Esta notícia é daquelas que me causa um verdadeiro nojo. Fico irritadíssimo. Faz-me lembrar a minha actividade docente e duas coisas a ela associadas: o trabalhar sempre que possível de porta aberta e o nunca ter proximidade física com alunos, principalmente se estivesse sentado na «cátedra». Felizmente, tive sempre o bom senso de pôr em prática estas duas medidas e não dar origem, assim, a suposições. Já imaginaram o que diriam mentes doentias se me vissem a acariciar crianças, sentado no cadeirão, enquanto ou depois de explicar algo? O seguro morreu de velho e mais vale prevenir do que remediar. Já o mesmo não pensariam se eu fosse mulher, não é verdade?
Ponto de encontro de gente ávida para saber mais sobre a cidade com o historiador Germano Silva, foi no sítio da cividade, ao cimo da rua do Corpo da Guarda. Foi ali a dois passos da Sé, (Eh, por falar na Sé, é uma dor de alma daquele morro olhar para o telhado da catedral e ver o que mais se parece com um campo de erva, então D. Manuel Clemente deixou a Sé naquele miserável estado?!... Vai sobrar para o novo bispo,António Francisco, pois vai e quanto antes) o núcleo primitivo da cidade rodeado pelas muralhas romanas – a cerca primitiva. Logo ali se soube pela boca do grande mestre e também do seu colaborador António Fernandes, director do rancho folclórico do Porto, um sabedor também das coisas da cidade, que ali existiu o teatro Corpo da Guarda. António fez o historial do teatro desde a mitologia grega.
Germano, um comunicador por excelência, dizia que os portuenses sempre foram virados para o teatro, pantominas e festas populares. No aspecto religioso faziam-se muitas e extensas procissões e não é por acaso que havia muitas capelas e cruzeiros que foram sendo mudados de sítio ou destruídos por exigência da vida moderna.
Teatro S. João dos nossos dias, foi a grande referência de teatro no Porto e no país. O edifício foi a primeira obra feita em betão armado. Ainda na praça da Batalha, o Águia d´ouro, actualmente hotel, foi aberto como teatro, na parte de cima tinha uma hospedaria e em baixo um café frequentado por gente das letras, Guerra Junqueiro, Antero de Quental, Camilo e outros.
Teatro de Santa Catarina que ficava no local onde actualmente existe o hotel do Porto. Fazia parte de uma residência da grande vinhateira D. Antónia Ferreirinha da Régua.
Teatro Experimental António Pedro na Rua do Ateneu Comercial do Porto que teve grande dinamismo nos anos sessenta do séc XX.
Teatro Trindade e Camões e mais abaixo o Rivoli que foi construído para teatro mas já com funcionalidade para cinema.
Teatro Sá da Bandeira, antigo Circo e mais tarde Príncipe Real, muito ligado ao célebre café da Brasileira pelos actores e coristas da parte do teatro e gente intelectual da Brasileira.
A dois passos, o teatro Baquet que ardeu em 1888 com dezenas de mortos. E aqui Germano ao lembrar este drama disse que muitos teatros arderam pois eram construídos com materiais perecíveis.
E como a hora já ia adiantada desenfiei-me do grupo perdendo assim mais dicas sobre os teatros portuenses.
Assim é, Cinfães terra que sofre a carga da interioridade, raramente é falada nos meios de comunicação social. E quando o é, pelas menores razões vem a terreiro, nomeadamente um dos concelhos, senão mesmo o que tem maior taxa de desemprego. Também quando a neve interrompe a estrada nacional 321, entre Castro Daire e Cinfães, na serra do Montemuro, aí temos os noticiários.
Mas desta vez o JN enche duas páginas a falar do novo bispo do Porto que tem raizes em Tendais, Cinfães, onde vai amiúde lê-se no desenvolvimento da noticia. Afinal uma figura da Igreja trouxe Cinfães para as primeiras páginas!... E como é habitual nestas situações não faltam elogios ao sucessor de D. Manuel Clemente, com ingredientes como convém, fervoroso adepto do FCP.
