É já no próximo sábado, 20 de Junho, o encontro anual do nosso curso. Já tive oportunidade de justificar pessoalmente junto do nosso colega Carlos Gaspar (o Carlos de Riomeão) a minha ausência. Posso partilhar também convosco o motivo e irei fazê-lo por via postal para a Comissão Organizadora: é que é o sábado imediatamente anterior ao S. João e a saúde da Esmeralda não dá para ficar sozinha com o negócio de balões e foguetes de S.João num dia desses. Tudo é tão simples como isso. Nada há para encobrir. O que vos peço é uma coisa: fotografias para fazer uma reportagem digna aqui no nosso jornal virtual. E à Comissão Organizadora eu relembro que no ano anterior o fotógrafo oficial do evento entregou à nossa colega Ana Maria o cd com as fotos do evento que é o que está disponível no nosso blog. Então façam o favor de se divertir e de passar um bom bocado. Um abraço para todos do Francisco.
Acabei de ver e ouvir hoje, 2.ª feira, 15 de Junho de 2009, mais uma cena de uma novela. Esta cena passou-se na Comissão Parlamentar de Inquérito, onde ainda está, neste momento, a ser ouvido o Senhor Governador do Banco de Portugal. Entretanto, eu, que nunca gostei de Corin Tellado, sou obrigado, diariamente, a ler, a ver e a ouvir cenas desta já longa novela. Isto que estou a escrever mais não é do que um desabafo. O desabafo de um cidadão português que já perdeu a paciência. Serei o único? Se me disserem que eu não sei fazer uma acta ou dirigir um ofício ou fazer um relatório, estão a chamar-me burro e analfabeto. Então não é que acabo de ouvir o Sr. Governador dizer que os senhores deputados já revelaram, em declarações anteriores, nada perceberem do assunto? Pudera, Jacques de la Palice, não diria melhor, pois se os deputados fossem experts na matéria, já teriam encontrado motivo de incriminação e não teriam necessidade de estar a prolongar a novela por tantas cenas indesejáveis. Se eu tivesse autoridade, já tinha dado prazo para ver este assunto encerrado. Como não mando nada, resta-me utilizar o voto para castigar quem eu acho que está mal. Mas, sinceramente, ainda tenho nos ouvidos aquela declaração do senhor governador a dizer que já sabe que lhe vão fazer questionários infindáveis, à maneira inquisitorial e até à exaustão. Exausto já eu estou, Senhor Governador. O Senhor Governador estará acima da lei? Não haverá, neste país, quem diga, publicamente, a deputados e a governadores, que este não é um país de brincadeira? Haja respeito senhores.
Eu fui à cidade à noite na semana passada. Há quarenta anos quando se dizia, vou à cidade, era sabido que a referência era a cidade do Porto, não só em toda a área metropolitana como até em terras distantes como Marco, Baião e até Cinfães apesar de pertencer ao distrito de Viseu. Agora há por aí cidades a dar com um pau, só o concelho de Gondomar tem três: Gondomar, Rio Tinto e Valbom. E estão sempre a fabricar mais, as notícias de ontem davam a criação de mais cinco, entre elas a Senhora da Hora. Bem, mas eu vou mantendo as minhas referências ancestrais, fui mesmo à cidade.
Alguém amigo me telefonou a dizer que à noite ia haver, no Ateneu uma sessão de apresentação dum livro dum poeta falecido precocemente, filho duma colega com quem trabalhei durante muitos anos. Lá fui e comprei o livro que ainda não li com atenção mas parece-me de leitura um bocado difícil para mim. Tenho ideia que os poetas manifestam as suas ideias duma maneira profunda que nos exige um esforço para entender o seu alcance que está à frente do comum dos mortais.
Aproveitei então no final para dar uma volta pelo centro da cidade, ver com os meus próprios olhos a nostalgia que invade o Porto à noite. Dos meus tempos de jovem guardo aquele sentimento que havia nas famílias para ir tomar um café à Baixa e ver as montras. Hoje o que se observa é desolador. Não há gente e alguma que se vê será um ou outro fugaz como eu, e pessoal da pesada ou os sem abrigo que começam àquela hora nos portais de casas falidas a fazer o ninho. Quanto a segurança nem é bom falar, não se vê uma farda!... Ficamos pela consolação que ainda somos um país de brandos costumes?
Somos saudosistas dum outro tempo, pois somos, quando a cidade mexia à noite. Sinais dos tempos!...
