Numa organização do Jornal de Notícias (JN) e da FNAC, com a colaboração da Metro do Porto, realizou-se no domingo, dia 27 de março de 2011, mais um Passeio pelo Porto, subordinado ao tema "A cidade dos Almadas". Guiados pelo jornalista/historiador/escritor Germano Silva, percorremos da Praça da República à Praça da Ribeira todo um trajeto relacionado com os grandes planos urbanísticos dos dois Almadas: João de Almada e Melo e seu filho Francisco de Almada e Mendonça. Terminámos na FNAC de Santa Catarina onde o Rancho Folclórico do Porto fez a sua última apresentação e onde Germano Silva mostrou e comentou imagens do Porto da época. Se desejarem acrescentar as vossas fotos, podem fazer o envio das mesmas para [franciscodocovelo@gmail.com]. Eu e mais dois amigos fotografámos e organizámos este álbum que queremos partilhar convosco.
Os passeios pedonais que o JN e a FNAC patrocinam no último domingo da cada mês por um lado, quer os que a CMP também tem realizado, são aulas sobre a cidade muito interessantes do ponto de vista histórico. Têm também o condão de nos despertarem fisicamente nas manhãs calmas de domingo.
A aula de hoje, chamo-lhe assim, rodou à volta dos Almadas, pai e filho, João Almada e Francisco Almada que tal como o marquês de Pombal em Lisboa aqui no Porto deixaram obra notável. Podemos dizer que há uma cidade do Porto antes e depois dos Almadas. Assim como em Lisboa há a baixa pombalina aqui no Porto há para além do núcleo do centro histórico obras de vulto destes dois empreendedores de rasgadas vistas. A cidade até então confinada dentro das muralhas fernandinas estendeu-se para fora do muro sendo um dos principais eixos a Rua que se veio a chamar do Almada até à praça da República. Com a construção da Praça da Ribeira e o Rio da Vila encanado sob a Rua de S. João estava assim facilitada a saída das mercadorias, que chegavam pelo Rio, até às partes mais altas da cidade e para além desta.
Estes passeios à cidade além dos aspectos que já foquei fazem-nos passar em ruas que normalmente não utilizamos e ver o bom e o mau da cidade de hoje. Assim na Rua do Pinheiro o historiador e bom comunicador destas coisas chamava-nos a atenção para o correr de casas com varandas do tempo dos Almadas, aparentemente bem preservadas. Logo ao lado, observo eu, como é possível a CMP não ter uma atitude informativa de preservação perante uma casa dum portista ferrenho, presumo eu, pois a bandeira assim denunciava, toda pintada, portas e janelas com as cores de azul forte do FCP. Ressaltou-me a atenção por estar desenquadrada do que era acabado de nos mostrar. Mas de resto na parte histórica portas e janelas de alumínio é mato!
Em conclusão da visita de hoje, onde se falou também da revolta dos taberneiros (aqui sugiro o livro de Arnaldo Gama - um motim há cem anos) ficamos também a saber da infinidade de capelas que foram destruidas ou mudadas de sítio, bem como ruas e ruelas que foram sacrificadas para expandir a cidade.
Os que escrevem e comentam neste espaço têm primado pelo respeito por áreas sensíveis como a política, a religião, os clubes de futebol e sexo. Todavia, que me perdoem os meus colegas de escrita mas é ímpossivel não falar, neste momento, de política. E falar de política do nosso país é, neste preciso momento, falar de um pedido de demissão do primeiro-ministro, da queda do governo, do papel do presidente da república e de eleições. É falar também de uma enorme dívida que Portugal tem e que tem amortizar já no próximo mês de Abril de 2011. É falar de muitos milhares de milhões de euros. Entretanto, falemos de valores mais "terrestres". Se uma família se encontrar endividada e deixar de cumprir os seus compromissos, o que fazem as instituições financeiras suas credoras? Não sei mas presumo que acione mecanismos de resgaste dos bens hipotecados. Ora, passando para o país, se Portugal não cumprir com os seus compromissos financeiros, o que vai acontecer? Mudando de agulha mas não de assunto, vi e ouvi hoje um programa na RTP intitulado LINHA DA FRENTE. Nele, o assunto versado foi a dificuldade com que vivia uma família portuguesa que já viveu bem. Foi rotulada pela edição do programa, de família da classe média, visto que o pai era desenhador da construção civil e a mãe era empregada de escritório de uma empresa sólida. Ambos ficaram no desemprego e com dificuldades, com um filho a frequentar o ensino superior. Foi dito que ele ganhava, em média, dois mil euros mensais e não foi dito quanto ganhava a esposa mas presumo que ganharia metade do marido. A reportagem estava bem feita e, na minha ótica, estava ali o retrato de muitas famílias portuguesas atuais. Se também era objetivo da reportagem mostrar a força de vontade daquela família em superar as dificuldades, penso que foi conseguido. Há, no entanto, umas palavras que saíram da boca daquela mãe que me marcaram e que retrataram uma época: " - Nós tínhamos uma vida boa, normal e até fazíamos férias." Até fazíamos férias... Como se fazer férias fosse uma coisa obrigatória, essencial, primordial, principal, enfim... Ah, eu não sei quanto custa mas presumo que a senhora se tenha referido a fazer férias de gastar apenas aí uns mil ou dois mil euros, não? Os meus pais nunca fizeram férias... Tantas famílias que nunca fizeram férias... É um direito que todos têm, lá isso é verdade e já há uns anos que os trabalhadores têm direito às suas férias. Mas convenhamos que quando se ouve dizer "fazer férias" sabemos que não é o mesmo que "ter férias". "Até fazíamos férias." Se calhar, muitas famílias fizeram vida de rico com porta-moedas de pobre... Se calhar, Portugal fez vida de rico...
