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Magistério6971

Os autores deste jornal virtual apresentam a todos os visitantes os seus mais cordiais cumprimentos. Será bem-vindo quem vier por bem.

Magistério6971

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Das minhas memórias - O MVL(leia-se éme vê éle)

Já por aqui fiz umas crónicas sobre “histórias da guerra”. Tentei abordar aspectos da chamada guerra colonial, não vividos na pele por mim, mas observados de perto até porque tinha funções privilegiadas no comando do meu batalhão que me faziam ver a guerra também através da papelada.

Hoje lembrei-me de aqui trazer um dos aspectos logísticos a que a guerrilha obrigava. Então era assim. Por todo o norte de Angola havia insegurança quer nas vias de comunicação terrestres, normalmente de terra batida, as célebres picadas, e nas povoações. Era imperioso reabastecer os aquartelamentos espalhados pelo interior bem como fazer também chegar em segurança toda a logística para o comércio civil. Entram então aqui os MVL (movimentos de viaturas de logística), que eram extensos comboios de camiões que a partir de Luanda se dirigiam centenas de quilómetros para o interior. Eram enquadrados por tropa em viaturas militares normalmente Unimogs (burros do mato) e Berliets, que se posicionavam para dar segurança no início, meio e fim da extensa coluna que às vezes chegavam quase à centena. Esta segurança era normalmente reforçada em sítios referenciados de curvas e contra curvas entre morros, mais prováveis de ataques da guerrilha.

Os MVLs deslocavam-se periodicamente, quando passavam pelo meu aquartelamento aí ficavam um ou dois camiões com cerveja Cuca e Nocal e todo o tipo de víveres para a tropa aí estacionada. A passagem do MVL por Quicabo, sede do meu batalhão era um acontecimento que mexia com o ram- ram da tropa aí estacionada e também enchia de brio os militares que lhe faziam segurança e com quem na breve paragem entabulávamos franca confraternização.

Este foi mais um dos aspectos da estória da guerra colonial além de outros que por aqui desenvolvi em “histórias da guerra”.

 

Nota: nos meus arrazoados tanto posso seguir ou não o novo acordo ortográfico como quando escrevo “histórias” ou “estórias” a título de exemplo.

 

  Ant. Gonç. (antonio)

Germano Silva no seu melhor

Vejam esta máxima do veterano historiador do Porto.

 

Na última visita cultural sanjoanina, Germano Silva estava a debitar a sua sabedoria sobre o S. João quando a certa altura extravasa o seu habitual humor e anuncia aos presentes, que não eram tão poucos: estou p´ra aqui a botar faladura, mas atenção, se me der o fanico como deu ao Cavaco, não quero ser amparado por um militar mas por duas jeitosas raparigas!...

 

(antonio)

Olhar o Porto - CXCII(Passeio sanjoanino)

O passeio de hoje vai ser um bocadinho comprido, dedicado ao S.João”, foram as boas vindas do veterano professor destas coisas, Germano Silva.

Local de concentração e de partida foi junto à igreja românica de Cedofeita, o templo mais antigo do Porto, anterior à nacionalidade. E logo ali deu umas dicas sobre as orvalhadas. Toda a área envolvente à igreja eram campos de semeadura e então quem viesse apanhar as orvalhadas nesses campos ficava imune a muitas doenças. Do mesmo modo o alho pôrro que havia em abundância eram colhidos aqui e ali e passavam pelas cabeças das pessoas para afastar males.

Estes passeios que quem como eu por cá anda, têm duas vertentes, a cultural e a física. O veterano condutor de massas não tem perna manca, direi mesmo que deixa com os bofes de fora muitos cinquentões, quem sofre de artroses fica fora do baralho, não tem hipótese de ir a jogo. Deixando este aparte vamos continuar.

