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Magistério6971

Os autores deste jornal virtual apresentam a todos os visitantes os seus mais cordiais cumprimentos. Será bem-vindo quem vier por bem.

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Pela ruralidade - XLIV (A viagem à cidade)

Eis-me na minha primeira viagem à cidade admirando as luzes, o neón, o bulício de gente apressada a ir para as fábricas, o primeiro silvo já se tinha feito ouvir e ao segundo teria que estar tudo em frente das máquinas, e até o polícia sinaleiro na peanha, cabeça de giz como diziam os maldosos do bas-fond da cidade, não me livrando das bocas dos reguilas residentes “ó patego olha o balão”!...
Na carreira do Escamarão a viagem na altura(1960) ficava por uma nota de vinte, o cobrador de sempre, Sr. Sebastião com a saca de couro a tiracolo, ensebada pelo uso, era respeitado, orientador de tudo o que seguia a bordo. Falar na carreira do Escamarão daquela época Cinfães – Porto estava implícito falar no Sr. Sebastião. Na grade da camioneta no tejadilho ia toda a sorte de mercadorias, como gigas de galináceos (marrecos, pintos, frangos e garnizés), cestos de láparos, condessas, açafates e sacos, malas de cartão eram um luxo, caixas de fruta da época, apetrechos agrícolas, bem como pasteleiras, leia-se biclas. A segurar toda aquela heterogeneidade havia uma rede e por cima desta um oleado nos dias de chuva. Um ou outro garoto de 5 l com sumo de uva, rolha manhosa de cortiça com folhelho a vedar, via-se aconchegado entre as pernas dos utentes passageiros. Os vidros das janelas eram de baixar, o que dava cá um jeitaço para os que não estavam habituados a estas andanças e por isso após algumas curvas no macadame começavam a “arrancar”, leia-se “chamar o Gregório”. As laterais da carreira ficavam numa enxovia!
Numa dessas idas à cidade recordo um casal de camponeses bem maduros temerem pela longevidade da viagem e então levaram abastecimento. De vez em quando ele tirava do bolso interior do casaco uma garrafinha de três quartos com bagaço, mandava abaixo duas goladas, bravo como coriscos até queimava as pestanas a avaliar pela cara feia do sôfrego bebedor, a seguir passava à patroa esta não se fazia rogada e enfiava uma tarraçada para aquecer, estava-se em Janeiro!... Mas a última escorropichadela era para o cabeça de casal habituado que estava a este depurativo mata-bicho. E o rapaz que agora está aqui a recordar esta viagem virgem, lá ia observando tudo com naturalidade, tinha-se amanhado lá em casa com um café de cevada e uns nacos de trigo ou seria broa?
 

  Fiquem bem, antonio