Sabemos que as tradições vão-se mantendo, umas, outras esfumam-se na voragem do tempo ou são desvirtuadas.
Já nada é como dantes, ouve-se a cada passo, a força do modernismo assim determina as alterações.
Na terra, berço das minhas raizes, como gosto de acentuar, onde vou frequentemente, há dias presenciei uma daquelas "que nem tudo é como dantes". A mim e a outros meus conhecidos o caso em apreço foi motivo de algum espasmo e galhofa por as coisas se terem posto ao contrário segundo os usos e costumes até aqui cimentados.
Sem mais delongas passo a escorrer a cena. Desde que me conheço, e o tempo vai correndo, sempre lá na terra "a vaca ia ao boi". Aqui aproveito para esclarecer a algum citadino menos enfronhado nestas coisas, o significado do que está aspado. Geralmente havia em cada povoação um boi de cobrição para onde se levava a vaca quando estava em alturas de desejos.
Bem, mas agora inverteram-se os papeis. Chega uma carrinha de caixa aberta, neste caso fechada, no taipal a sigla "transporte de animais vivos". Um belo exemplar bovino de raça arouquesa na carga. O boieiro, que também era o condutor do transporte, sobe à caixa, antes faz descer a rampa da carrinha, e puxa para fora pela soga o bicho e leva-o à vaca do Sr. Manuel.
No meu tempo de menino e moço havia pobres indigentes que andavam de terra em terra a pedir. Na altura não havia Segurança Social para estes infelizes que por deficiências físicas ou outras se arrastavam a estender a mão para sobreviver. As suas roupas remendadas e esfarrapadas eram invólucro de pobreza extrema. Naquele tempo o dinheiro também não abundava na parte contrária e então era ver os suplicantes com uma sacola para eventualmente receberem uma quarta de milho ou uma malga desse cereal!...
Atualmente estamos confrontados com outro género de pedintes nacionais e o que é mais estranho outros que vêm sobretudo do leste da Europa. Gente jovem, que fazem da pedinchice modo de vida. É sabido que no meio urbano somos assediados a cada passo por gente que nos pressiona para a sensibilidade caritativa.
Esses tentáculos da pedincha estendem-se também ao meio rural para onde vão em grupos organizados que se espalham pelos mais recônditos lugarejos e batem todas as casas. As suas origens estão identificadas pelas saias compridas que usam!...
Há dias lá na terra alguém bate à porta. Era uma jovem que certamente, pensei depois, numa de aculturação lusa, não usava saias compridas. Perguntei-lhe, que deseja? Quem é a menina? (Nas aldeias é habito perguntar a que família pertence).
- Sou romena, não tenho emprego, ando a pedir!...
Já temos cá muitos pobres, dispensavam-se estes!...
No passado domingo, dia 27 de Fevereiro de 2011, o Jornal de Notícias e a FNAC organizaram o primeiro de uma série de "Passeios pelo Porto". Subordinado ao tema "A Cidade Episcopal", o jornalista/historiador/escritor Germano Silva conduziu os acompanhantes desde o Terreiro da Sé até à loja da FNAC em Santa Catarina. Mais uma vez tivemos a simpática participação do Rancho Folclórico do Porto que animou este passeio com danças e cantares da época. Eu e mais dois amigos fotografámos e organizámos este álbum que queremos partilhar convosco.
Dizia eu no último post sob esta temática que uns aprovam a mais valia da construção da barragem, gente da esfera do poder e também os presidentes das câmaras da área com excepção de Mirandela. Bem sabemos como os edis estão sempre ávidos a grandes obras de betão, pois claro, sinónimo na óptica deles, de progresso. E então vêm-se pelo interior sinais dessas marcas, torres de muitos andares a destoar na paisagem como acontece por exemplo na Régua. Outros estarão, como o tolo no meio da ponte, dizia eu, estão a documentar-se para depois terem uma opinião mais formada, ou não, pois uma comunicação social disse sim outra não, como se a imprensa não reflectir-se sensibilidades políticas!... Isto a propósito da construção da barragem e consequente abafamento da Linha do Tua.
Também lembrava no post anterior que os atentados ao património têm acontecido ao longo dos tempos e também tem havido quem não se cale como um dos nossos maiores da literatura - Almeida Garrett. Sobre a destruição do "Arco de Sant´ana" na rua com o mesmo nome no centro histórico do Porto, dizia o escritor:
"Falta-te, é verdade, ó nobre e histórica Rua de Sant´ana, falta-te já aquele teu respeitável e devoto arco, precioso monumento de religião de nossos antepassados, e que, certo é, mais te vedava a pouca luz do céu "material" que tuas augustas dimensões deixam penetrar mas, era ele, em si mesmo, foco espiritual e luz de devoção que ardia no bendito nicho conseguido à gloriosa santa do teu nome. Caiste-te pois tu, ó arco de Sant´ana, como, em nossos tristes e minguados dias, vai caindo quanto há nobre e antigo às mãos de inovadores plebeus, para quem nobiliarquias são quimeras..."
Outros Garretts estarão no futuro a lamentar a destruição da linha e de toda uma paisagem de potencial turístico com um paredão enorme!...
Esta Linha foi a grande entrada para Trás-os-Montes. O rei D. Luís e a rainha Maria Pia que deixaram no Porto duas notáveis travessias estavam em Mirandela rodeados pela população com grande regozijo à chegada do primeiro comboio que mais tarde seguiria para Bragança.
Manter aquela travessia com melhoria na via e no material circulante seria na minha óptica uma solução de futuro mas infelizmente parece que vai tudo "p´ró maneta".