Estava eu a rascunhar umas larachas para um post onde abordava de raspão a arte de carpintejar dum topa a tudo lá da terra, denominando-o por carpinteiro “mexeruca”. Para me certificar da existência dessa palavra, usada aqui na região norte, socorro-me dos dicionários da Porto Editora e Francisco Torrinha. Pois nem um nem outro me deram sinais da sua existência. Vai daí tento no Google e ah!... vou ter a um post que escrevi aqui no blogue em 2006, onde empregava tal palavra.
Surpresa minha por dois motivos, pelas virtualidades da NET e pela antiguidade com que ando aqui para o blogue a debitar umas tretas. Fica o registo.
Ora aqui está um utensílio de culinária e que também pode servir para meter na ordem maridos desviantes.
Não conheço a estória do rolo da massa na vertente punitiva e até penso que quando se diz, levas com o .... .. ….. ,com o sorriso nos lábios, não é mais do que eufemísticamente se dizer o quanto se gosta da pessoa em causa.
Chegando a este ponto apraz-me contar como me veio parar às mãos este interessante artefacto. A Benilde, uma simpática arouquense do curso, dá a sua colaboração pontual a este blogue. Ora foi há uns tempos que escreveu um post adivinhatório e como prémio dava um rolo da massa. Tentei a minha sorte, ganhei e daí a Benilde, mulher de palavra, no encontro do curso entregou-me o troféu devidamente ornado com a mais-valia da pintura da nossa amiga.
O gesto simpático devolvo-o com uma saudação amiga,
Realizou-se no dia 25 de junho de 2011 o encontro comemorativo do 40.º aniversário do curso de 1969/71 da Escola do Magistério Primário do Porto. Foi uma manhã cultural, efetuada debaixo do sol tórrido de Ovar, com passagem por alguns templos e visita pormenorizada ao Museu Etnográfico de Ovar. Terminámos com uma confraternização à mesa do restaurante Vela Areinho onde apagámos as velas comemorativas dos 40 anos de curso. As colegas que quiserem enriquecer este álbum fotográfico, podem fazer o envio das suas fotos para [franciscodocovelo@gmail.com]. O nosso curso tem também a sua própria página no facebook onde todos os eventos são registados. Hoje foi dia de passagem de testemunho, ou seja, a Comissão Organizadora deste encontro, sendo de Ovar, passou a pasta e a pendisk às colegas de Lousada, aqui representadas no álbum pela colega Delfina Campos. À comissão cessante, os nossos sinceros agradecimentos por toda a organização efetuada, por todo o carinho dispensado e pela simpatia dispensada. Missão cumprida e com sucesso. À comissão que vai tomar a responsabilidade da organização do evento de 2012, os nossos votos de bom trabalho e de felicidades para o desafio que aceitaram. Saudações tripeiras do Francisco.
Contos e lendas vão perdurando e correndo de pais para filhos. Poderão ter um cunho hiperbólico mas têm sempre um fundo de veracidade.
O senhor Joaquim, vamos chamar-lhe assim, era de meia idade, mas o trabalho campestre não diria de sol a sol mas de antes do nascer do sol e após o seu ocaso dava-lhe um ar mais pesado – um velhadas de fibra quer no aspecto físico como também na sua má catadura. Era um lavrador que com a ajuda familiar fazia terra de pão onde lavrava seis carros de milho, pensava três vacas serranas de raça arouquesa e uma leiteira, turina, além do gado miúdo. Para a patroa ficavam os galináceos e o cevado.