Passamos pela emblemática rua de Cedofeita, muito ligada a D. Pedro IV a quando das lutas liberais. Travessa do mesmo nome e largo Sarmento Pimentel onde Germano Silva deu mais umas dicas sobre o S. João. Rua do Pinheiro, rua da Picaria e rua dos Caldeireiros onde mais uma vez foi paragem obrigatória junto à confraria de Nossa Senhora da Silva, padroeira dos homens que trabalhavam o ferro. Descemos à rua das Flores, obra dos Almadas, que foi sempre de grande actividade comercial e de gente da burguesia. Depois de ter estado adormecida parece agora voltar a ter frenesim até porque levou uma grande intervenção. Seguimos, atravessando a rua Mousinho da Silveira, até ao chamado pelo mestre largo da Cruz do Souto que é onde confluência a rua do Souto e a rua da Banharia. Na idade média o S. João era aí comemorado com grande garra mas também outros acontecimentos, como a festa dos reis, punham aquele local da zona da Sé em grandes movimentações. Hoje passa-se por lá, olha-se para o casario, velho e quase todo desabitado. É uma tristeza!...

Seguimos até às Fontainhas (aqui cruzamo-nos com um grupo orientado pelo prof. César Santos, meu conhecido sobre uma faladura sobre os cafés antigos do Porto, também  um sabedor das coisas sobre a cidade) passando pelo simpático Bairro do Herculano, todo engalanado nesta quadra festiva. As grandes fogueiras do S.João tinham lugar nas Fontainhas, local também paradigmático para no passado se ver o fogo de artificio lançado da serra do Pilar. Rua General Freire e S. Vitor onde se viram algumas cascatas em várias ilhas com nomes pitorescos como ilha do Sr. Doutor e ilha do Galo Preto.

Finalizou-se esta longa caminhada física e mental no jardim de S. Lázaro onde o Rancho Folclórico do Porto, acompanhante já habitual destes passeios, deu a sua última actuação.

 

  Ant.Gonç. (antonio)

Teste de Literatura Portuguesa

Teste de Literatura Portuguesa

 

Quem escreveu?

 

No momento em que chegámos ao Mercado do Bom Sucesso chegaram também dois tabuleiros da confeitaria Moura em Santo Tirso: um cheio de jesuítas e outro cheio de limonetes. Nós éramos os únicos parvos que nunca tínhamos provado nem um nem outro……

 

Pouco depois chegou de Arouca, da deliciosíssima Arouca da doçaria conventual, um bolo de abóbora que era uma nuvem de leveza e de aboboridão mágica. Foi o melhor bolo de sempre-parecia uma alucinação. Sim, foi nos Gostos Com Memória que finalmente perdemos os sentidos. Foram Beijinhos, Castanhas e até Pedras Parideiras, todas fofinhas a levar-nos para o céu.


Começar logo pelo melhor, logo ali, em pleno Porto, no mesmo mercado, sem dar mais do que uns passinhos, convenceu-nos que tínhamos aterrado no paraíso. E, agora, quando voltarmos a Lisboa, quem é que nos atura?

A m/memória do 10 de Junho

O 10 de Junho que anualmente se comemora, é feriado nacional, dia de Camões e das comunidades portuguesas é sempre por mim sacado das minhas memórias, e porquê?

Já por aqui abordei o assunto quando em vários posts me referi a “histórias da guerra”, vou-me certamente repetir. Tinha o batalhão de que fazia parte acabado de chegar a Angola à zona de guerra, Quicabo de seu nome onde apenas havia um foleiro aquartelamento e alguns pretos dentro da cerca do arame farpado, que trabalhavam numa fazenda. Depois de alguns dias de reconhecimento do terreno com o batalhão residente que nos foi dando umas dicas sobre o inimigo, foi depois para o leste de Angola, ficamos entregues à bicharada.

Foi então precisamente no dia 10 de Junho de 1967 que uma coluna de viaturas militares entre o Caxito e Quicabo foi apanhada numa emboscada que resultou em mortos e feridos com uma viatura GMC incendiada, por sinal a que levava o correio que tinha ido da metrópole, um aerograma que os meus pais me tinham enviado, foi-se. Foi o baptismo de fogo que deixou o pessoal do batalhão abanado, mas havia que recuperar forças morais e físicas, pois a missão que tínhamos em Angola estava ainda no começo.

Eu que era militar do arame farpado, leia-se, tinha missão dentro do aquartelamento, também senti todo esse drama.

