O milhafre
Como gosto de acordar cedo, no meu quarto tenho o hábito antigo de nanar com as persianas levantadas, não fico a contar carneirinhos pois prefiro dar à sola, não tenho pachorra para ficar na sornice. Mas um dia destes excepcionalmente depois de abrir a pestana comecei a magicar naquela javardice de exigirem 20.000 euros a um octogenário com reforma de miséria pelo facto de ter em seu poder um milhafre. A notícia andou pelos noticiários das TVs e com ironia pelos comentadores. É uma ave de rapina que poderá estar em vias de extinção e como tal protegida por lei como qualquer ave silvestre, concordo. Recordo-me quando era puto(esta palavra tem uma certa bonomia no masculino, já no feminino nem por isso) lá na terra o milhafre a planar lá nas alturas quando via uma ninhada de pintos marcava um que se afastasse mais da mãe e num voo picado agarrava o desgraçado.
Eu próprio que me considero um amigo da natureza interroguei-me em que país estamos. Fiquei tristemente consciente de ver que grandes “palmadas” se dão por outros milhafres, esses sim de rapina que deviam estar engaiolados, e nada lhes acontece, como nos casos conhecidos da banca. Virem agora despuradamente querer sacar dum pobre cidadão 20 mil pelo facto do homem ter socorrido um milhafre ferido e o ter alimentado durante muitos anos não dá para entender.
Estamos tramados com esta gente de mentecapos que têm falta de bom senso.
(antonio)