Pela ruralidade - LXXXVI (A venda do capador II)
A nossa sensibilidade memorial fica tocada quando determinadas casas comerciais, fábrica ou espaços culturais (agora foi o fecho definitivo do museu de etnografia do Porto) que sempre visionamos, fecham as portas para sempre. São referências que interiorizamos e de certa maneira nos apropriamos.
Há dias referia-me aqui neste espaço à “venda do capador” lá nas minhas bandas e as vicissitudes por que tem passado. Segundo os veteranos lá da terra, teve o seu apogeu no tempo do minério (1939-45) pois era local de passagem de muitos marteleiros e indiferenciados que passavam para as minas da região de Arouca e de outros que navegavam à volta do ouro negro. Vinho da pipa, com umas lascas de bacalhau salgado para puxar o tintol, era o seu forte e todos sabemos como naquela altura se entornava!
A desertificação já aqui falada de todo o interior do país é assim uma causa do fecho definitivo desta emblemática referência. A coisa não dá, dizia-me o vendeiro, antigo emigrante no Brasil, não há por aqui indústrias, nem gente e o cacau começa a rarear, dizia-me.
O Portugal rural mais empobrecido com a redução demográfica é uma realidade que acarreta consequências a todos os níveis. Isto é um facto e por outro lado não há motivação para trabalhar a terra, pois o esforço não é rentável, muitos ficam à espera do rendimento social de inserção, vulgo rendimento mínimo. As políticas não têm sido as melhores, pois até davam subsídios (não sei se ainda vigora essa treta) para as pessoas abandonarem as terras, portanto tudo ajudou para se chegar à situação actual. O fecho da “venda do capador” é também uma das consequências de políticas erradas que desamarraram as pessoas das suas raízes.
(antonio)