Cai neve
Eles aí estão os flocos de neve, planando delicadamente pelos ares. Baloiçados pelo vento indagam, sem cessar, o local ideal para poisarem as sementes que tão cuidadosamente protegem.
Entram descaradamente, sem licença prévia, nas nossas casas, bastando-lhes apenas depararem com uma porta ou janela entre-abertas.
Bem em frente à minha casa, de numerosos choupos irrompem finíssimos flocos, semelhantes também a tufos de algodão, que se vão dissipando pelo vento, a grande distância.
Claro, que muitos deles dão primazia à minha companhia. Por se revelarem tão irritadiços, defendo-me desses intrusos, não com pá nem picareta, apenas, mantendo tudo bem fechado. Não tenho como hábito o uso de máscara. Contudo, abdico ficar boquiaberta perante revelações bombásticas.(Apesar de já nada causar espanto, nesta vida). É que os tufos, sem cerimónias, entram num ápice pelas goelas abaixo e o sufoco acontece.
Muitas pessoas exigem o abate dos choupos, dando como justificação precisamente as suas alergias. Assim sendo, penso eu que também deveriam ser abatidas muitas outras espécies de vegetação e no rol também se incluiriam todos os veículos (excetuando bicicletas e carroças).
Segundo os entendidos os choupos, acusados injustamente de todas as reações alérgicas, não são os maus da fita. Há inúmeras espécies de pólenes que atacam à socapa, só que não se vangloriam pelos ares.
Consoante a intensidade do vento, estes exímios dançarinos estão preparados para apresentarem qualquer tipo de dança.Se a brisa é suave, delicadamente, exibem o clássico bailado “O lago dos Cisnes”. Se porventura, uma louca ventania se levanta, rodopiam em frenesim, as nossas danças tradicionais-Malhão,Tirana...Só me resta observar, uma coreografia onde esteja implícita a dança do kuduro.
Atendendo a que esta exibição só tem duração de duas semanas, tento conviver serenamente com todos os incómodos gerados por estes planadores, até porque é uma forma de distração para os meus olhos prognosticar até aonde estes delicados dançarinos conseguem chegar.
Benilde