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Magistério6971

Os autores deste jornal virtual apresentam a todos os visitantes os seus mais cordiais cumprimentos. Será bem-vindo quem vier por bem.

Magistério6971

Os autores deste jornal virtual apresentam a todos os visitantes os seus mais cordiais cumprimentos. Será bem-vindo quem vier por bem.

Olhar o Porto - CLXXXVI(Os fidalgos e os palácios)

O encontro tinha sido anunciado no JN junto à meia laranja na porta principal do palácio de cristal. Ora para bom entendedor meia palavra basta, mas há que chamar os bois pelos nomes. Pois o palácio de cristal (ver imagem) foi destruído nos anos cinquenta do século passado, agora temos no mesmo local uma calote esférica que baptizaram com o nome de pavilhão Rosa Mota. Apenas os jardins resistiram à febre diabólica destrutiva. Dizia o interventivo António Fernandes director do rancho folclórico do Porto, que acompanha sempre com o rancho estas visitas à cidade, que o povo do Porto como que numa de afirmação vingativa continua a apelidar o actual pavilhão por palácio de cristal. Aqui eu direi que poderá ser assim ou nem por isso, na cidade há lugares que apesar de terem mudado de nome oficialmente, o povo continua a dar-lhes o nome com que ficaram conhecidos como Cordoaria, Cancela Velha, Leões, Arca d´água etc.

O grupo numeroso aguardava no local o jovem octogenário, não licenciado, que sabe coisas do Porto até mais não. Logo ali Germano Silva disse que os nobres não estavam autorizados a viver na cidade e assim sendo poucos palácios existem. Entenda-se que a cidade estava confinada à muralha Fernandina. Alguns palácios no entanto existem que pertenceram a mercadores burgueses endinheirados, que apesar da sua pujança não ostentam pedra de armas que eram só apanágio de fidalgos nobres.

Rua de D. Manuel II, Torre da Marca onde se falou do Pedro Sem. Palacete das Carrancas, actual museu nacional Soares dos Reis. Rua de S. Bento da Vitória, palacete onde funcionou até à pouco tempo a Judiciária. Rua de S. Miguel, Rua das Taipas e Largo de S. João Novo aqui o palácio, obra de Nasoni, onde funcionou o museu etnográfico. Rua de Belmonte, belo edifício dos Pachecos Pereira onde actualmente funciona uma cooperativa de ensino artístico e chegamos à Rua das Flores, a rua da burguesia mercantil, foi uma das mais importantes da cidade. Agora sofreu uma grande intervenção urbanística, pode ser que volte a levantar-se da letargia que ultimamente a estava a definhar.

E assim se passou uma manhã de domingo, fresca, com uns pingos a virem lá de cima mas nada que fizesse perigar mais esta aula descontraída ao ar livre.

 

  Ant. Gonç. (antonio)                                 

O meu ferro de engomar

Concebido com o objetivo de sacrificar as mulheres, este vetusto exemplar tinha como função alisar os tecidos de forma a dar-lhes uma boa aparência e asseio.

Fabricado em ferro, daí o nome, era extremamente pesado e de difícil manejo.

 

Consumia avidamente brasas, de preferência incandescentes, que se retiravam da fogueira com ajuda de umas tenazes, (convinha) sendo depositadas na parte oca do ferro. Depois de bem fechado com uma patilha de segurança, esperava-se algum tempo para o bem aquentar e, então, iniciava-se o  tão moroso e cansativo processo- passar a roupa a ferro.

 

Quando o termostato apontava descida de temperatura, para continuar a lida com bom desempenho, era necessário soprar por um orifício que se encontrava por detrás do ferro, para que as luculentas brasas reacendessem. Portuguesmente falando soprava-se-lhe no cu. Este procedimento era repetido inúmeras vezes, até ao final do trabalho.

Pois, engomar a roupa há uns anos atrás não era tarefa muito fácil.Por vezes, o azar acontecia, uma faúlha soltava-se e lá diz  o ditado popular "No melhor pano cai a nódoa". Quando isso acontecia uma descarga emocional de orações não se fazia esperar"Ai valha-me Deus. O Senhor me acuda".

 

Felizmente para bem das mulheres, estes ferros tradicionais foram substituídos pelos de energia elétrica, mais leves, práticos e eficientes.

 

Este exemplar foi herança de família. Guardo-o com muito carinho, apesar de, na minha meninice nutrir pouca simpatia pelo bicho. Dezenas de vezes, proferia irritada que o seu inventor deveria levar com ele na cabeça. É que, obrigatoriamente,  segurava nas pontas dos lençóis de linho para que, passo a passo, a minha mãe esmeradamente os engomassem. Eram minutos intermináveis.

 

Ao longo de tantos anos de trabalho, se este ferro fosse falador, inúmeras e prodigiosas histórias poderia nos relatar. Umas protagonizadas por mim, outras só presenciadas, mas todas elas registadas no meu currículo de vida e, bem guardadas para sempre, num dos cantinhos das minhas recordações.

