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Magistério6971

Os autores deste jornal virtual apresentam a todos os visitantes os seus mais cordiais cumprimentos. Será bem-vindo quem vier por bem.

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Pela ruralidade - CV(Em Fornelos - Cinfães)

Tínhamos programado mais um dia de limpeza na “quinta” (designação hiperbólica) do Redondelo. Terra lavradia que foi, com produção essencialmente de milho, vinho, azeite, centeio e pastagem. Algumas laranjeiras secaram, outras ainda resistiram às secas contínuas. Com casa de caseiro e anexos, eira, canastro, lagar e cortes para o gado. Após a saída do último caseiro, há vinte e cinco anos, tudo ficou entregue à natureza. Entretanto nasceu um carvalhal em toda a área que foi crescendo a esmo em concomitância com o silvado. Era imperioso dar p´ra trás nas silvas que estavam a assoberbar os carvalhos mais jovens.

Máquinas roçadoiras com lâminas apropriadas para o desbaste das silvas. A Joana, a Luisa e a Vanda já estão habituadas lá na terra a este tipo de trabalho. É gente de genica, pontual, eu que já tinha feito 60 Km, também dou o exemplo, às oito menos pico já estávamos no terreno para mais uma arrancada no serviço. Colocados os óculos de protecção, atestadas as duas máquinas, que eu tinha antecipadamente mandado afinar, há que fechar o ar para o arranque e puxar as alavancas. Com o frio da noite, puxa uma vez, duas, três e nada. Teimou-se e lá começaram os motores a trabalhar a medo, mas em pouco iam abaixo . A Vanda, que é a mais bem disposta das três, fala pelos cotovelos, com a sua sabedoria profissional amanteigada com alguma malandrice, a adivinhar pelo sorriso:

-Ó senhor fulano, que raio, isto é falta de aquecimento!

Eu não me fiquei e retorqui, de facto o aquecimento é necessário mas nem sempre. E adiantei, que por exemplo o aquecimento da Terra é um dos inconvenientes para as gerações futuras. Levando o caso para a brincadeira, dir-se-á que o humor até é útil também no trabalho como o antigo regime sabia explorar. Tinha um organismo FNAT (Fundação Nacional para Alegria no Trabalho), agora é INATEL.

Enquanto a Joana e a Vanda ficaram a dar coça às silvas, eu, o José e a Luisa fomos tentar ver o que se passava com o tubo da água que vem do Venal, distante um quilómetro, por gravidade para o tanque de pedra e que há muito deixou de vir. E aqui mais uma odisseia nos esperava para chegar até à nascente. Por um caminho público (mais tarde num post falarei dele), totalmente coberto de silvado, giestas e mato onde já há muitos anos não passa vivalma, agora há outras acessibilidades, sempre a abrir caminho com capinadoras. Depois de termos colmatado as deficiências junto à nascente, mais abaixo numa linha de água ficámos sem resposta imediata para poder fazer seguir o líquido. O interior da tubagem totalmente empedrado devido às fortes geadas que têm caído por estes dias. Regressamos então à “quinta” e ajudamos nos trabalhos juntando em montículos as silvas que iam sendo cortadas para depois serem queimadas nas clareiras dos carvalhos.

A vida no campo tem destas coisas. No passado trabalhava-se a terra e havia   rendimento. Agora, após a entrada na comunidade e outros factores, o rendimento tem um deficit negativo. Politicas erradas que foram tomadas que levaram a este estado de coisas como ainda há dias dizia na televisão o credenciado dr. Adriano Moreira.

 

PS: -  Dava-se o nome de “quinta” ou “terras” a determinada área de terreno, junta ou não com casa e anexos, normalmente trabalhada pelo caseiro, que “fazia as terras”.  Os resultados da produção eram de 50% para o caseiro e outro tanto para o dono da terra. Num tempo mais recuado, que ainda é o meu, o contrato era de 50% para o chão e 75% para o ar, a favor do patrão. Chão, era referente a milho, feijão e eventualmente centeio; ar, era tudo o que dizia respeito a frutos e seus derivados nomeadamente vinho, azeite, etc.

    -  As personagens do post são reais, os nomes são fictícios.

 

 

 

    (antonio)