas pareciam clarões de relâmpagos, ninguém queria perder a pitada.

De manhã ao despertar a alva, abri a pestana, fiquei na dúvida se o que me tinha passado pela cabeça seria ou não verdade. Levantei-me num ápice, lavei-me à gato e fui direitinho ao GOOGLE certificar-me. E na verdade parte do meu sonho era realidade, o “cabeça de giz” lá estava, bem afiambrado, a dar no olho com luvas e capacete branco, junto à ponte Luís I, no cruzamento com a avenida Gustavo Eiffel. Quanto à Avenida dos Aliados, nada na manga, o eirado mantem-se e as pombas em concubinato com uma ou outra gaivota, vão-se espulinhando e larando no espelho de água, vulgo tanque, e debaixo das cadeirinhas pindéricas, que rodeiam o dito, pardais sorrelfas rapinam migalhas de alguma bucha dos camones.

Ficará certamente para a próxima o ajardinamento, senhor presidente da CMP, entretanto deixe de colocar naquele local carrocéis, pois na minha óptica não é coisa que dignifique aquele espaço nobre da cidade. Sobre  a Avenida dos Aliados já por aqui várias vezes chovi no molhado, desta vez foi à boleia de um sonho.

 

  Ant.Gonç. (antonio)

 

Eirada das "Terras do Demo"

“Cortavam o céu alto bandos de pombos bravos e, descuidosas, mondando o grão caído da espiga gorda, cantavam na terra das searas a perdiz e a corcolher. Já as cerejas tinham bichos e a cigarra emudecia longas horas, quebrantada de tanto zangarrear. As manhãs, até toarem os manguais, eram dum silêncio que se sentia do mais pequeno tropel de tamancos estreloiçando nas ruas.

Ainda o sol, furando às espaldas dos montes do Corregal, não se livrava – é um modo de dizer – duma pedra bem mandada, já a eira estava a postos. De chapelão de grande sombra, saiote vermelho e colete de atacadores, mulheres ajeitavam as cuanhas e estendiam mantas a toda a roda para caçar o grão respigueiro. Outras preparavam a eirada com desatar os molhos e espalhar a palha em carreiras, tendo o cuidado de deixar as espigas bem ao léu, para que se embebedassem de sol – o sol que as criara e agora ajudava os manguais a enxotar o grão para fora de seus casulos. E tão breve a palha aquecia, se punham em fila os malhadores.

Benziam-se por mor dos maus repetentes com o vinho, para que o pírtigo, saltando da carapula, não matasse, para a malhada não sofrer desmancho, e, entremeando mangueiras direitas com esquerdas a fim de não quedar a mão em aberto, encetavam a cubela. Todo esse debrum em volta da laja, necessário para desempacho das testeiras, não era de valha, dado no mole; como uma escaramuça folgada, zurra tu, zurro eu, levando ao longe os ecos intermitentes de um batuque, servia para espertar os tendões, pôr à prova as meãs. A tesura era na beira.

Aí, espinha flexuosa, braços jogando em cadência, fôlego por medida, rompiam. Pé atrás, pé adiante, seus dorsos eram mil arcadas fugidias sob o fugidio sarambeque dos pírtigos. Lá voltejavam eles, subindo e descendo tão certeiros e tão lestos que descobrirem-se bem só no ponto morto, ao alto, onde cobravam fortaleza. O mais eram relâmpagos brancos saraivando no ar.

… Era um buzinado de guerra. À porfia, de olhos no chão moventes em que o sol, já alto, se espojava num delíquio de luz e de fogo, apertavam uns com os outros.

… O grão lá ia largando, era ver as zagoletadas que acompanhavam o esguer dos pírtigos na palha delida. Conho, tinha que saltar, para ir ao crivo das cirandeiras, às arcas, à azenha, e volver do forno no pãozinho que, com tanto apego, se pede ao Senhor no padre nosso.

… A partir da segunda eirada, a laja acendia-se numa só labareda; diante deles os muros e as árvores dançavam; o chão metia-se pela terra dentro, apenas o vulto esbranquiçado das medas ficava a boiar à flor do sumidouro. E mais sanha lhes vinha para puxar a aziúme duns para os outros:

- Aguenta parceiro!

- Aí vai, minha mão!

- Eh, Cristina!

E, açulando-se com brutas vozes, despediam de roldão, pós-catrapós, em rijo rebimba-o-malho. Bumba, bumba, pírtigo em baixo, pírtigo no ar, bem empinado a adquirir substância, a palha parecia cortada a cutelo. O grão esperrinchava mais do que cuspido por bacamarte.

A mulher da beira, que ia encostando ao traço dos manguais as gabelas mergulhadas, cega de poalha, rolando e desenrolando-se, de gatinhas e às arrecuas, lembrava a ursa sábia no vaganau das festas.

Eram os arrancos danados. Os poros botavam água como fontes. Colava-se a roupa ao corpo.

… Ao cabo de três carreiras, como mandava o uso, esperava a cabaça do vinho. Era o minuto de cobrar fôlego.

… “

 

       (In “Terras do Demo” de Aquilino Ribeiro)

 

 

 

Ant. Gonç.

Bocas histórias, algumas foleiras

Figura carismática do antifascismo do antes do 25 de Abril de 1974 e governante em vários cargos no regime democrático, nonagenário destravado disse, entre outras sonantes trovoadas:

 

A dada altura; o socialismo deve ser metido na gaveta. Ele que era figura de proa do partido com esse nome.

 

Mais tarde; Ó senhor guarda, desapareça.