Estávamos em 1967 no auge da chamada guerra colonial ou guerra nas províncias ultramarinas como era politicamente correcto dizer-se naquela época. O Batalhão nº 1910 de que fiz parte tinha chegado à região dos Dembos em Angola para uma missão de dois anos. Durante uma semana estagiamos no terreno com o Batalhão até aí residente que foi passar o resto da comissão para o leste de Angola antes de passar à "peluda". Nós os maçaricos fomos à chegada bafejados com umas malandrices quais praxes académicas, pelos “velhos”. Até o nosso comandante ficou sem o “quico”! Reportagem simulada da RTP do “puto” à nossa chegada com câmara simulada em cima dum “burro do mato”, deu-nos a sensação de boa disposição em plena selva africana. Após essa semana de troca de informações sobre a guerrilha nomeadamente os locais onde os “turras” poderiam incomodar, ficamos entregues à bicharada numa extensa área com as Companhias por locais distantes nomeadamente Balacende, Maria Fernanda e Quicabo sede do comando do Batalhão.
Ora foi precisamente no dia 10 de Junho de 1967, data que me ficou gravada para todo o sempre que aconteceu o baptismo de fogo ao pessoal. Uma escolta tinha ido à localidade mais próxima onde havia alguma civilização – Caxito, buscar mantimentos e correio. No regresso deu-se “porrada grossa” à coluna incidindo numa “Berliet”(ou seria uma GMC?) que ficou crivada de balas. Os “bate-estradas” que nela vinham com origem nos familiares do “puto” desapareceram na confusão. Um dos jipes onde ia um sargento lateiro que tinha metido o "chico" consegue furar a borrasca e eis que chega ao aquartelamento em pânico anunciando a tragédia. Constituiu-se de imediato uma coluna de socorro com “burros do mato”, pessoal da picada e até do "arame farpado" armado até aos dentes e o 2º comandante, major André do Nascimento Infante, a capitanear(após o 25 de Abril de 1974 foi embaixador em Argel certamente tendo em conta as suas tiradas de esquerda que já lá fora se manifestavam). Quando lá chegaram os reforços limitaram-se a recolher na “picada” dois militares e um civil mortos, e alguns feridos. Dos “turras” nem rasto!... O moral das tropas ficou por uns tempos afectado, o caso não era para menos!... Um dos feridos graves era um alferes para quem foi pedido a Luanda uma evacuação de Heli. Como já era perto da noite este meio de transporte só pode vir na manhã seguinte aterrando na pequena pista do aquartelamento de Quicabo. Passado uns dias veio do Comando Militar de Luanda uma piçada(terminologia militar, pode ser substituída por rabecada) ao Comandante do Batalhão, Tenente Coronel António Joaquim Fernandes, um transmontano que tinha estado no Porto a comandar a GNR e que nessa qualidade foi um dos presentes na inauguração da Escola da Lomba na freguesia do Bonfim em 1957, dizendo que o pedido de evacuação deveria ser reformulado para um "Cessna", pois a viagem no avião era mais económica e o Heli seria necessário para outras missões onde eventualmente não existisse pista.
Glossário:
“velhos” – militares com mais tempo de tropa em antítese a “maçaricos”
“quico” – bivaque de campanha
“turras” – terroristas
“puto” – nome dado à metrópole com bonomia
“berliet” – camião muito usado na guerra colonial cujo fabrico era no Tramagal
“bate-estradas” – é o mesmo que aerogramas que eram correio gratuito
“burros do mato” – eram unimogs pequenos e altos
“picada” – estrada de terra batida muito usada por toda a Angola
"meter o chico" - indivíduo que após o serviço militar obrigatório fez carreira
"pessoal do arame farpado" - em oposição aos da picada eram os administrativos e dos serviços
"passar à peluda" - acabar o tempo do serviço militar
"Cessna" - avião de quatro lugares muito utilizado em Angola pelos militares e civis
No meu pequeno quintal há um pinheiro nórdico onde a passarada gosta de parquear. Os pardais, os chapins, os melros e as rolas têm ali o seu habitat preferido. É um pinheiro espesso, por conseguinte de boa camuflagem para os voadores. Este ano foi escolhido por um casal de rolas de colar para aí nidificar. Ao contrário dos ninhos dos melros que são de construção bem talhada em forma de malga, o ninho das rolas é bastante simples que na linguagem popular diz-se “mal feito”. Tenho acompanhado com discrição desde a elaboração do ninho, o choco e agora já os dois filhotes em boa desenvoltura prontos para voar dentro de dias.
