Olhar o Porto - CIII (Um Porto triste)
De quando em vez gosto de dar uma saltada até ao coração da cidade. Digo lá em casa que vou tomar ar o que parece uma atitude perversa! Faço-o normalmente a penantes, sem pressas para sentir o pulso à cidade.
Subo a tristíssima rua do Freixo, que é mesmo uma dor de alma, o casario a cair aos bocados, um esqueleto duma fábrica à espera de se espatifar em cima da rua a provocar uma desgraça e como se isto não bastasse o piso está cheio de buracos e irregularidades. E não há quem olhe por estas situações, agora até colocaram um vidrão no passeio de tal modo que os peões têm de descer à faixa de rodagem. Esta rua é-me familiar, por ela passei centenas de vezes durante a minha actividade profissional.
Mais adiante os castanheiros da Índia no Largo Soares dos Reis e as tílias da Av. Rodrigues de Freitas já estão com as copas verdejantes, a Primavera aí está em força com estes dias solarengos. Aqui e ali uma ou outra magnólia mas já perderam as flores.
Cheguei aos Aliados e à Praça da Liberdade e aqui constatei o título que encimei neste post “um Porto triste”. As várias esplanadas às moscas, nem o belo sol convida o pessoal abancar e beber umas cervejolas, estará numa de retranca a ver o que isto vai dar com o FMI à perna!... Só a Rua de Santa Catarina mantém algum frenesim de gente que anda p´ra cá e p´ra lá onde também fiz monte. Fui à Papélia comprar uma folha de papiro para fazer umas engenhocas e a seguir regressei a casa e fui anotando o pitoresco e os podres da cidade.
(antonio)