Pela ruralidade - LVII (A velha cozinha)
Ir ao baú das memórias e puxar cá p´ra fora pedaços da nossa história é sempre um exercício salutar.
Há dias numa entrevista ao mais rico de Portugal era dito que o Sr. Américo Amorim que pelos vistos veio do nada, andou de tamancos. Isto dito assim como uma mais valia de quem subiu na vida a pulso deixa muita gente de boca aberta. Outros trabalham que se fartam e não sobem na vida assim, vá-se lá saber porquê!...
A imagem é da cozinha velha, agora deserta, onde nos primórdios de criançada ajudei a defumar as chouriças e os salpicões, as primeiras penduradas nas varas e os outros no sarilho, o contrário também é válido. Foi também nesta vetusta cozinha que à luz da candeia aprendi as primeiras letras bem como a História de Portugal de fio a pavio e então de geografia era um fartote desde linhas e ramais, estações e apeadeiros bem como serras e serrinhas de Portugal e de Além-mar!... O forno lá está a um canto onde muitas fornadas de lá saíram sempre com a bênção de Deus. Ai as célebres batatas a murro que eram ali assadas antes de tapar a porta do forno. E a tapagem, não se escandalizem, era mesmo com bosta de vaca que se ia buscar à corte. Junto à lareira, o trefogueiro, as tenazes e as panelas de ferro algumas pernetas ou com próteses devido à idade, havia um ou outro púcaro de barro onde se coziam as castanhas. Ao lado o preguiceiro cuja mesa descia mesmo nas barbas da lareira para os da casa saborearem o conduto. E lá no alto a trapeira por onde se esgueirava o fumo depois de envernizar o fumeiro, era cá um respiradouro que nas noites de Inverno era contrariado pela fogueirada. A um canto a masseira que também servia de mesa ou louceiro à mão de semear.
Memórias do tempo que passa!...
Fiquem bem, antonio