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Magistério6971

Os autores deste jornal virtual apresentam a todos os visitantes os seus mais cordiais cumprimentos. Será bem-vindo quem vier por bem.

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Pela ruralidade - LVI (O tamanco perdido?)

O senhor Manuel do Reguengo tinha-se levantado de madrugada, foi à corte deitar duas fachas de palha às vacas e tinha recomendado à mulher que lá para o meio da manhã as levasse a rapar no campo. Que não esquecesse também as três ovelhas que deviam ser travadas para não irem lambariscar para o campo do vizinho. Para o cevado não era necessário recomendações pois estava ao encargo exclusivo da patroa. Meteu pés, melhor dizendo tamancos rapeiros a caminho, ainda escuro como breu, por atalhos e carreiros lá foi à feira de Cinfães. Duas horas de caminhada não era coisa que o assustasse pois estava habituado nestas andanças e as distâncias não lhe metiam medo. Pelo caminho encontrou um casal com um puto de boné e botas cardadas a chupar uma pútega que encontrou junto a uma esteva,  lá foram até à vila tagarelando sobre a labuta dos trabalhos agrícolas e a tónica era que o tempo ia frio e muito seco como não havia memória. Iam numa de sondar na feira o preço do gado, tinham na corte um bezerro alentado, filho de vaca arouquesa e boi de cobrição ganhador das "chegas" da Feira das Malhadas no Montemuro. Estava no ponto de ir para a carne, e queriam estar por dentro da cotação para a futura venda, não gostavam de serem apanhados desprevenidos por algum marchante que aparecesse lá por casa. O senhor Manuel esse ia comprar um molho de pencas e uma vara de cebolo para plantar aproveitando para cheirar a feira do gado. Também foi à Repartição de Finanças pagar a décima duns quelhos que tinha herdado dos seus antepassados em nome dos quais ainda estavam.

Taleigo às costas o nosso homem faz o caminho de regresso para casa. Estava-se no Inverno, os dias ficam pequenos, a noite chega num ai. A meio do caminho já o sol tinha caído na linha do horizonte, dois estorninhos em voo rasante vão à procura de abrigo para  a noite, o senhor Manuel passava numa lameira num sítio chamado Chão de Lamas da freguesia de Fornelos. Ao atravessar o lamaçal um dos tamancos ficou preso e enterrado, procura aqui, procura ali e nicles, já não se enxergava nada com o escuro. O indomável lavrador pegou no outro tamanco colocou-o atado à trouxa, seguiu caminho até casa metendo a viola no saco não contando à mulher o sucedido e no dia seguinte logo de manhãzinha foi ao local referenciado pescar o tamanco o que conseguiu com êxito depois de remover a lama dando umas cavadelas com a sachola. Quando chegou a casa pergunta-lhe a mulher, onde foste Manuel? Como não gostava de dar parte de fraco atalha uma arara: - Fui abrir a presa de consortes do campo cimeiro que já estava a esbordar e a ferrã agradece a rega, hoje é o nosso dia!... Demorei mais um bocado tive que meter na ordem o Zeca da Bica que dizia que a poçada hoje lhe pertencia.

 

Fiquem bem, (antonio)