A sua irascibilidade era posta à prova pelos moços da aldeia – gostavam de lhe pregar umas partidas pelo S. João. O carro das vacas era sempre o alvo apetecível deslocando-o para o adro da Igreja. Mas daquela vez o Sr. Joaquim armou-se em valentão, tinha feito saber que ninguém lhe ia levar o carro. Pegou numa manta de burel para se prevenir das orvalhadas do S. João e foi deitar-se em cima do chadeiro do carro, tinha ali à mão os fueiros para dar umas bastonadas nos brincalhões das travessuras. Como estava bastante cansado do dia de trabalho, tinha andado a empegar o campo do milho do restivo e de madrugada tinha ido roçar uma carrada de mato ao monte do Serro, adormeceu no carro com sono pesado que nem um justo. Então quatro rapazes que estavam à cuca, dois deles super musculados, tinham acabado de vir da tropa de um curso de pesos pesados, deixaram o homem ferrar o galho e então carregaram suavemente o chadeiro, dois nas chedas, um na cabeçalha, outro no recavém e foram colocá-lo numa poça de água de rega que estava na fase de enchimento. (Acresce aqui dizer que um dos mariolas tinha antecipadamente à socapa, afrouxado os pescazes das cantadoiras para depois soltarem mais facilmente o chadeiro das pesadas rodas). Só quando a água atingiu o nosso homem é que ele despertou do profundo sono de Morpheu, espavorido e furioso, mas já nada havia a fazer, tinha sido bem tramado. Por uns dias lá na aldeia não deu de fraco, fechou-se em copas, mas os rapazes ocultamente foram espalhando o que tinha acontecido ao Sr. Joaquim.
As travessuras pelo S. João tinham mais uma vez sido bem sucedidas, e a tradição falou mais alto.
PS: Esta estória vale o que vale, que é mais velha que o mijar dito por quem lhe passou os olhos
Só não conhece melhor a cidade do Porto quem não quer. Não me canso de repetir esta frase. E uma das pessoas que melhor conhece a cidade do Porto é, sem dúvida, o jornalista, escritor e historiador Germano Silva. Não ler as suas crónicas e não ouvir as suas histórias é um erro grave que só é praticado por quem não quer conhecer melhor a cidade do Porto. Esta possibilidade de fazer uma «Viagem pelo São João no Porto» é um privilégio que nos é oferecido pela plataforma do Jornal de Notícias. Por achar que é imperdível e por crer que é uma mais valia poder aceder sempre que quiser ao testemunho que Germano Silva nos quis deixar, aqui quero partilhar convosco a ligação. Basta clicar em cima do manjerico pretendido, ter o som ligado e ouvir a explicação. Saudações sanjoaninas do Francisco.
19 de Junho, um domingo soalheiro próprio para dar uma espreitadela pela cidade onde há sempre um canto para descobrir.
O trajecto tinha sido anunciado no JN - partida do Bonfim junto à Igreja, daí à Alameda das Fontainhas, Rua de S. Victor, S. Lázaro, Bairro do Herculano e finalmente FNAC, um dos patrocionadores da visita.
A minha aderência foi de imediato acertada, pois o Bairro do Herculano, estava no programa, que eu já tinha ouvido falar mas não conhecia. Fica entre a Rua Alexandre Herculano e a Rua das Fontainhas com entrada por estas ruas. Agora interrogo-me como é que eu sendo um curioso de mirar os cantos da cidade esse local tinha-me passado ao lado. As vivências comunitárias de uma aldeia no meio da cidade estão ali bem patentes naquele espaço de várias ruelas, como frisou o orientador desta visita, o sabedor sr. Germano Silva.
Bem, mas melhor do que aquilo que possa aqui debitar, para quem quiser ficar a conhecer este bairro, sugiro o visionamento do blogue:
No dia 19 de junho de 2011 realizou-se mais um passeio JN/FNAC, subordinado ao tema «O São João do Porto». O guia foi, como habitualmente, o jornalista/historiador/escritor Germano Silva. Começámos o passeio junto à capelinha de Santo Antoninho da Estrada, situada no início da escadaria que conduz à Igreja do Bonfim. Terminámos na FNAC de Santa Catarina mas em termos de lugares de São João que por nós foram visitados, a visita terminou no Bairro do Herculano, exatamente aquele que liga a Rua de Alexandre Herculano à Rua das Fontaínhas. Saudações tripeiras do Francisco.
Chego à terra natal, meto a chave na fechadura da porta da cozinha e observo que um pequeno pássaro esvoaça ao sentir a minha presença. Deito uma olhadela pelo espaço e na base inferior do saco da chaminé um ninho. Então como é possível isto, foi a minha estupefacção. As duas janelas estavam fechadas e a porta também, quando muito por baixo desta só passaria uma formiga sem carga para o celeiro! Ah, deve ter sido, e é que foi mesmo, por um pequeno orifício lá no alto da chaminé a entrada, escolhida para a pequena ave em lugar seguro nidificar.