 

 Benilde

 

 

 

Pela ruralidade - CXLI(A natureza também chora)

O saber não ocupa lugar, vamos então aqui partilhar saberes sobre agricultura. Depois de vários meses em que a chuva não deu tréguas, acompanhada de frio e neve, a natureza esteve triste como que associando-se aos humanos, também eles macambúzios. O sol apareceu e a natureza agradeceu ao astro-rei a luminosidade e o calor. Mas neste fim-de-semana novamente uma chuva fria chegou e a natureza que tinha ficado eufórica ficou agora encortiçada. A Primavera chegou mas apenas no calendário, pois as alterações climáticas vão-nos dizendo que das quatro estações do passado, agora temos que viver com duas. Mas isto não é só de agora, estamos ainda em Março é verdade, mas já os nossos antepassados diziam que em Abril ainda se queima o carro e o carril.

 

Tinha já há uns tempos desbastado a lenha velha dos Kiwis. Deixei para mais tarde, e as condições atmosféricas foram adiando,   a amarração das jovens varas na ramada, pois são essas que irão frutificar. Com um companheiro de jornada meti mãos à obra da atadura, tendo ainda necessidade de cortar uma ou outra vara mal orientada. Tudo feito com a sabedoria acumulada de anos nestas andanças. Algumas varas já com gemas e as poucas que foram cortadas choravam perdidamente. Sinal de que a planta já está na fase de desenvolvimento acelerado após o repouso invernal.

Vamos agora acompanhar e providenciar que o sistema de rega faça o seu trabalho, o engenho artesanal, já por aqui falei nele, está montado no tanque para ser ligado na altura própria, pois os Kiwis são uns bebedores incansáveis para poderem dar bons frutos. Vindos lá do extremo oriente, China e Nova Zelândia, estas plantas dão-se bem na região litoral do nosso país onde a humidade atmosférica é mais significativa. Interessante que a quando o 25 de Abril de 1974, penso, ninguém ou poucos tinham ouvido falar em Kiwis. Estou a lembrar-me da primeira plantação de Kiwis em Gaia, por um médico, que na altura deu brado.

É um fruto de boa durabilidade após a colheita, praticamente imune a pragas e com muitas propriedades nutritivas que podem ser pesquisadas na NET.

 

  Ant. Gonç. (antonio)

Pela ruralidade - CXL(Deitar os carrapatos)

Há usos e costumes que se vão esfumando na voracidade do tempo. Quando olhamos para trás e no mesmo instante nos situamos no presente ficamos abismados com o antes e o depois.

Estive a dar uma vista de olhos num livro de 1933 sobre o concelho de Gondomar e a páginas tantas aparece-me uma descrição que me despertou a atenção e de que mais adiante vou referir.

Era eu um petiz, tenho de memória ouvir dizer aos meus progenitores sobre umas brincadeiras, hoje dir-se-iam de mau gosto, que a rapaziada gostava de fomentar. Então era assim, quando determinada moçoila da terra saía fora dos eixos ou quando determinado entradote tinha uma amiga (ter uma amiga é a designação que ainda hoje se usa no meio rural, no meio citadino diz-se, ter uma amante), os rapazes posicionavam-se em colinas sobranceiras à povoação e, de noite entretinham-se em altas denunciações, geralmente com funis ou cornos de boi, especulando sobre o comportamento dos visados. Às vezes dava para o torto quando eram descobertos os maldosos.

No livro que atrás me referi diz-se que esse costume antigo dava-se por altura do Carnaval e então diz que os rapazes deitavam os “carrapatos” às moçoilas do lugar. E passo a citar. Depois de estarem juntos, um toma um chifre furado e começa a dizer (por exemplo): carrapatos de pato, carrapatos de burro, piolhos de pardal, tudo a ferrar no umbigo… (Pergunta outro rapaz): - De quem companheiro? (Responde o primeiro): - Da Maria do Cabral. (Responde o coro): Apoiado companheiro. E continuam assim até terem deitado os “carrapatos” a todas as raparigas do lugar, exceptuando as que estão de luto.

Eram estas as brincadeiras de antanho que se vão indo de vela como referi no início.

 

   Ant. Gonç. (antonio)

 

Olhar o Porto - CLXXXV(O Astória)

O que hoje é verdade amanhã é mentira, foi a máxima que ficou célebre de Pimenta Machado que foi aguerrido presidente do Vitória de Guimarães.

Esta bombástica que na altura em que foi proferida criou um suspense nas cabeças pensantes. Mas na actualidade enquadra-se perfeitamente no tecido social e que foi reforçada pelo actual primeiro ministro quando jurava a pés juntos que não ia aumentar os impostos e é o que se sabe. E não podemos acreditar que uma verdade verdadinha não se torne numa não verdade.

Nas minhas divagações pela Baixa do Porto, numa de dar água sem caneco, mas sempre com o nariz afilado a sentir a cidade, quando por lá passo, espreito e de café nada se me aparenta. Estou a falar da esquina nascente do edifício das Cardosas onde existiu o Café Astória. Quando o palacete, hoje hotel intercontinental, entrou em grandes obras foi dito que o Café ia abrir, o que aconteceu mas por pouco tempo.

Helder Pacheco atento às tradições do Porto, no JN regozijou-se com grande foguetório pela abertura do centenário Café. Afinal foi chão que deu uvas.

Grande promoção para o Astória das nossas memórias que de café virou restaurante  in.

 

     (antonio)

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