Continuemos então a preparar o nosso encontro anual, a realizar em 28 de Junho de 2008. É do programa que terminará com um circuito em autocarro aberto à zona da Ribeira e ao Porto Antigo. Por esse motivo, queria deixar-vos aqui a possibilidade de antever esse percurso. Todavia, o que encontrei foi apenas isto. Para que não se sintam defraudados, encaminho-vos para o visionamento desta galeria pública de fotografias da mesma zona do Porto. Basta clicar sobre a fotografia. Saudações magistéricas do Francisco.
Ora vamos lá continuar a preparar a nossa visita de estudo às Caves de Vinho do Porto Ramos Pinto, no âmbito do programa elaborado para o nosso encontro de 28 de Junho de 2008 comemorativo do 37º aniversário do nosso curso de 1969/71 da Escola do Magistério Primário do Porto.
E como eu já lá fui espreitar, quero partilhar convosco o que as Caves Ramos Pinto têm para mostrar. Basta clicarem em cima da fotografia e terão acesso ao link.
Ontem, domingo, dia 27 de Abril de 2008, foi dia de acompanhar o Dr. Hélder Pacheco em mais um dos Passeios da Primavera 2008, organizados pelo Departamento de Cultura da Câmara Municipal do Porto, concretamente «da Praça D. Pedro ao Palácio de Cristal». Clicando sobre as fotografias, podemos ver dois álbuns fotográficos que procuram registar esta visita de estudo.
Nas aldeias o atraso era notório em relação à cidade pois lá a escuridão só era entrecortada pela luz da candeia. As pessoas quando vinham ao Porto ficavam deslumbradas com os “néons” principalmente na Baixa onde a publicidade dava cartas. A máquina de costura em pleno ilusório funcionamento, no cimo do telhado do Palácio das Cardosas e o capa negra da Sandeman em cima do edifício onde funciona a Cervejaria Sá Reis faziam o gáudio à noite não só dos pobres campónios, chegados à estação de S. Bento no comboio a vapor, que nunca tinham visto tamanhas maravilhas, mas também dos tripeiros que se orgulhavam de ter uma cidade a palpitar quer de gente nas ruas como de luminosidades artísticas. Essa cidade social foi-se, mas há 30 anos ainda era assim, E quando oiço alguém dizer que a urbe à noite ainda é segura fico na dúvida embora não leve a minha incredibilidade ao extremo. Calcorrear a cidade e admirá-la é um exercício que já me tem custado algum esforço occipital. Andar com o nariz no ar a matar as cornijas, as cantarias, os obeliscos, as estatuetas, brasões que aqui ou ali proliferam e olhar sem pestanejar, e tornar a olhar. As obras da cidade dos séculos XVIII, XIX e princípios do XX merecem a nossa admiração em contraponto com os mamarrachos tipo peixe-espada que têm proliferado e que aqui tenho denunciado. É preciso alguma sensibilidade, não é necessária muita, para saber distinguir estes desfasamentos e os senhores encartados que os riscam ou aprovam que assumam uma entidade ambiental. Seria um ganho para as gerações vindouras.
Onde estavas no 25 de Abril, é uma pergunta que é feita a este ou aquele político ou a "personas" sociais. Ora bem, não faço parte dessa gente com status mas aqui vai o meu contributo singelo.
Nessa madrugada estava já o coronel Carlos Azeredo vindo de Lamego a caminho do Porto com uma companhia de revolucionários e eu e dois amigalhaços estávamos a leste ali no jardim de Fernão de Magalhães, hoje Paulo Valada, num Fiat 124 a jogar uma lerpinha com música de fundo de Demis Rousses. Não era uma jogatina a feijões mas era como se fosse, uma maneira de passar o tempo.
No próprio dia senti ao vivo o desmoronar do regime. E como? Trabalhava ali a dois passos da Sede da PIDE/DGS( para os mais novos, Polícia de Investigação e Defesa do Estado/Direcção Geral de Segurança) do largo Soares dos Reis. E então vivi o cerco ao edifício por populares, o incendiamento de alguns carros dos agentes ali à beira na Rua António Granjo, a libertação de antifascistas e o aprisionamento dos PIDES que foram levados em camiões militares perante o gáudio dos populares. A coroar toda esta panóplia de acontecimentos assisto a vir à varanda do edifício, de frente para a Rua do Heroísmo, a EngªVirginia Moura, o Coronel Carlos Azeredo e o Dr. Óscar Lopes anunciar a capitulação do regime naquela altura protagonizada pela rendição daquela força política.
Sinto-me pois um privilegiado aqui e agora poder contar o que os meus próprios olhos viram!
Esta é a última hora do dia 24 de Abril de 1974. Esta deve ser uma hora de grande azáfama, de grande nervosismo. Tudo está combinado. É a hora das senhas e das contra-senhas. Não há telemóveis para confirmar tudo. Há a televisão pública, com um canal único, a RTP. Há a rádio, com a Emissora Nacional, o Rádio Clube Português e pouco mais. E há os bufos, os informadores, os suportes do sistema, os abafadores das iniciativas. E há a angústia das famílias com os seus entes queridos no exílo ou nos colabouços destinados a presos políticos. E há o mal-estar generalizado das forças armadas obrigadas a abandonar o lar materno e a ir defender o solo pátrio. E há a revolta das mães que perdem filhos na guerra, o ódio das esposas que perdem maridos nas colónias ultramarinas, a raiva de quem recebia os aerogramas. Tudo isto se acumulou num crescendo de bola de neve para eclodir daqui a pouco. Para gritar bem alto: CHEGA!