Agora já estão os filhotes a criar penugem para dentro de dias abandonarem o ninho. Mas aqui um obstáculo intransponível à partida, estou a imaginar, eles não vão conseguir transpor a subida até ao cimo da chaminé e sair para o céu pelo estreito buraco. E então como tentar resolver a situação? Deixar a porta aberta, não havia problemas de segurança pois fica resguardada da rua, mas nem pensar pois os felinos da vizinhança acabariam por entrar para apanhar os indefesos juvenis. A solução mais viável vai ser deixar uma das janelas abertas para assim os pequenos felosos, após os primeiros ensaios voantes na cozinha, saírem pela janela, foi o que hoje fiz.
As andorinhas, essas todos os anos nidificam no alpendre da casa, agora este casal de felosas naquele local foi a primeira vez, oxalá que tenham sucesso, estou a tentar ajudar.
Nem uma coisa nem outra, são rafeiros que escolheram um quintal e uma casa abandonada na triste Rua do Freixo, assenhoreando-se do espaço.
Numa altura em que por todo o país há palmadas - as caixas ATM parece que são o alvo preferido, é bom haver quem ladre nem que seja só para assustar!...
Das minhas memórias viajar nos anos sessenta nas carreiras do Escamarão era uma odisseia que agora à distância nos faz gargalhar.
Na parte de cima das camionetas, a grade como se dizia, levava toda a espécie de mercadorias mesmo as mais volumosas. Desde pasteleiras, leia-se pedaleiras ou se preferirem à modernaça, biclas, caixotes de fruta, cestos de galináceos (tudo bicos caseiros, nada de aviários) e até apetrechos para a agricultura – um pesado semeador fiz eu seguir no Escamarão de C. Paiva para a minha terra. Baús, condessas, garrafões à brava e caixas de média dimensão também eram transportadas, eu próprio quando fui para o seminário levei as trouxas numa que uns dias antes um carpinteiro manhoso fez. Na altura na cidade, nos terminais das carreiras havia carrejões (as) que levavam à cabeça ou às costas para as gares ou outros locais, as mercadorias. Quanto ao transporte de mercadorias estamos falados. E os passageiros?
Ir à cidade no Escamarão era uma prosápia para os rurais que passavam a vida na agricultura a tratar dos campos e dos animais. Preparavam-se com antecedência e amanhavam-se para a viagem, uma garrafinha de bagaço metida no bolso de dentro do casaco e a patroa afiambrada com um lenço de merino à cabeça, numa saca de remendos de várias cores levava um almeiro onde sobressaía um bom naco de broa. A meio da viagem era um ver se te avias, ele mandava abaixo umas goladas da cachaça da garrafa branca e ela não fazia cerimónia ao escorripichá-la. Entre as pernas do casal lá ia também um garoto de bom morangueiro para o filho que trabalhava nos carros eléctricos como diziam (não se entendiam a dizer STCP), na grade seguia uma condessa com uma broa, tinham metido ao forno na véspera, chouriças, um paio e uma garrafa de azeite da última colheita. O rapaz ia adorar estas recordações da terra que o viu nascer. Nas carreiras, os menos habituados nestas andanças ficavam tontos com as curvas e contra curvas, abeiravam-se das janelas que eram de guilhotina e às tantas chamavam o “Gregório”. E a imagem de marca ficava na lateral da camioneta (alguns diziam caminheta), que seria lavada ou não no fim da viagem.
E o cobrador? Era o Sr. Sebastião, mais conhecido que sei lá o quê, calça e jaqueta de cotim cinzento, saca de cabedal ensebada pelo uso, a tiracolo, bigodinho à maneira, era a pessoa de confiança da empresa. Conhecia todos os fregueses bem como todas as curvas da estrada. Quando se falava na carreira do Escamarão inevitavelmente se associava ao Sr. Sebastião (já por aqui falei nele noutra crónica). Se da vila de Cinfães para o Porto (uma nota de vinte era o custo da viagem) o autocarro era aceitável, já da minha terra era uma Chevrolet ou uma Diamong de frente afocinhada (esta tinha a particularidade de ter a cozinha isolada da parte da frente). E viva o luxo, pois lá na terra o pessoal só estava habituado a ver carros de vacas (de bois se preferirem).