Garota com pinta
Andava eu pela EMPP no início dos anos setenta. Tinha chegado pouco antes da guerra colonial e então era altura da fazer qualquer coisa na vida e a escolha foi mesmo essa. Nunca fui um aluno brilhante mas lá me ia safando entre algum equilíbrio de vontade para estudar conjugada com os dotes medianos de inteligência. Se a pedagogia e a psicologia do curriculum escolar não me despertavam amores de perdição também não as chutava para canto.
Nas horas vagas gostava de andar pela Baixa a farejar casas de livros – livrarias, não que fosse um adquiridor, era mais um curioso. Uma livraria que gostava de cuscar era a Bertrand, já fechou, ficava na Rua 31 de Janeiro (naquela altura designava-se por Santo António, lembram-se?). Então a predilecção por esta livraria levava-me à secção das Revistas onde na Playboy podíamos ver as curvas femininas, não sei agora à distância se eram só coxames ou se se ia mais além com os pipis escarrapachados!...
Há dias fui ao meu barbeiro de sempre, continua-se a dizer barbeiro a quem faz sobretudo cortes de cabelo, mas adiante. Enquanto esperava a minha vez sentei-me no sofá e à minha frente na mesa, duas revistas da Playboy. Numa delas lá estava a professora de quem mais se falou nos últimos tempos, com todo o profissionalismo de mulher sensual, modelo a seguir para as demais!... E já repararam que até no nome a garota tem pinta, Bruna Real!...
Numa de malandrice, enquanto estava a ser tosquiado, faço-me de moralista e lanço a sugestão:
- Ó Senhor Magalhães, devia ter também aqui revistas doutro calibre pois como a sua clientela é variada poderá eventualmente aparecer por aqui um eclesiástico!
A resposta pronta não se fez esperar:
-Tenho também ali a Visão e a Focus, a minha barbearia é pluralista!...
Fiquem bem, antonio