 

   Ant.Gonç. (antonio)

Pela ruralidade - CXLV (O carrousel SEPOL)

As memórias de infância vêm sempre à tona quando paramos e olhamos para trás. A romaria que se realiza anualmente no dia de Pentecostes, hoje, Senhor dos Enfermos, em Macieira – Fornelos, Cinfães desde sempre teve notada pelos concelhos vizinhos.

No tempo em que as vias de comunicação eram os caminhos para carros de vacas, não havia televisão e os automóveis eram uma raridade, ir à festa era um acontecimento preparado e falado com antecedência. Se uns faziam o percurso a cavalo outros, e seria a maioria vinham a penantes de longe, madrugada alta, geralmente eles com o garrafão de palhinha a galeto ou a borracha a tiracolo e elas com a condessa à cabeça que se iam revezando,  com mantimentos bastantes. Depois de  fazerem a romaria (entenda-se, cumprir a promessa ao senhor dos enfermos) , no fim da missa campal alapavam-se pelos arrabaldes do arraial debaixo de algum pinheiro mais coposo, estendiam uma toalha e era um ver se te avias no comes e bebes.

Bem, mas eu quero falar do icon que fazia as delícias do meu sentir de petiz. Era o carrossel SEPOL que tinha chegado antes do dia da festa para ser montado. Era circular com ondulações de subidas e descidas, bancos corridos e individuais giratórios,  cavalos, póneis, girafas e outras simulações faunísticas. Fazia as delícias da ganapada e até dos campónios que só tinham visto, se é que tinham, o comboio da linha do Douro andar sobre carris. Quando deixei a primária ou pouco depois, nesta festa começaram a aparecer as pistas de automóveis e então era o climax  para os serranos que ficavam inchados cheios de nove horas de poderem conduzir um automóvel.

Na actualidade todo o tipo de divertimentos estão ali, dão um caracter cosmopolita a uma romaria que foi eminentemente rural.

 

  Ant. Gonç. (antonio)

 

 

 

Dando vida ao passado (os fogareiros a petróleo)


 

Estes práticos e luzidios fogareiros fizeram furor, desfilando nas  passarelles  de tapete vermelho com toda a pompa e circunstância, sob os olhares maravilhados das pessoas que, não sofrendo de neofobia, os aplaudiam com  entusiasmo esfuziante.

Idealizados por alguém com  neurónios acima do comum dos mortais, contribuíram para  facilitar a vida das mulheres deste planeta, por se revelarem mais cómodos, rápidos, limpos e de fácil manejo.

 

No tempo, que tinham como ritual acordarem aquando o cantar dos galos para acenderem a fogueira, com todos os requisitos e exigências, tais como partir a lenha, transportá-la, atiçar o lume para que as chamas se tornassem suficientemente espertas e incandescentes para ferver a água do púcaro de barro, onde se fazia o café, a invenção destes fogões veio contribuir para  uma verdadeira revolução  na arte de cozinhar.

 

Físicamente, são  constituídos  por um depósito em cobre onde se pode observar um orifício fechado  com uma tampa de enroscar  por onde engolem, avidamente, a sua bebida favorita-- o petróleo. Numa posição inferior,  funciona uma pequena bomba que accionada contribui  para uma maior intensidade da chama. Da base saem três hastes em ferro que servem de suporte às tempres onde se colocam as panelas. Estes dois exemplares só diferem nas formas das tempres: uma é circular, a outra oval.

Por vezes, os bicos entupiam devido às impurezas do petróleo. De imediato, entrava em função um objeto metálico com uma finíssima agulha que se propunha a eliminar todos os intrusos.

 

Recordo e aqui partilho uma peripécia engraçada relacionada com este invento, tendo como personagem principal a minha única tia paterna. Contou-me ela que, incluída num coiquinho, ficou de “conversé”a fim de se inteirar das últimas novidades bombásticas do jornal diário da aldeia, tendo como certo o  bom desempenho do moderno fogareiro. O tempo foi passando e a hora do almoço aproximara-se. Apressadamente regressa a casa, faz várias tentativas para o acender, mas em vão. Este teimoso  e determinado não colaborava apesar de todas as diligências tomadas como accionar a bomba, desintupir a canalização. Enervada com a situação atira a inerme maquineta pelas escadas abaixo, que estatelada no chão mais se assemelhava  a um sapo de pernas escarrapachadas. Não contente com a proeza buscou um machado e definitivamente deu-lhe o golpe final, passando de imediato a certidão de óbito à infeliz. Escusado será dizer que esta protérvia teve como consequência um trabalho acrescido como acender o lume e todo o exercício físico associado a esta atividade.

