Olhar o Porto - CXCII(Passeio sanjoanino)
“O passeio de hoje vai ser um bocadinho comprido, dedicado ao S.João”, foram as boas vindas do veterano professor destas coisas, Germano Silva.
Local de concentração e de partida foi junto à igreja românica de Cedofeita, o templo mais antigo do Porto, anterior à nacionalidade. E logo ali deu umas dicas sobre as orvalhadas. Toda a área envolvente à igreja eram campos de semeadura e então quem viesse apanhar as orvalhadas nesses campos ficava imune a muitas doenças. Do mesmo modo o alho pôrro que havia em abundância eram colhidos aqui e ali e passavam pelas cabeças das pessoas para afastar males.
Estes passeios que quem como eu por cá anda, têm duas vertentes, a cultural e a física. O veterano condutor de massas não tem perna manca, direi mesmo que deixa com os bofes de fora muitos cinquentões, quem sofre de artroses fica fora do baralho, não tem hipótese de ir a jogo. Deixando este aparte vamos continuar.
Passamos pela emblemática rua de Cedofeita, muito ligada a D. Pedro IV a quando das lutas liberais. Travessa do mesmo nome e largo Sarmento Pimentel onde Germano Silva deu mais umas dicas sobre o S. João. Rua do Pinheiro, rua da Picaria e rua dos Caldeireiros onde mais uma vez foi paragem obrigatória junto à confraria de Nossa Senhora da Silva, padroeira dos homens que trabalhavam o ferro. Descemos à rua das Flores, obra dos Almadas, que foi sempre de grande actividade comercial e de gente da burguesia. Depois de ter estado adormecida parece agora voltar a ter frenesim até porque levou uma grande intervenção. Seguimos, atravessando a rua Mousinho da Silveira, até ao chamado pelo mestre largo da Cruz do Souto que é onde confluência a rua do Souto e a rua da Banharia. Na idade média o S. João era aí comemorado com grande garra mas também outros acontecimentos, como a festa dos reis, punham aquele local da zona da Sé em grandes movimentações. Hoje passa-se por lá, olha-se para o casario, velho e quase todo desabitado. É uma tristeza!...
Seguimos até às Fontainhas (aqui cruzamo-nos com um grupo orientado pelo prof. César Santos, meu conhecido sobre uma faladura sobre os cafés antigos do Porto, também um sabedor das coisas sobre a cidade) passando pelo simpático Bairro do Herculano, todo engalanado nesta quadra festiva. As grandes fogueiras do S.João tinham lugar nas Fontainhas, local também paradigmático para no passado se ver o fogo de artificio lançado da serra do Pilar. Rua General Freire e S. Vitor onde se viram algumas cascatas em várias ilhas com nomes pitorescos como ilha do Sr. Doutor e ilha do Galo Preto.
Finalizou-se esta longa caminhada física e mental no jardim de S. Lázaro onde o Rancho Folclórico do Porto, acompanhante já habitual destes passeios, deu a sua última actuação.
Ant.Gonç. (antonio)