PS: Nestas indigitações para altos cargos há sempre os bajuladores e os críticos surrateiros. Quanto a estes ainda na destacada notícia do JN, publicitou um destacado cónego e jornalista: "... a sua (do indigitado) surpresa ao ser nomeado não é menor do que aquela que despertou na diocese do Porto. Havia outros nomes desejados, mas D. António Francisco dos Santos poderá contar que será recebido com a fidalguia eclesial dos católicos do Porto". E noutro passo diz: "Não o espera um trabalho fácil. Além de ser um homem simples e de trato amável e educado, terá de ser um bispo capaz de gerir alguns dossiês complicados".Já o porta-voz da Conferência Episcopal Portuguesa, Manuel Morujão, que se pronunciou duma maneira dúbia quanto aos casos de pedofilia de membros do clero, é bom recordar, vai numa de estar de bem com todos "um pastor próximo e amigo, acolhedor e dinâmico", diz.
Como intróito deste post direi que o burro nunca rejeita uma cenoura e é dócil quando o almocreve lhe ajouja o cabresto, o mesmo não se poderá dizer do burro xucro. Eu não vou ter grande sorte, apesar de ser um cidadão submisso que cumpro com as minhas obrigações fiscais, penso. Cumpro não será bem, vou na onda quando pago um serviço ao canalizador e o filho dum gaio não passa factura como deve ser, se bem que eu fico na moleza. Dá-me jeito não desembolsar 23%, mas a culpa maior não será minha.
Tenho um amigalhaço que foi industrial e nessa qualidade recebia negociadores estrangeiros. Iam almoçar e em cavaqueira sobre a factura da despesa, os estranjas se interrogavam sobre a fuga ao fisco que por cá grassa e que na terra deles isso não acontecia. Num país de murrinhanha governado por gente sempre com mira na conezia (sugiro o dicionário para não interpretarem malandrices do Relax), vieram agora como se fosse uma ironia, oferecer aos portugas um “topo de gama “,este governo lembra-se de cada uma.... E aqui fiquei a magicar num Maserati, um Jaguar ou até um Mercedão daqueles à jogador que os craques do futebol da primeira liga, dos três maiores clubes, ostentam, ou ainda como aqueles dos ministros (ah, um andava de mota, Mota Soares, nome mesmo a condizer, o da solidariedade numa de exemplificativo), e por aqui me fico. Eu que fui sempre um terra a terra, nada de cavalarias altas, ver-me-ia em palpos de aranha para aguentar as fogosidades generosas destas máquinas: imposto de circulação, seguro, inspecção, tudo a doer, para já não falar nas goelas abertas para a andadura desses quatro rodas gulosos. E agora numa altura em que as sarrafadas nos vencimentos são de caixão à cova não vem nada a calhar. Mas a inveja dos vizinhos verem-me dentro dum carrão com vidros fumados deixar-me-ia com alguma cagança que não era de desperdiçar!...
Dizia eu no princípio que não vou ter sorte, pois não, não sou jogador de lotaria, nem do euro-milhões, raspadinha joguei uma vez, totobola e totoloto já me arrisquei mas deixei-me disso, rifas também já comprei apenas com caracter de beneficência, nem me importei de verificar se me tinha saído a gaita-de-foles. Há, joguei ao pião, ao berlinde, à macaca e também joguei a feijões quando era puto e usava calças de meia perna.
Sou pois um cidadão que tenho mais ou menos em ordem os meus deveres de cidadania e como tal não vou atrás de gambuzinos.
Já por aqui disse que não sou leitor marrador dos autores portugueses. Digo isto com alguma mágoa de não ter grandes capacidades de leitura. Mas vou fazendo um esforço que é traduzido em satisfação quando acabo um livro.