 

 

A invenção destes fogareiros e os seus sucessores mais sofisticados ajudaram não só a melhorar a qualidade de vida das mulheres como também na confeção dos alimentos. Contudo, cá pela serra, uma boa posta de carne arouquesa só se lhe atribui a excelência quando assada num tradicional  forno a lenha. O mesmo digo de um cozido à portuguesa feito numa panela preta ao lume. Mas tudo depende do(a) chefe que pilota a cozinha. Na lista dos ingredientes indispensáveis devem constar  criatividade, talento, empenho, habilidade, conhecimento e muita paixão.

 

Estes dois exemplares melaxantos são herança de família. Já os submeti a uma superficial limpeza de pele para reavivar num deles as inscrições Indústria Portuguesa, um pastor semi-nu, com um cajado e um carneiro. (Não deixa de ter piada); no outro são visíveis as palavras Carfan, fogão nº 2 e  dentro de um triângulo as letras CARSA? de tamanhos diferentes.

Apesar de idades muito avançadas não houve necessidade de tratamento com  botox, como podem constatar.

 

Estas duas relíquias, maquinetas preciosas e raras, fazem parte das minhas memórias, guardando-as como tantas outras num espaço físico; contudo,  por encerrarem tantas informações e inesquecíveis histórias dos meus entes queridos reservo-lhes um lugar especial num dos cantinhos dos meus afetos.  

 

Com muito afeto


Benilde      

Olhar o Porto - CXCI(Os botequins)

A amiga Maria P. como sabe que eu gosto destas coisas, ela também gosta, alertou-me para uma faladura que ia haver neste sábado no palácio Balsemão, na praça Carlos Alberto, sobre os botequins do Porto.

Sábado de tarde, como nada tinha encomendado, então fui nessa. Não tenho a pretensão de saber a história de cada pedra da calçada, nem pouco mais ou menos, mas tudo o que vier é ganho. Com sapatilhas “running”, marginal fora aí vou eu, moro em Valbom, passo por baixo de cinco pontes(Freixo, S. João, Maria Pia, Infante e Luís I) sempre com o Douro à vista ; Ribeira e subi ao morro da Vitória e logo a seguir passo pelo campo do olival (a referência foi pescada com a plantação de dezenas de oliveiras seculares) e cheguei ao largo dos ferradores, actual praça de Carlos Alberto.

Palácio de Balsemão e então o professor entendido em assuntos do Porto falou para uma assistência madura sobre os botequins/cafés. E logo aí esclareceu que os cafés do século XX foram os sucessores dos botequins do século XIX. A vida social, cultural, política e cívica passava pelos botequins e já no séc. XX o mesmo acontecia com os cafés. Os botequins tinham uma extensão na oferta: café, cervejaria, bar, taberna e casa  de pasto. Também eram locais de jogatinas que muitas vezes despoletavam em pancadaria. As mulheres não tinham entrada nos botequins. Já os cafés do séc XX eram muitas vezes locais de negociatas e tertúlias. O historial dos botequins e cafés foi dissecado com as características de cada um bem como os locais onde se situavam. Camilo, Arnaldo Gama, Aquilino, Ramalho Ortigão, Sampaio Bruno e outros roçaram as cadeiras daqueles espaços minando o regime em vigor.

O Pasmatório dos Loios ali pelo Passeio das Cardosas foi também local por onde vagueavam e por ali se demoravam escritores, ociosos, coça esquinas, dândis, janotas, era onde pulsava o sentir da cidade.

Botequins do Frutuoso, do Pepino, do Amaro, da Neve bem como os cafés Guichard, Camacho, Primavera, Lisbonense, para cada um havia uma estória com características peculiares quase sempre com os intelectuais à perna.

Para os actuais cafés dos nossos dias, alguns bem emblemáticos fica para uma próxima, disse o professor César Silva.

 

  Ant. Gonç. (antonio)