Pela ruralidade - CXXII(O engenho)
Em post anterior abordei esta engenhoca, que é dos tempos dos nossos antepassados, vou hoje falar da sua funcionalidade. Dizia eu que era um criado que abria e tapava as presas, poças, brechas e mineiros e tanques.
Como estamos a falar em zonas rurais onde a propriedade era, e ainda é, muito dispersa, daí que muitas vezes os lameiros ficavam distantes e era preciso dar-lhes muita água. Então aqui entra o engenho. Formado por dois tubos que actualmente são de plástico mas que no passado eram dois troncos de pinheiro escavados, unidos na parte superior normalmente em bisel, ficava um dentro e outro fora da poça. A parte superior do engenho, na união dos dois tubos, teria de ficar levemente mais baixa em relação ao cimo da poça, para que a água da nascente, quando a enchesse saísse pelo engenho por gravidade expulsando todo o ar do interior e assim obrigar à sucção da água da presa. E assim sucessivamente a poça era esvaziada e cheia, noite e dia, com rotatividade, com espaçamento em função do caudal da nascente e do diâmetro da tubagem do engenho bem como da capacidade da poça. A base do tubo exterior para uma eficiente sucção deverá ficar numa pequena pia que será cheia com a primeira água da nascente, que sai e vai expulsando o ar e daí o consequente funcionamento do engenho. Esta engenhoca baseia-se no vaso de Tântalo das leis da física.
Com o abandono das terras o engenho praticamente já não é utilizado. Lembrei-me de pôr um a funcionar (na minha arrecadação há alguns que noutros tempos foram utilizados) para me regar os citrinos duma propriedade outrora terra de pão que estavam a precisar de água como um faminto a pedir pão para a boca, durante os meses deste Inverno seco e também neste Verão que vai no mesmo andamento. Quando o trabalho serviçal do engenho já não for necessário destapa-se o pequeno orifício, antecipadamente feito na parte superior, entrando ar já não se faz o esvaziamento da poça. Lá na terra das minhas raízes há um engenho numa poça dum vizinho feito numa só pedra. Usos e costumes dum outro tempo.
Ant. Gonç. (antonio)