Pela ruralidade - LXXXVIII (Em Macieira de Fornelos, Cinfães, memórias)
1756 @ (ano do Senhor). Em Lisboa nesta data ainda estavam bem vivas as feridas da tragédia, o terramoto que tinha abalado a capital um ano antes. Enterrar os mortos e cuidar dos vivos foi o lema traçado por esse grande estadista – Marquês de Pombal. Duma cidade atamancada que se tinha desmoronado como um baralho de cartas, nasceu uma outra geometricamente bem desenhada que ainda hoje perdura – a baixa pombalina. Mas o Marquês, rodeado de bons arquitectos, não se limitou à reconstrução de Lisboa, mandou também para o Porto, João de Almada que abriu a cidade para fora das muralhas Fernandinas. Podemos dizer que a baixa de Lisboa como a Baixa do Porto se devem a esse grande estadista do reinado de D. José.
Enquanto estes homens de rasgo puseram a inteligência ao serviço do bem comum (ai os políticos de hoje que tanto teriam a aprender!...), na minha terra, imagino agora à distância, de tamancos, calça remendada com testeiras, camisa de estopa, um canteiro com escopro e maceta utente duma sabedoria que não foi aprendida nos bancos da escola, datava uma pedra paralelepipédica para memória futura: 1756@. Está há 102 anos no chão de um pátio que pisei milhares de vezes. Pela investigação que fiz tudo leva a crer que foi uma padieira de uma antiga construção. Tinha a data encoberta com restos de cimento e só há pouco tempo, com a lavagem do pátio que mandei efectuar surgiu esta era, sabendo agora o significado de @ - ano do senhor. (Grato pela dica sr. jornalista do JN e historiador da cidade, Germano Silva).
A preservação das memórias deve estar cuidada quer seja no amplo monumento como na simples pedra com relevo.
(antonio)