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Magistério6971

Os autores deste jornal virtual apresentam a todos os visitantes os seus mais cordiais cumprimentos. Será bem-vindo quem vier por bem.

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Guerra Junqueiro

Recebi este post de um amigalhaço, achei curioso como é que Junqueiro retratava a situação do país em 1896, cujo teor parece estar muito actual. Parece que daí para cá nada se aprendeu para sermos um povo feliz.

     (antonio)

 

"GUERRA JUNQUEIRO


Abílio Manuel Guerra Junqueiro (Freixo de Espada à Cinta, 17 de Setembro de 1850 — Lisboa, 7 de Julho de 1923) foi bacharel formado em direito pela Universidade de Coimbra, alto funcionário administrativo, político, deputado, jornalista, escritor e poeta. Foi o poeta mais popular da sua época e o mais típico representante da chamada "Escola Nova". Poeta panfletário, a sua poesia ajudou criar o ambiente revolucionário que conduziu à implantação da República.
Nasceu em Freixo de Espada à Cinta a 17 de Setembro de 1850, filho do negociante e lavrador abastado José António Junqueiro e de sua mulher D. Ana Guerra. A mãe faleceu quando Guerra Junqueiro contava apenas 3 anos de idade.
Estudou os preparatórios em Bragança, matriculando-se em 1866 no curso de Teologia da Universidade de Coimbra. Compreendendo que não tinha vocação para a vida religiosa, dois anos depois transferiu-se para o curso de Direito. Terminou o curso em 1873.
Entrando no funcionalismo público da época, foi secretário-geral do Governador Civil dos distritos de Angra do Heroísmo e de Viana do Castelo.
Em 1878, foi eleito deputado pelo círculo de Macedo de Cavaleiros.
Faleceu em Lisboa a 7 de Julho de 1923.

 

 

 

 


1896 MAIS ACTUAL QUE NUNCA…
GUERRA JUNQUEIRO, PORTUGUÊS, HOMEM DE LETRAS – AFINAL NADA MUDOU

 


“Um povo imbecilizado e resignado, humilde e macambúzio,
Fatalista e sonâmbulo, burro de carga, besta de nora,
Aguentando pauladas, sacos de vergonhas, feixes de misérias,
Sem uma rebelião, um mostrar de dentes, a energia de um coice,
Pois que nem já com as orelhas é capaz de sacudir as moscas;
Um povo em catalepsia ambulante, não se lembrando nem donde vem,
Nem onde está, nem para onde vai;
Um povo, enfim, que eu adoro, porque sofre e é bom,
E guarda ainda na noite da sua inconsciência como que
Um lampejo misterioso da alma nacional,
Reflexo de astro em silêncio escuro de lagoa morta.

Uma burguesia, cívica e politicamente corrupta até à medula,
Não descriminando já o bem do mal, sem palavras, sem vergonha,
Sem carácter, havendo homens que, honrados na vida íntima,
Descambam na vida pública em pantomineiros e sevandijas,
Capazes de toda a veniaga e toda a infâmia, da mentira à falsificação,
Da violência ao roubo, donde provém que na política portuguesa
Sucedam, entre a indiferença geral, escândalos monstruosos,
Absolutamente inverosímeis no Limoeiro.

Um poder legislativo, esfregão de cozinha do executivo;
Este criado de quarto do moderador; e este, finalmente,
Tornado absoluto pela abdicação unânime do País.

A justiça ao arbítrio da Política,
Torcendo-lhe a vara ao ponto de fazer dela saca-rolhas.

Dois partidos sem ideias, sem planos, sem convicções,
Incapazes, vivendo ambos do mesmo utilitarismo céptico e pervertido,
Análogos nas palavras, idênticos nos actos,
Iguais um ao outro como duas metades do mesmo zero,
E não se malgango e fundindo, apesar disso,
Pela razão eu alguém deu no parlamento,
de não caberem todos duma vez na mesma sala de jantar.”

Guerra Junqueiro, 1896."