Há um autor que me é apetecível, já devorei alguns livros de Aquilino Ribeiro, o último foi “quando os lobos uivam” e agora assentei baterias para a “casa grande de Romarigães”. Este autor é-me particularmente afectivo, pois retracta o meio rural das Beiras na primeira metade do século XX com traços genuínos. Desce ao meio campónio com uma fraseologia serrana rica de significados, sendo ele um intelectual dos meios citadinos, como se fosse um entre os demais. Temos que na leitura, parar a miúde, ir ao Porto Editora e mesmo aí ficamos por vezes em branco, então vamos ao GOOGLE.
Era um crítico dos poderes da altura instituídos e não lhe escapava o meio eclesiástico, tendo sido um ex-seminarista. A sua craveira literária era reconhecida até por Salazar que dizia que era um inimigo do regime mas que isso não importava pois era um grande escritor. Os governos do pós 25 de Abril de 1974 também reconheceram o grande mestre Aquilino, deram-lhe guarida no panteão nacional.
Crítico das instituições académicas, aqui no Porto referia que a verdadeira Universidade era na Praça da Liberdade com troca de saberes entre os intelectuais quer nos cafés que aí havia quer no Passeio das Cardosas. Aquilino era frequentador assíduo das tertúlias quando estava por cá. Mas não ficava pela cidade do Porto pois também dizia que mais valia um passeio de três dias em Paris do que um curso universitário em Coimbra.
Dizia certamente isto, digo eu, porque as Universidades estariam com semi liberdade salazarista, não poderiam discutir sem peias, o que ia contra as amplas ideias do mestre Aquilino.
Este título do meu post em qualquer crónica da imprensa dava direito a ir dentro, antes do 25 de Abril de 1974. Quando muito aceitava-se, guerra nas províncias ultramarinas, se bem que a palavra guerra era por si forte.
Muito já se tem escrito sobre os 13 anos da guerra colonial e eu também já por aqui dei o meu contributo com “crónicas da guerra”.
Hoje lembrei-me de dar mais umas achegas sobre o desenrolar das campanhas em África, como eufemisticamente gostavam que se dissesse. As marcas quer físicas, psicológicas ou recordativas são apanágio daquela rapaziada que hoje estão na casa dos sessenta e setenta. Os encontros anuais são a prova disso, tal como os catraios que se recordam do primeiro brinquedo que o avô lhe deu.
Não há guerras boas no terreno, e esta também não fugiu à regra, muito embora os generais nos corredores alcatifados com ar condicionado se fartassem de fazer chegar às redes internacionais que tudo corria com acções psicológicas e de humanidade com os nativos.
Como fui militar do arame farpado (leia-se, os aquartelamentos no interior de Angola eram de pavilhões pré fabricados mais parecidos com cardenhos, rodeados por rede de arame farpado) tinha conhecimento do desenvolvimento das patrulhas na picada. Então era ouvido a esse pessoal que quando os “turras” atacavam se houvesse hipótese de lhes limpar o sebo não escapava um, mesmo que um ou outro se pudesse fazer prisioneiro. E agora os meus eventuais leitores podem ficar escandalizados com tamanha desumanidade. Eu disse atrás que não há guerras boas. Então se havia a hipótese de deitar a luva a um “turra”, qual a razão de tal muitas vezes não acontecer?
Pois é, prisioneiro que se fizesse era entregue à PIDE/DGS, era-lhe feito interrogatório sobre locais de acampamentos dos “turras”. E se o infeliz abrisse a boca, tinha que abrir com os métodos pidescos, lá vinham para o comando dos batalhões dicas sobre o “in”. Daí resultavam operações que resultavam sempre em porrada grossa com consequências de parte a parte. Está pois explicada a relutância que a tropa no terreno mantinha sobre as informações da PIDE/DGS.
Só vos digo que é um privilégio poder ouvir Germano Silva. E, já agora, relembro que os Passeios pelo Porto vão recomeçar no dia 23 de Fevereiro e voltarão à normalidade de serem efectuados no último domingo de cada mês. Saudações tripeiras do Francisco.