Torre Medieval de Lourosa de Campos
Torre medieval (gótica) de Lourosa de Campos, freguesia do Burgo, mais conhecida por Torre dos Mouros, é um dos raros exemplares “sui generis” existentes no país. Pertence ao estilo gótico, apresentando bem conservados alguns elementos que a caracterizam, tais como seteiras, arcos ogivais, matacães, com uma cisterna hoje aterrada e uma inscrição que ainda não foi decifrada.
Esta torre quadrangular, data provavelmente da segunda metade do séc. XIII, constituiu um notável exemplo de residência senhorial fortificada.
Pertenceu a Soeiro Nunes, militar de Caambra que a empenhou ao Mosteiro de Paço de Sousa por 30 maravedis, por escritura de 27 de Março de 1264.
Por divisão das Mesas do Mosteiro de Paço de Sousa em abacial e conventual, ficou a Torre a pertencer aos Jesuítas e mais tarde à Universidade de Coimbra, que a vendeu.
Foi precisamente à Universidade de Coimbra que os meus avós paternos compraram não só a Torre dos Mouros, como também a quinta com o mesmo nome. Ora, a história relacionada com a compra é digna de um roteiro onde se pode realçar dois grandes valores, hoje em dia infelizmente em desuso – o da lealdade e confiança.
Os meus avós depositaram uma pequena fortuna nas mãos de um criado, o Manuel, a fim deste se deslocar a Coimbra para efectuar a compra. Como os tempos eram difíceis, os assaltos constantes, foi disfarçado de pobre pedinte esfarrapado, maltrapilho. Num saco de pano, debaixo dos andrajos, escondia religiosamente a pequena fortuna.
Chegado a Coimbra, dirigiu-se a uma taverna, pedindo um copo de vinho. Precisamente na mesa ao lado, três homens banqueteavam-se enquanto faziam a contabilidade das suas economias. Manuel pôs as suas orelhas afiadas e ficou sabendo que, depois das contas feitas, os três possuíam sete contos de reis e que tencionavam comprar a propriedade.
Já bem enfartados, abalaram do local dizendo ao dono para dar os restos ao provável pedinte. Manuel aceitou sem cerimónias e, por fim, dirigiu-se à Universidade para completar o trabalho que lhe fora confiado.
A venda foi a haste pública. Manuel começou a cobrir todas as propostas. Os indivíduos que o conheceram na taverna, indignados, vociferaram: “Este homem é um pobre pedinte, ainda há pouco tempo matámos-lhe a fome. Não tem o direito de estar presente neste leilão, só mediante um fiador”. Então, Manuel levantando o capote, puxa o dito saco de pano, e exibe as notas exclamando bem alto: “O meu fiador está aqui”. Toda a gente ficou boquiaberta e rendida à evidência. O leilão continuou até aos sete contos de reis, quantia que os três homens possuíam como já era do conhecimento de Manuel. Este cobriu a proposta com mais dez tostões e foi, graças a este homem leal e corajoso, que eu hoje sou agricultora de um pequeno quinhão da quinta dos Mouros.
Lendas relacionadas com a Torre dos Mouros
Reza a lenda que a Torre fora edificada por robustos homens de origem Muçulmana, numa só noite. É também dito que há um túnel secreto, fazendo a ligação da Torre a São João de Valinhas.
Fala-se também da existência de uma charrua e uma grade em ouro na mina, em que quem ousar retirar esses tesouros, ouvirá um barulho ensurdecedor. Outra versão aponta para que, quem retirar esses tesouros, deverá exclamar “graças ao diabo!” e não “graças a Deus!”, sob risco de a relíquia desaparecer.
Aconteceram vários episódios de tentativas de escavação na Torre, por crentes e curiosos, pelo que os meus avós decidiram empedrar a entrada do presumível túnel.
Com as saudações mouriscas, Edlineb.