Uma das coisas que mais gosto é andar a vagabundear pelo Porto, terra de que me apropriei embora a minha residência não seja nesta cidade. Se no passado pisava diariamente as pedras da calçada como se costuma dizer devido à actividade profissional, actualmente não há também dia nenhum em que não pise solo tripeiro. Andar pelas ruas estreitas, desertas, do centro histórico desviando-me aqui e ali de “polícias” canídeos ou passar na Avenida dos Aliados, sala de visitas da urbe, é o constatar de uma cidade que corre a duas velocidades. Quando nos englobamos nas visitas que a CMP oferece aos seus munícipes, com a sabedoria de Helder Pacheco ou Júlio Couto, bebemos as transformações citadinas ao longo dos séculos e ficamos basbaques com o antes e o depois. As cidades estão numa viragem constante e aqui paro no tempo e em retrospectiva da minha vida, uma geração, noto como o Porto se transformou sobretudo nos actos sociais: - os merceeiros que tinham os marçanos que iam de pedaleira levar as compras a casa dos clientes em autenticas acrobacias velocipédicas; - os gravateiros que paravam ali junto à estação de S. Bento com toda aquela panóplia colorida pendurada à frente do peito; - os ardinas que anunciavam o jornal e o crime de faca e alguidar que tinha acontecido no dia anterior; - a bateria de engraxadores que existia na Rua Sampaio Bruno, a da imagem. Havia outra das minhas memórias na Rua de Santa Catarina; Ainda tenho no ouvido aquela chiadeira que o pano de flanela fazia quando o graxa o passava em cima dos sapatos; - os carrejões, havia mais carrejonas, que levavam as malas ou outras mercadorias à cabeça. Fui um dos utentes destes serviços como já referi numa crónica; - a madrugadora vendedeira do leite ao domicílio com os típicos canados; - o castanheiro, com o aspecto rude que vinha lá do interior da terra da castanha, apregoava e vendia-as cozidas que transportava num saco de serapilheira a tiracolo, “quentes e boas!”; - a senhora que vendia em Santa Catarina rebuçados “são da Régua”; - E para finalizar em beleza, aquelas senhoras que vendiam raminhos de violeta tentando a sua sorte em frente à igreja dos Congregados num “markting” apurado seduziam os jovens na compra para oferta às namoradas.
Estas são algumas memórias de um tempo. Fiquem bem, antonio
PS: Ah, refiro também os amola-tesouras que ainda há por aí. Anunciavam-se com o xilofone característico e segundo a lenda era sinal de chuva quando apareciam. Na verdade também afiavam as facas. Sim, porque afiações de lápis, passe o eufemismo, havia mais no centro histórico, mas até aí com a desertificação nada já é como dantes. Deixando este trocadilho brejeiro recordo um amola-tesouras que parava junto à porta norte do Mercado do Bolhão. Tinha uma motorizada onde idealizou em engenhosa geringonça montando uma roda de esmeril e uma polie ligada ao motor da bicla. O antigo esforço de dar ao pedal era agora substituído por tecnologia de ponta!...
As pessoas no passado tinham hábitos mais localizados como ir sempre à mesma mercearia, até porque havia o livro dos fiados, ou comprar o jornal na esquina. Havia pois uma interacção de boas relações que criavam uma certa amizade – o homem do balcão tratava pelo nome os clientes que lhe entravam pela porta dentro, e vice-versa. Nos negócios o aperto de mão fazia de escritura. Com o Portugal das globalizações esse relacionamento tem-se vindo a alterar embora em alguns nichos se vá mantendo.
Fazer a barba é um acto caseiro mas para o corte das repas tenho de ir ao barbeiro. Cabeleireiro seria o termo certo, mas denota status a que não me quero associar. Sei que há por aí umas maquinetas de corte de cabelo mas não entrei nessa. O meu barbeiro já o é há algumas décadas, lá fui mas antes dei uma olhadela, mas não entrei, ao Café Corsário que fica lá perto, local que frequentei quando andava na E.M.P.Porto. Saudades daquele tempo quando o JN custava 1$50, era lido, não comprado, de mão em mão. Tenho para mim que as barbearias ainda continuam a ser locais barómetros da sociedade fazendo concorrência com as carreiras dos STCP. O que se passa de mais mafioso a nível político é ali esmiuçado desde os políticos que olham pela vidinha fazendo tudo dentro da legalidade pois claro, até aquela malandrada que anda por aí a mamar o rendimento mínimo, agora tem outro nome mas não interessa, com bom corpo para vergar o fio. Não está certo que sejamos nós, os que trabalham a pagar para essa corja de parasitas, dizia o meu barbeiro com algum saudosismo do Dr. António Salazar.
Concordando ou não com estas atoardas ficamos expectantes e com uma certeza que algo vai mal no Portugal pós 25 de Abril.