25 de Abril
Aqueles que estão na casa dos cinquenta e daí para cima têm memórias vivas do que aconteceu no dia 25 de Abril de 1974. Pertenço a esse grupo, presenciei ao vivo as mudanças do regime com muitos engulhos à mistura.
Na altura trabalhava bem perto do quartel general da polícia política aqui no norte, refiro-me ao edifício no largo Soares dos Reis, que hoje é museu militar. Então andei por ali a ver como as coisas se desenvolviam para apear a PIDE. Enquanto havia hesitações sobre o que fazer a essa organização policial o povo ia-se juntando tomando iniciativas de “abaixo o fascismo” e automóveis particulares dos esbirros da PIDE, estacionados na rua António Granjo, começaram a ser incendiados. A Engª Virgínia Moura, o intelectual Óscar Lopes e o na altura coronel Azeredo subiram à varanda do palacete e anunciaram a libertação dos presos políticos que aí estavam à ordem da PIDE/DGS. Os agentes desta polícia foram entretanto levados nas caixas dos camiões militares para o quartel general mas foram libertados segundo tenho de memória.
Pela baixa do Porto dois líderes estudantis, Pina Moura (este agora um burguês de todo o tamanho) e Horácio Guimarães, à volta da estátua equestre de D. Pedro IV, incendiavam as massas populares com palavras de ordem.
Tinha-se iniciado um caminho para a democracia com avanços e recuos. As liberdades a todos os níveis foram plenas e já não havia necessidade de à socapa ouvir a rádio "Moscovo" ou a “Portugal Livre” de Argel.
Passados quarenta anos podemos dizer que o 25 de Abril valeu, mas seria esta “democracia” que todos augurávamos naquela data? Hoje a insegurança está a tramar todos os viventes do 25 de Abril e os que vêm atrás.
Não tivemos nestes quarenta anos governantes com estaleca, foram sempre uns servidores aduladores dos ricos da Europa, deixando descambar o país como pobre de mão estendida.
Ant. Gonç. (antonio)