Olhar o Porto - LXVII (A figura)
A manhã estava fresca, uma neblina baixa por toda a cidade dando-lhe um ar plúmbeo mas a avaliar pelos dias anteriores era presságio de mais uma vez fazer lei o ditado popular – manhã de nevoeiro, tarde de soalheira.
Passo em quatro rodas na Rua Agostinho de Jesus e Sousa. O trânsito por aí é por vezes a passo de caracol outras nem tanto, eu ia nos conformes como ditam as leis do trânsito na urbe, pelos 40Km/h. Observo um maduríssimo cavalheiro postado no passeio pronto para ter vez para atravessar para o outro lado, jardim Paulo Valada. Corpo esguio como sempre foi, boné à maneira imagem de marca, era o Senhor Francisco a carregar com leveza oito décadas e meia, já não lhe punha os olhos em cima há muito mais de uma década, e agora fugazmente em andamento. Um polivalente coca-bichinhos do camano sempre pronto a ajudar a vizinhança quer no pedrês da porta que está malandro, os gonzos da porta fronha, empenados é favor, da abegoaria do palacete da antiga quinta de Paranhos terra de boa semeadura mas agora no estertor, na janela que roça no peitoril, na aldraba do portal da antiga arrecadação que já não vê pinta de óleo há anos ou até na colocação de uma vidraça no santuário da Sagrada família que um petiz sorrelfa partiu quando ia a ser levada para outro lar. Tudo o que aparecia com problemas, o senhor Francisco, sempre solicito, dava um jeito.
Na vida activa profissional andou pelo Janeiro, leia-se jornal Primeiro de Janeiro, era condutor e nessa qualidade em serviço acompanhou várias vezes a volta a Portugal em bicicleta. Quis aqui registar uma figura carismática anónima (não no meu subconsciente) daquelas que há pela cidade que à boa maneira de Helder Pacheco aqui singelamente referi.
Fiquem bem, antonio