 

Agora; o casamento é para toda a vida, no entanto defende que o homem pode ter aventuras, (leitura minha, não sei se ao dizer homem também teria em mente mulher).

 

  (antonio)

Sopa de ministros

Vento forte, chuvadas e muito frio tinham sido ventiladas pelos alarmistas do boletim meteorológico para este fim-de-semana, mas a coisa ficou por menos.

Domingo, para sair um pouco à rotina foi-me proposto, aqui em casa, ir de manhã até Serralves. Havia lá uma venda de roupa da pequenada e então há sempre aquela curiosidade feminina de ver como andam as modas. Alinhei, não para ver a farrapada in, mas aproveitei para dar uma passeata pela quinta, ver a natureza que nesta altura do ano está mais mortiça. Entretanto também assentei arraiais no bar junto ao museu para dar uma vista de olhos no Jornal de Notícias.

Chegou a hora do almoço e aqui em casa como não havia nada feito, optamos por ir pôr os pés debaixo da mesa no restaurante. Um cozido à portuguesa não é coisa que se ponha de lado, uma vez não é vez, para quem gosta de se pôr distante das gorduras.

E um caldo de ministros, sugeriu-me o simpático empregado. Fiquei um bocado encarrilhado mas pus os meus neurónios a despertar e assinei por baixo, vou nessa. Aqui em Gondomar, terra que foi deles, nabos, é sempre num espírito de manter as tradições que me são caras. Que haja ministros nabos não será coisa muito acertada, agora que eles se redomem com cobertura nabiçal se safem à grande e à francesa parece evidente. Alguns têm ido dentro, outros têm passado nas malhas, mas que andarão com o coração nas mãos parece que sim.

De tarde estive por casa, liguei para a rtp memória, já que os canais generalistas era só futebol, Júlio Isidro entrevistou duas figuras interessantes, Maria Antónia Palla, jornalista, defensora dos direitos das mulheres e também o rei do rock and roll dos anos sessenta/setenta, Vitor Gomes. Interessante as imagens de há cinquenta, sessenta anos.

 

  Ant.Gonç. (antonio)

Ei-los os Tortulhos

Tarde soalheira e, lá me abalei de chancas, por montes e vales, à cata dos tão pretendidos tortulhos. 

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Estes exemplares passaram indiferentes a muitas pessoas, quiçá sofredoras de paropsia que não eu. De olhos bem arregalados, porém, com alguma ecmofobia, a pouco e pouco me fui embrenhando no matagal. Eis que, num recôndido esconderijo, surgiram estes imponentes exemplares,cada um mais exibicionista do que o outro. Logo pensei que seria o momento oportuno de substituir a minha alimentação egofágica por uma caldeirada de tortulhos. Meu dito, meu feito. Um bom refugado com presunto, salpicão, chouriço, bacon serviu-lhes de cama que, depois de bem apurados, a iguaria marchou com toda a glutonaria, não dando tempo sequer de cogitar nas consequências de um possível  efeito exicial. Como gado fraco não tem desvio, aqui estou eu vivinha da silva.   

Avidamente mançupidos nada  há  a oferecer. Resta, apenas, deixar-vos de  água na boca mas, se porventura decidirem procurar modelos desta natureza, a chefe promete divulgar, mediante quantia diminuta, a sua  receita original.

 

Com toda  a simpatia

 

Benilde   

 

Jantaradas de arromba

 

Soares fez 90 anos, encontro de comezaina com cerca de 300 amigalhaços ou simpatizantes, tanto dá.

Paroquianos de Canelas, jantarada com o pároco querido, saído de cena por ordem do sr. bispo, com 650 presenças!... É obra.

Sem estar por dentro das razões do paço episcopal, cada vez me convenço mais que a Igreja não prega, tal como os políticos não governam, a contento dos governados. Cada vez me afasto mais de uns e doutros.

 

  (antonio)

Pela ruralidade - CLVIII(Memória perdida, o canastro da Lameira)

Até aos meados do século XX a riqueza do meio rural estava sobretudo na terra que era aproveitada, leia-se cultivada, nem que fosse a mais pequena leirinha. Mas foi a partir da globalização que as coisas se inverteram com aceleração a todo o gaz. Em Macieira, Fornelos era o milho, centeio, vinho, mimos agrícolas e num tempo mais recuado o linho, que sempre foram o granjeio dos rurais. A par do cultivo da terra era o gado vacum, que ajudava os lavradores nos trabalhos, suínos, ovinos, caprinos, galináceos, láparos. Era um frenesim buliçoso dum país eminentemente rural.

Era perante este cenário do aproveitamento intensivo dos espaços agrícolas que até se chegavam a construir os canastros por cima dos caminhos públicos para que não ocupassem espaço em terra lavradia. Em 2007 tinha eu aqui num post referido um desses canastros. Agora tive conhecimento que foi retirado. As exigências de uma vida melhor, alargamento e calcetamento dos estreitos caminhos para acesso de carros, nomeadamente ambulâncias ou carros de bombeiros, ditam que vestígios de uma época vão ficando apagados.

Das minhas memórias de petiz sou levado a uma retrospectiva de quantos carros de vacas passaram nesse caminho sob essa ponte que o canastro formava. O meu próprio pai que tinha uma tapada a montante ali passou com carradas de mato para as cortes do gado e também de lenha para a cozinha, dava  um jeitaço para as noites frias do Inverno e para curar o fumeiro suspenso no sarilho.

As memórias de um povo também passam por aqui.

 

ver: http://magisterio6971.blogs.sapo.pt/2007/07/

 

 

 

  Ant. Gonç. (antonio)