Olhar o Porto - LXXXI (Passeio dos tristes)
Certamente quem eventualmente passe por aqui os olhos já teve esta mesma experiência. Quando se vai a um consultório médico ou laboratório de análises clínicas há sempre aquele compasso de espera que tanto maior é quanto mais pontual for o cliente, como é o meu caso. Então estar ali sentado à espera que saia é uma seca dos diabos!... Deitei o olhar em volta e lá está a mesinha a um canto com revistas da “societé” velhinhas na data mas não nos conteúdos. Peguei numa delas e helás logo na capa era anunciada uma entrevista a Helder Pacheco, historiador da cidade. A minha curiosidade afilou-se para o que diria esta personagem que trata por tu o Porto. O pensamento crítico de Helder Pacheco sobre as malfeitorias que se têm feito à cidade é conhecido. Ele próprio que se intitula um indígena nascido na freguesia de Vitória sabe que a cidade está a precisar de um abanão agora em sentido inverso ao que lhe foi dado a partir dos meados do século passado com o despovoamento do centro. Fala nos muitos cafés que foram fechados para virar bancos e que eram pólos aglutinadores de pessoas que contribuíam para a vida na cidade. E agora até esses balcões da banca estão fechados! Diz que o portuense tinha três sítios importantes na sua vida: o trabalho, a família e o café. Havia também, digo eu, local de lazer que assisti nos meus verdes anos, o portuense à noite ia com a família ver as montras da Baixa, dar o passeio dos tristes, era o slogan que se ouvia com ironia. Os manequins masculinos com as roupas da moda (Miura e Levis) e os femininos com as lingeries da época e corte de cabelo à Beatriz Costa, eram admirados.
Hoje a cidade à noite está deserta e isso cria insegurança até porque também não há policiamento visível, as centralidades foram erradamente deslocadas para outros locais da moda “shoppings”.
Fiquem bem, antonio