Não perco tempo a ver os canais televisivos denominados generalistas. Vou mais para os canais ODISSEIA, HISTÓRIA e NATHIONAL GEOGRAPHIC. Ontem casualmente passei pela RTP INFORMAÇÃO e como estava a debitar o bastonário da Ordem dos advogados, Dr. Marinho e Pinto, fiquei por lá, pois o homem não tem voz embargada, dá tiro certeiro. De entre vários assuntos veio à baila o célebre caso das luvas dos submarinos.
Então dizia Marinho e Pinto:
Portugal e Grécia compraram submarinos à Alemanha, dois cada, por quantias exorbitantes. Na Grécia o caso das luvas, 30 milhões, foi a tribunal e o ministro da defesa apanhou 20 anos de choldra e o primeiro ministro deu à sola. Em Portugal para igual quantia de 30 milhões o caso ficou em águas de bacalhau, o primeiro ministro de então foi para a União Europeia e o ministro da defesa da altura está agora no governo são e salvo pela justiça do nosso país. Falta dizer que na Alemanha, país de boas contas, não de trambiqueiros, os intermediários da negociata foram apanhados pela justiça.
Numa altura em que as pensões de sobrevivência estiveram na berlinda é interessante ver estas crónicas de dois batentes do JN. Jorge Fiel diz:
O Zé António Saraiva passou a ter Constâncio na conta de pessoa de caráter duvidoso mal soube que ele andava a espalhar por todos os cantos da Lisboa política que os ataques que lhe faziam no "Expresso" eram tão-só uma pérfida vingança do seu diretor por ele o ter derrotado em partidas de ténis e de xadrez, disputadas quando ambos se encontraram nas férias.
Não conheço Vítor Constâncio ao ponto de poder emitir uma opinião abalizada sobre o seu caráter. Todavia, creio estar na posse de informação suficiente para o caracterizar como um sobrevivente.
Constâncio, que amanhã deixa a casa dos sexagenários (ficam desde já aqui os meus parabéns antecipados), sobreviveu a três anos de desastrada e cinzenta liderança do PS, cargo em que sucedeu a Mário Soares e abandonou em 1989, na sequência da sua impotência em arranjar um candidato às eleições para a Câmara de Lisboa - e após ter sido derrotado nas legislativas por Cavaco, a quem proporcionou uma inédita maioria absoluta.
Só um sobrevivente como Constâncio, depois de sair da política pela porta das traseiras, poderia construir uma brilhante carreira académica, onde cometeu a proeza de chegar a catedrático sem ter concluído o doutoramento, a par de um lucrativo périplo pelas empresas, como administrador da EDP e BPI.
Só um sobrevivente lograria, no dealbar do novo século, regressar ao cargo de governador do Banco de Portugal, que ocupou durante dez anos auferindo o bonito salário mensal de 17 372 euros, um pouco mais do que o dobro do vencimento do presidente da Reserva Federal norte-americana.
Só um sobrevivente conseguiria ser promovido a vice-presidente do Banco Central Europeu, com um salário anual de 320 mil euros e o pelouro da supervisão bancária, depois de ter sido incapaz de detetar as fraudes, aldrabices e patifarias do BPN e Banco Privado que custaram mais de cinco mil milhões de euros aos contribuintes - e de fazer orelhas moucas aos alertas feitos em devido tempo pela Imprensa.
Constâncio também sobreviveu à sua mulher, Maria José, que nos deixou a 29 de agosto. E apesar de ganhar 26 724 euros por mês, o viúvo Vítor Manuel Ribeiro Constâncio tem automaticamente direito a uma pensão de sobrevivência no valor de 2400 euros/mês, o equivalente a 60% da pensão da falecida.
Não sei se naquele momento de dor, no meio da papelada que a agência funerária lhe passou para as mãos - onde constam os impressos solicitando o subsídio de funeral e a pensão de sobrevivência - , o viúvo Constâncio assinou este último.
Sei que ele não precisa da pensão de sobrevivência para sobreviver. Sei ainda que para sobrevivermos temos de acabar com a possibilidade de ele - bem como todas as pessoas que ganham num mês o que 90% dos portugueses não ganham num ano - receber uma pensão de sobrevivência. Sei também que seria avisado perceber primeiro o teor das alterações ao regime das pensões de sobrevivência antes de armar um banzé e ameaçar recorrer a essa nova espécie de filial de Deus na Terra que dá pelo nome de Tribunal Constitucional.
Interessante ver também a opinião do director adjunto do JN de Fernando Santos, com o título “Há ladrões bons e ladrões maus” cujo artigo, sobre as pensões de sobrevivência, é de sinal contrário ao de Jorge Fiel.