Olhar o Porto - CLXVI(As feiras antigas)
Segundo Germano Silva, “o ferrador tinha uma mulher boa comó milho e andava um frade a catrapisca-la”. O ferrador não estava a gostar da brincadeira e daí disse ao guloso frade: “frade, fradinho, põe-te a pau, toma cuidadinho que andas a beber do meu vinho”.
Sempre que vou a estes passeios culturais à cidade, estórias de frades gulosos é um fartote. Veio-me agora à mente uma outra que se passou na ilha do frade (pequeno ilhéu que fica no rio Douro, limites de Lordelo, junto à foz da ribeira da Granja).
Esta estória do ferrador passou-se no Largo dos ferradores, actual praça Carlos Alberto. Local paradigmático, era a saída da cidade murada através da porta do Olival, em direcção a Braga, Guimarães e Santiago de Compostela. No século XVIII havia por ali a feira do gado e no século seguinte era a feira das caixas que os emigrantes levavam para o Brasil com os seus trastes. A feira dos moços de lavoura também se realizou por ali tendo mais tarde passado para a praça da Corujeira. O acordo entre o contratante e o moço era selado com a “cabrita” que era nem mais que uma canecada de verdasco mandada abaixo pelos dois numa das tascas das imediações. Havia também feira dos moços noutras localidades como em Custoias. Era tempo do Portugal agrícola em toda a plenitude.
Todo o tipo de feiras existiram pela cidade que hoje à distância nos fazem sorrir ou talvez não. A feira do pão na praça Guilherme Gomes Fernandes, a feira da farinha e dos cereais na praça Gomes Teixeira, das alfaias agrícolas na Cordoaria, feira da madeira na actual rua com o mesmo nome, feira da palha e da erva na Trindade, feira dos porcos na Praça da Alegria. Todas estas feiras eram em locais, geralmente em pracetas cuja toponímia não era a mesma dos nossos dias. Estou a lembrar-me, a talho de foice, que na feira quinzenal de Nespereira, lá dos meus lados, no espaço para isso destinado havia a feira das vacas, feira dos porcos, feira das ovelhas, feira dos burros, etc.
É sempre interessante ouvir falar dos usos e costumes da cidade do Porto de outros tempos. E quando isso acontece pela batuta do sabedor comunicador Germano Silva, é sempre uma mais valia.
Sugiro uma pesquisa no Google sobre o caceteiro miguelista Pita Bezerra, também abordado pelo historiador.
Ant. Gonç. (antonio)