Pelo JN II
Meu caro António
Peço-te que imagines que estamos ao telefone ou à mesa de um café e que me vejas a dizer-te cara a cara o que aqui vou escrever. Sobre o teu artigo de 21 de agosto, aqui publicado com o título «Pelo JN», eu não ficaria bem comigo próprio se não te dissesse o seguinte:
1 - Começando pelo fim, que é o que está mais perto de mim, reparo que incluis no mesmo terceiro e último parágrafo, o celibato e o inquérito do JN sobre o sexo. Se é muito redutor associar uma coisa à outra, não deixa de ser inoportuna a relação. Podemos falar e escrever de uma coisa e de outra. Nenhum deles é assunto tabú. Todavia, num contexto de visita pascal, relacioná-los é que não está correto e é, no mínimo, desagradável. Até o próprio editoralista escreveu sobre o inquérito e é verdade que, em dez milhões de adultos, estar um universo de trinta e cinco mil à espera da primeira oportunidade não é relevante. Quanto à tua não concordância com o celibato, pois estás no teu direito. Ninguém te pode criticar por isso assim como ninguém pode ser criticado, seja uma pessoa seja uma organização social como a Igreja Católica Apostólica Romana por manter o celibato nos seus estatutos. Estatutos são regras que se aceitam ou se rejeitam, seja em que organização for, seja ela religiosa, política ou clubística.
2 - Quanto à intervenção policial que referes no segundo parágrafo, causadora de feridos, é a situação do «ser preso por ter e por não ter cão». Se não atua e assiste impávida e serena, numa posição preventiva e pedagógica, temos Londres e outras cidades inglesas. Se atua, é porque foi a visita do Papa a causadora e os agentes da autoridade não foram contemplativos. Há-de haver sempre quem concorde e quem não concorde.
3 - Quanto à coboiada que referes no primeiro parágrafo, convenhamos que das duas uma: ou já não te lembras de ter sido jovem ou para ti, tudo o que os jovens fazem é coboiada. E, para já, não consta que todos estes milhares de jovens reunidos em Madrid, tivessem destruído ou saqueado a cidade. Finalmente, the last but not de least, quanto ao suposto arrebanhamento que presumes e que comparas ao dos partidos, é argumento que cai com facilidade. Queres ver com quê? O alegado arrebanhamento que os partidos concretizam é um procedimento aceite por quem é arrebanhado que, por sua vez, tem sempre um objetivo bem definido dentro desse partido. Ou, se quisermos, por outras palavras: é suposto haver uma contrapartida. Aqui, se há alguma contrapartida, ela não é visível mas fica bem guardada no coração e na alma, para quem nisso acredita.
Com um abraço de amizade, quero que fiques bem António, porque eu já fiquei melhor.