Gente, sobretudo madura. Eram mais “cás” mães, à hora marcada sob a batuta do jovial maduríssimo Germano Silva. Praça nove de Abril foi o ponto de encontro. E logo ali que também é conhecido por manancial de Paranhos, houve um outro manancial de história, só por si bastante para justificar a aderência dos que marcaram, e foram muitos como já é habitual, presença.
O dia estava esplêndido para dar corda às canetas, algumas empenadas mas suplantadas com calçado confortável, ouvir e saborear o que o mestre tem sempre para partilhar, quer seja do palacete de Nazoni ou das casinhas mais modestas ou das quintas, que se foram, nestas paragens de Paranhos e Ramalde.
Mas voltando à citada praça, vulgo “Arca d´água”, oficialmente nove de Abril em comemoração da batalha de La Lys em 1918, primeira grande guerra, onde milhares de soldados portugueses pereceram. Manancial de Paranhos tem a ver com o abastecimento de água que daí ia para abastecer uma rede de fontes, fontanários, chafarizes na cidade do Porto. Essa água que ainda hoje corre, se bem que com outros destinos, em galerias subterrâneas, autênticas obras de arte, entre a referida praça e as imediações da praça Gomes Teixeira, vulgo Leões. Obra de cerca de três quilómetros iniciada no séc. XVI no reinado de Filipe I. Já tive oportunidade de fazer o trajecto dessa galeria espectacular, sei que agora as visitas, que eram feitas em grupo, estão interditas segundo me disseram por questões de segurança.
Seguimos depois a passo acelerado passando pelo Bairro do Carvalhido, quinta da Prelada com o seu magnífico portal em pedra trabalhada, de Nazoni.
Praça do Exército Libertador e rua nove de Julho, nomes relacionados com a entrada triunfante das tropas de D. Pedro IV no Porto. Quinta amarela e finalmente Rotunda da Boavista.
Saldo de mais esta visita à cidade, é sempre favorável, passar por locais muitos dos quais só conhecia de nome, é enriquecedor.
(Na imagem, Praça nove de Abril, Germano Silva bem como o rancho folclórico do Porto posicionando-se para dar início à jornada)
Facadinhas da ordem dadas às escondidas ou às escancaras por muitos que usaram a prima tonsura, era um ver se te avias. Sempre assim foi e quem tiver dúvidas e as queira dissipar, enfronhe-se nas leituras de Aquilino Ribeiro, mas não só, que bem retracta com naturalidade a não abstinência, que foi jurada a pés juntos, por esses humanos.
Agora casos de pedofilia, quem havia de dizer, no sector clerical!... Agora é o que foi pároco de Canelas a acusar desses abusos um outro padre de Fafe. Isto está lindo…
Mas quem não se lembra do bispo cá do rectângulo, que foi recambiado para o Vaticano, bem falante, boa figura, charmoso, que se estava a pôr a jeito com a ajuda da comunicação social para se sentar no cadeirão patriarcal de Lisboa. Também foi denunciado por um padre.
Sobre esta extinta profissão desenvolvemos aqui em 20/11/2014 um post onde lembrava a odisseia destas trabalhadoras a que aos olhos de hoje podemos dizer que eram escravas do trabalho.
O caro amigo Maurício Branco ao ler o meu arrazoado não perdeu tempo, deu-me umas dicas sobre as carquejeiras. Sugeriu-me então a leitura do livro “Humildes que trabalham” de 1939, autor Armando Gonçalves que foi jornalista no Primeiro de Janeiro. Fez o favor de me telefonar a pôr-me à disposição a brochura referida onde trata das carquejeiras e de outros ofícios desaparecidos.
Dizia eu no referido post que havia uma vaga de fundo de gente interessada pela feitura de uma estátua a essas mulheres no cimo da Calçada das Carquejeiras, antiga Corticeira, onde o suor lhes escorria da cabeça para os pés, estava no ar.
Ontem no JN é noticiado o anúncio dessa estátua a colocar em 2015, com imagem já elaborada do escultor. E dizia-se que o projecto dessa homenagem era ontem anunciado na Junta do Bonfim com a presença da última carquejeira viva com 94 anos. Ora aqui parece-me que há um desfasamento de notícia pois que o mesmo JN dizia em 16/9/2014 que tinha morrido a última carquejeira com 102 anos.
Vamos então querer registar fotograficamente essa merecedora estátua em 2015.
Há pessoas que devido ao seu carisma nos entram nas nossas memórias e aí perduram gravadas. Não me refiro àqueles que pelos seus feitos guerreiros ou intelectuais fomos bebendo nos livros, esses têm o seu lugar na história. Refiro-me então àqueles que nos foram entrando pela televisão e que nos habituamos a ver neles “pivots” dos assuntos que abordam.
Temos o “ senhor televisão” que por ironia do destino após um período aureo ninguém previa o que lhe viria a acontecer.
O “senhor da meteorologia”, Anthímio de Azevedo, aquela figura que aliava a simpatia à sabedoria com que tratava o clima e as alterações climáticas. Faleceu agora.
Outra figura que também quero aqui referir, “senhor do ambiente”, arquitecto Ribeiro Teles que está de vetusta idade. Sempre que havia problemas com inundações em Lisboa lá vinha ele à televisão dizer o que não se devia fazer em Lisboa, não construir nas linhas de água, corgos e ribeiras. Bem pregou Ribeiro Teles enquanto teve folgo para isso, mas os patos bravos do betão levaram sempre a melhor enquanto os políticos iam amouchando com a canga. Sempre que chove forte na capital muitas zonas ficam inundadas.
A cada passo andarilho pela Baixa do Porto a interiorizar o que tem sido sacrificado ao camartelo encabado por autarcas e arquitectos de nomeada. Já por aqui abordei o tema, mas pronto, mais uma vez aqui vai.
A Praça da Liberdade e a Avenida dos Aliados, palco de contestações antifascistas antes do 25 de Abril de 1974, foram transfiguradas para pior, deixam-nos com um ar desconsolado por tanta façanhice, falta de gosto gritante, abortando o que de melhor foi feito pelos antepassados com eliminação de jardins e artefactos de calcário e basalto pelos melhores canteiros.
O Porto que agora está num surto turístico assinalável, tinha como se vê na imagem uma sala de visitas com charme apelativo para os visitantes que nos procuram, mas foi-se.
A imagem reporta-se aos anos sessenta do século passado, chegou até 2001 sem alterações significativas, a partir desta data foi simplesmente mandado às malvas todo o glamour que este local irradiava.
Temos agora um eirado monótono encimado por um “espelho de água”, segundo o arquitecto de nome sonante feito à semelhança da fonte de Médicis dos jardins de Luxemburgo, em Paris, (dixit), mas que mais parece um tanque, bebedouro rural para animais pesados, já que as pombas por lá se vão entretendo, para não falar de putos que lá chafurdam na canícula de Agosto.
De toda a revolução de picareta salvou-se a manutenção da estátua equestre de D. Pedro IV, pois os cérebros da alteração paisagista queriam dar-lhe uma volta de 180º. Só não se concretizou porque gente de cidadania a isso se terá oposto, com argumentos fortes, nos meios de comunicação social. Já a mesma sorte não teve D. Pedro V, na praça da Batalha, foi mudado de poiso todo aquele imponente pedestal cerca de uma dúzia de metros ou nem tanto para sul. Diz-se que foi para ficar no enfiamento da Rua Augusto Rosa. Afinal estava centrado no meio da praça.