Uma relação de proximidade com esta passarada está-me no âmago desde os meus tempos de menino. Naquela altura uma das distracções da pequenada, a televisão estava no início, era no fim da escola ir aos ninhos. À distância vejo isso como um refinamento do espírito de descoberta da miudagem, era sabido que eles estavam sempre bem escondidos.
Agora sou correspondido com os chilreios dos melros ou com o arrulhar das rolas "turrr, turrr, turrr" logo pela manhãzinha, mas o mais madrugador é o chapim. Eles cantam de contentes procurando as migalhas pois todos os dias após as refeições estou de serviço levantando a mesa, sacudindo a toalha da varanda para o quintal. Até o fugaz pardal se chega à frente à hora das refeições!...
Vote em nós, o seu voto é importante, dizem eles. Eu também digo que será importante, não só mas também para eleger os privilegiados a ganhar uns balúrdios como euro-deputados.
Nas ruas, vielas, becos, bairros, feiras, festas e romarias, à porta das igrejas não sei, eles todos se esfarrapam:
- dê-me o seu seu votinho, era o que se ouvia, qual pedinte suplicando esmola na festa do Senhor dos Enfermos da minha terra de há 30 anos.
Veja-se o cagaçal desta campanha eleitoral que o povo tem de gramar e as que virão a seguir!... E a comunicação social é que gosta destas coisas!...
O povo é sereno e gosta de se sentir importante, o poder dá-lhe o direito ao voto, vestindo o facto domingueiro para ir meter o papel na urna (que nome tão tétrico) ou estarei enganado?!...
Às vezes quando vejo certas notícias fico-me na retranca e penso cá com os meus botões se será mesmo assim aquilo que me entra pelos ouvidos.
Duas situações me deixaram estupefacto. Uma delas relacionada com aquelas trapalhadas fraudulentas na banca. Então não é que um dos hipopéticos salvadores após a bronca, antigo ministro que foi, de seu nome Miguel, recebeu dez milhões durante seis meses que esteve na admninistração do banco!... É muita guita!...
A outra também relacionada com cacau tem a ver com aquela sapatada de mestre efectuada por três assaltantes fardados de polícias que sacaram cerca de um milhão de euros às pessoas que estavam na quinta de S. Salvador em V. N. de Gaia. Assaltos com resultados chorudos têm sido o dia a dia, só quem não lê os jornais se poderá espantar, mas desta feita o que me surpreendeu foi o facto de haver por aí muito dinheiro adquirido não se sabe como. Então não é que cada aposta nesse jogo chamado da bolha era um mínimo de 10.000 euros?!...
As romarias fazem parte da cultura dum povo e têm maior expressão no interior do país. A romaria do Senhor dos Enfermos é a que tem maior impacto no concelho de Cinfães e celebra-se anualmente no dia de Pentecostes e na véspera na freguesia de Fornelos. A devoção ao santo, como lá se diz, está bem vincada nos habitantes não só do concelho de Cinfães mas também nos concelhos limítrofes. Como tal essa festividade é sustentada pelas ofertas das promessas dos crentes, embora agora tenha havido um decréscimo segundo ouvi dizer pois as dificuldades económicas começam também aqui a fazer-se sentir. No auge da chamada guerra colonial os montantes das dádivas eram mais significativos segundo a mesma fonte. A religiosidade das pessoas estendia-se também aos animais, assim era comum verem-se cumpridores de promessas fazendo-se acompanhar duma vaca que à volta da capela cumpria a promessa. Seria a quitação segundo penso pelo bom parto, pela sã cria ou, quiçá, pelo fértil úbere que saciava também a família. Dos meus tempos de juventude guardo na mente uma legião de enfermos, deficientes ou descamisados que no dia da festa suplicavam a compaixão dos romeiros. Estamos a falar duma época em que poucos tinham reformas e rendimento social de inserção nem pensar. Os tempos agora são outros, já ninguém vem a pé para a festa, à frente o homem de chapéu de três bicos com um garoto de 5 l de tinto pendurado às costas num cajado de lodão, na peugada a mulher, à cabeça, com o farnel na condessa e atrás os filhos descalços com as botas às costas que só calçavam à chegada ao arraial!...